Ex-aliado do PT foi algoz de Dilma e um dos principais incentivadores da queda da esquerda. Petista já prometeu vingança
O ex-presidente da República Michel Temer (MDB) ajudou o atual ocupante do cargo, Jair Bolsonaro (sem partido), porque tem medo de sofrer retaliações da esquerda, caso Lula (PT) ganhe a eleição do próximo ano e volte ao poder.
Temer não tem motivos para gostar de Bolsonaro. Afeito aos ritos institucionais, Temer já estendeu a mão ao sucessor em outras confusões parecidas com a atual, para arrumar bagunças causadas pelo próprio Bolsonaro com os outros Poderes. Em uma delas, recebeu uma cuspida na palma como resposta.
Quando Temer foi preso, Bolsonaro “tripudiou”. Disse que “cada um responde por seus atos” e que “cada um está fazendo por merecer”. Quase rindo, Bolsonaro afirmou que a causa da prisão do antecessor foi “aquela velha história de Executivo muito afinado com o Legislativo, onde [sic] a governabilidade vem em troca de cargos”.
Já Lula, Temer tem razões para amar. Teve a benção do petista nas duas vezes em que entrou na chapa presidencial de Dilma Rousseff. O amor acabou quando, de dentro do governo Dilma, Temer ajudou a derrubá-lo.
Temer foi um vice que impulsionou a derrocada de “sua titular”, como é frequente entre prefeitos e vices de pequenas cidades interioranas. Ele foi um dos mais ferrenhos críticos e acusadores da presidente no processo de impeachment.
Em seu governo, fechou todos os espaços aos petistas e reabriu as portas para PSDB, DEM, PPS (atual Cidadania) e outros considerados páreas nas gestões de Lula e de Dilma.
Lula, por sua vez, prometeu desmascarar o ex-juiz Sergio Moro e procurador da República Deltan Dallagnol, o que já fez de certa forma. Mas também marcou os políticos que incentivaram sua prisão e a queda de Dilma.
Temer teme essa vingança. Apesar de crítico da prisão de Lula e da Lava Jato, da qual se diz uma vítima, assim como o petista, Temer sabe que a chance de sofrer uma retaliação, caso Lula vença em 2022, é muito grande. É por isso que ele ajuda Bolsonaro, apesar de considera-lo indigno da Presidência da República.
Por Matheus Leitão da Veja