Nunca foi tão fácil saber o que as pessoas são, como agora. A intimidade das ideias que possuem aflora facilmente em postagens que saltam nas telas. Computadores e celulares apostos para mostrar como somos sábios, ignorantes e até espertinhos, em alguns casos.
Observe, digno leitor, como alguns seres humanos reagem em relação às notícias. Informações protocolares sobre decisões do governo são assunto de desabafos e desacordos. Ser contra ou ser a favor é atividade exercida a todo momento, independentemente de ser o assunto pertinente ou não.
Quando falo pertinente significa que o assunto deve, no mínimo, ser importante para as decisões que a pessoa vai tomar. Deve ser um assunto ao estilo “vai modificar minha vida”. Nem sempre é assim.
Parece estar nas células humanas o desejo de meter-se em assuntos alheios, mesmo que isso cause o assassinato da atenção merecida sobre os próprios assuntos. Dito de outro modo, como só temos um cérebro para pensar, e como o cérebro consegue pensar bem apenas um assunto de cada vez, toda vez que ficamos ocupados em pensar sobre a vida alheia, perdemos precioso esforço e tempo que poderia ser usado para pensar sobre nós mesmos e nossa vida.
Não se ofenda, você, provavelmente, não é assim. Eu sou assim, em alguma medida. Quer prova? Até agora refleti, aqui, sobre como as pessoas são. Quer prova maior do fato de que estou atento ao alheio? Bem, isso não é uma confissão de culpa, já que culpa não há. É só um momento de sinceridade para pensar melhor no assunto.
A ideia de culpa atrapalha mais do que ajuda, por isso afirmei acima que culpa não há. Ao invés de culpar é melhor procurar entender a causas desse fenômeno curioso do ser humano.
É possível que queiramos saber sobre o que os outros fazem por causa de certo instinto de defesa. Ora, por muitos milhares de anos pessoas tiveram que se defender de ataques de feras e, principalmente, de outras pessoas. Lanças, flechas, adagas e espadas mataram milhões. Hoje há, também, armas mais sofisticadas: os conchavos, os subornos, e leis legitimamente votadas para serem cumpridas por todos, mas ilegitimamente defensoras de interesses nem sempre voltados para o bem comum.
O amor por si mesmo, ou instinto de proteção, pode estar causando o furor com que vemos pessoas se posicionando a favor ou contra aquilo que os dirigentes fazem. Leis, normas e determinações oriundas do poder político são vistas por alguns como ameaça ao seu bem-estar pessoal. Para outros, essas mesmas leis podem estar sendo vistas de modo contrário. Em alguns casos o apoio dado ao governante pode estar ligado simplesmente à inveja. Inveja no sentido de querer estar a salvo por meio da sensação de alívio em ver que outros estão indo mal.
Essas coisas são ruins, claro, mas normais na sociedade, pois esta é fundada na competição. Compete-se por quase tudo: melhor nota em sala de aula, melhor emprego, mais dinheiro, mais popularidade, ser mais “curtido” nas redes sociais. Muita competição.
O problema de olhar apenas para seu próprio mundo e querer que o resto se adapte a ele é que as coisas podem piorar.
Quando alguém vota em projetos políticos e econômicos olhando apenas o próprio lado, corre o risco de prejudicar a todos, inclusive a ele próprio. Na democracia vale a opinião da maioria, mas se a maioria é composta por um número grande de cidadãos incapazes de olhar além de si mesmo, o risco de as coisas darem erradas é grande. Isso porque, nesses casos, a lábia e o marketing político são muito eficazes em ludibriar, fazendo passar projetos de interesse de alguns poucos como se fossem bons para todos.
Talvez seja melhor parar de olhar apenas o próprio lado e começar a pensar no Bem Comum. Para isso, basta perguntar-se “como posso estar bem em uma sociedade que vai cada vez pior?”