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Origem de Porto Velho; artigo do historiador Emmanoel Gomes

[pullquote align=”right”]“Quem te vê assim Porto das Esperanças. O barranco onde os cabrais enfincam âncoras em busca de uma história de alamedas e vãos. Parque das mangueiras e dos araçás aprendi na canção. E colhi teus sinais sobre a dança das correntezas.”
/Porto das Esperanças/
– Bado[/pullquote]

[dropcap]V[/dropcap]amos refletir sobre a história de Porto Velho, iniciando pelo nome dessa cidade com trajetória histórica ímpar, e, de imediato, gostaria de contestar a informação de que o nome de nossa capital tenha origem em função da figura de “um certo Senhor Pimentel”.

Essa afirmação não tem qualquer sustentação histórica, inclusive, alguns “historiadores” ainda cometem o absurdo de afirmar que a figura do “Velho Pimentel” é lendária. Muitos seringueiros caçadores, comerciantes, pescadores, com nomes de Raimundo, João e Severino se instalaram nas margens do madeira na localidade que viria a ser um dia a capital do nosso Estado, se houve um Pimentel, com certeza ele teria vários vizinhos com importância na ocupação da localidade.

Mapa de Porto Velho capital do estado de Rondônia
Mapa de Porto Velho capital do estado de Rondônia

As lendas e mitos se originam numa manifestação profundamente séria, nos arquétipos construídos pelas experiências populares, ao longo do tempo nas sociedades. Devemos respeitar profundamente as lendas e os mitos. Não criamos lendas e mitos quando queremos, afirmar que a história do velho Pimentel é uma lenda é desvalorizar todas as lendas existentes, pois sua “história” é carente dos elementos característicos nos mitos e lendas.

As lendas são marcadas pela presença de elementos viscerais, absurdos, sobrenaturais e fantásticos. São um capítulo fundamental na rica cultura amazônica.

Vista panorâmica de Porto Velho, início da década de 50. A rua ao centro é a Avenida Sete de Setembro. Atual centro comercial de Porto Velho/RO
Vista panorâmica de Porto Velho, início da década de 50. A rua ao centro é a Avenida Sete de Setembro. Atual centro comercial de Porto Velho/RO

O nome da capital do Estado de Rondônia, Porto Velho, está relacionado com a Guerra do Paraguai ocorrida entre os anos de 1864 e 1870.

O conflito ocorreu durante a segunda metade do século XIX, ainda no II Reinado, quando esta jovem nação estava organizava politicamente através de uma Monarquia e tinha como imperador Dom Pedro II, que governou o Brasil entre os anos de 1840-1889.

A Guerra do Paraguai envolveu além do Brasil, o Uruguai e a Argentina, com o apoio da maior economia da época, a Inglaterra. Do outro lado, o Paraguai, que após seis anos de luta acabou sendo completamente arrasado.

Os motivos que levaram à eclosão da guerra foram o interesse brasileiro pela livre navegação do Rio Paraguai, que acabou impondo uma aliança com o Uruguai e a Argentina. A Inglaterra que possuía interesses imperialistas na região.

Por último, o Paraguai, que ambicionava ver suas fronteiras ampliadas tomando posse de parte do território brasileiro localizado no centro oeste, no Mato Grosso.

Foi nesse contexto de conflito armado que surgiu o nome daquele que, mais tarde, se tornaria Porto Velho, município do Estado do Amazonas em 1914. Um pouco depois Porto Velho Capital do Território Federal do Guaporé em 1943. Mais tarde muda para capital do Território Federal de Rondônia em 1956 e em 1981 com promulgação em 1982, capital do Estado de Rondônia, hoje nossa cidade.

Panorama chuvoso e noturno da cidade de Porto Velho
Panorama chuvoso e noturno da cidade de Porto Velho

Com uma conjuntura que apontava para o conflito armado, Dom Pedro II e o comando militar, ficaram preocupados com a fragilidade das fronteiras no extremo oeste do Brasil. Essa preocupação levou à decisão de proteger a região, instalando um contingente militar próximo sete quilômetros da primeira cachoeira a montante do rio Madeira, na vila de Santo Antônio. Localidade pertencente à Província do Mato Grosso, com sua origem ligada ainda ao período colonial fundada por um jesuíta chamado João Sampayo, no ano de 1728.

O contingente militar se instalou no ano de 1865 para corresponder aos interesses militares belicosos da época.

Os militares, na guerra do Paraguai, abriram uma clareira e montaram acampamento na margem direita do Rio Madeira.

Localidade onde em 1865 os militares abriram a clareira e montaram o acampamento que deu origem a cidade de Porto Velho
Localidade onde em 1865 os militares abriram a clareira e montaram o acampamento que deu origem à cidade de Porto Velho

A margem esquerda do rio, nesta época, pertencia à Bolívia. Um pouco mais tarde, com a assinatura do Tratado de Ayacucho em 1867, a margem esquerda do Madeira, entre Vila Murtinho, atual Vila Nova do Mamoré, e a localidade de Calama, passou a compor o território brasileiro.

Os militares ali instalados, onde se localizam hoje os barracões do ponto inicial da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, permaneceram até o final da guerra, em 1870.

Com o fim da ameaça, da guerra não havia mais necessidade de sua permanência, logo, se retiraram.

Os seringueiros, caucheiros e caçadores, passaram a chamar a localidade de Ponto Velho dos Militares, mais tarde, Porto Velho dos Militares.

Essa é a verdadeira origem do nome da capital do Estado de Rondônia. Se depois disso apareceu alguma pessoa com o nome de Pimentel, não importa, pois o nome já estava definido.

A cidade se desenvolveu em um ritmo lento, seguindo a marcha mansa das águas dos grandes rios amazônicos, acompanhando a locomotiva da impressionante ferrovia.

A história segue seu curso, e, do sopro iniciado pela construção da ferrovia, veio então um povoado. Em função da grande estrutura montada para atender às necessidades da ferrovia o povoado cresceu e aquela pequena localidade foi promovida pelo Governo do Amazonas a município com a Lei n° 752, de dois de outubro de 1914.

Segundo afirma Esron Penha de Menezes, em sua obra “Retalhos Para a História de Rondônia”, página 45.

Panorama de Porto Velho em meados do século XX
Panorama de Porto Velho em meados do século XX

Emmanoel-Gomes-Artigos

“Excluída a área que pertencia à Estrada de Ferro Madeira Mamoré, a povoação de Porto Velho se aprofundava na atual Presidente Dutra, que anteriormente se chamava Avenida Divisória, até o “Sítio do Espanhol”, cortado por um igarapé, situado onde foi o Horto Municipal, área limitada hoje pela Rua Afonso Pena e Avenida Sete de Setembro, Rua Gonçalves Dias e Avenida Campos Sales. No sentido norte sul, limitava-se pela atual Avenida Almirante Barroso, pela margem esquerda do igarapé das lavadeiras e pela Rua José do Patrocínio”.

Os primeiros bairros de Porto Velho foram Alto do Bode, assim chamado pelos nordestinos que, por não entenderem a língua Inglesa comumente falada na época, afirmavam que os moradores daquela localidade “bodejavam”, pura ignorância.

Baixa da União era outro bairro que mais tarde se desenvolveu próximo à ferrovia, surgiram outras localidades, como a Favela, Arigolândia e Mocambo.

Com a crise atingindo os seringais a nova cidade foi sobrevivendo pacatamente.

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