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A ajuda do inimigo; artigo do professor Ivanor Luiz Guarnieri

O inimigo é sempre criado pelo julgamento que dele fazemos. Esse julgamento depende de inúmeras causas. A causa principal que cria inimigos é o perigo (real ou imaginário) que este representa contra a vida. O instinto de sobrevivência existe em todos os animais, pois nenhum que esteja vivo e saudável se decide a entregar a vida em favor de um predador. O homem, como os outros animais, está sempre correndo, ou para fugir de se tornar a presa de alguém ou para fazer de alguém seu subordinado.

Como sempre, quando se trata de ser humano as coisas são bem mais amplas. A disputa que cada um realiza para ter mais espaço social implica entrar em choque com interesses alheios à sua vontade. Por isso, todo ano e o ano todo, alunos perspicazes já perceberam que precisam se aprimorar para disputar as melhores vagas nas universidades ou no trabalho. Isso implica enfrentar a concorrência de outros.

O mercado de oportunidades se amplia constantemente, isso é bom. Não tão bom é perceber que o número de pessoas que precisam de vagas de estudo e de trabalho também cresce, só que numa proporção muito maior do que o número de oportunidades. Isso se deve a dois fatores: a utilização de máquinas e a falta de espaço profissional. Dizer que emprego tem, o que falta é gente qualificada é apenas uma frase de efeito. A qualificação está cada vez mais exigente e boa parte das pessoas estão impedidas de se aperfeiçoar.

Impedimento é um termo muito forte, vamos suavizar a expressão. As pessoas estão com muitas dificuldades para se aperfeiçoar. Quem observar as condições de vida e estudo nas quais estão submetidas imensas parcelas dos filhos dos pobres compreenderá melhor o que quero dizer. Aliás, eu não. Quem diz isso são os sociólogos Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron em “Os herdeiros: os estudantes e a cultura”. Este livro apresenta as conclusões de pesquisa desenvolvida por eles sobre as chances de ingresso e permanência no ensino superior francês, nos anos 1960. Em geral, os filhos dos pobres tinham, em média, 3 a 5% de possibilidade de conseguir ingressar na universidade francesa e nela permanecer. Os filhos de famílias parisienses estruturadas tinham em torno de 80% de sucesso na carreira acadêmica.

Reclamar dos ricos e das próprias condições de existência não resolve. Para usar uma expressão tipicamente hollywoodiana ‘ninguém liga’. Ou, para usar uma frase de novela da Globo, dizer ‘ai como sofro’, também não resolve, ninguém dá a mínima.

Isso é cruel? Nem tanto. Imagine a caminhada da vida como um jogo do qual não sabemos exatamente quais são as regras. Podemos, no entanto, observar algumas leis. Nesse jogo, convém estar atento para selecionar os melhores jogadores do seu time. Isso significa estar mais próximo dos que querem correr para o mesmo lado. Que estão dispostos a ceder a bola para você também jogar, desde que você faça o mesmo por eles nas ocasiões certas. Uma regra bem útil é evitar ver os adversários como inimigos, mas sim como pessoas iguais a você que lutam também pela vida. Quando olhar para os concorrentes observe o que eles fazem de interessante e aprenda com eles. Com sorte, em pouco tempo seu espírito (inteligência) estará mais preocupado em superar as boas qualidades dos oponentes do que desejando que eles se deem mal. Esse desejo leva ao aperfeiçoamento do foco, tanto para o estudo quanto para o trabalho.

Prof. Dr. Ivanor Luiz Guarnieri (UNIR)

Desconfiar de si mesmo é atitude bem interessante para quem almeja progredir. Sempre que ouvimos uma opinião contrária à nossa julgamos que a pessoa se equivocou. Se formos mal-educados usaremos qualificativos pouco elegantes para definir aqueles que pensam diferente de nós. Vexame é quando a arrogância de apontar o dedo contra os erros alheios é desmascarada pela descoberta de que o errado era o dono do dedo.

Quem procura aprender sempre, inclusive com supostos inimigos, encontra uma maneira de usar a força dos adversários em proveito próprio. Isso é um bem para si e para a sociedade.




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