Com a deflagração da Segunda Grande Guerra 1939-1945, o Brasil foi obrigado a definir sua posição e Getúlio Vargas, estava em uma situação complicada, pois a América Latina, desde a segunda metade do século XIX, havia se tornado uma espécie de “quintal dos Estados Unidos da América”, pois as políticas americanas na América Latina foram intensas, como: a Doutrina Monroe, “A América Para os americanos”, e Política do Big-Sthick, “O Grande Porrete”.
Getúlio foi coerente com a história e apoiou os Aliados, porém esse apoio se deu após muito diálogo, ocorrendo inclusive à aprovação de um importante acordo, Os Acordos de Washington em 1942.
A Amazônia e em especial a nossa região receberam importante impulso neste período da Era Vargas e Segunda Guerra Mundial, Porto Velho era uma cidade do Estado do Amazonas, havia se desmembrado do Município de Humaitá, isso como nós já vimos ocorreu em 1914. Ocorre que no inicio da guerra, o Japão que estava apoiando os Alemães e Italianos, resolveu invadir a Malásia, possessão Inglesa localizada no sudeste Asiático e grande fornecedor de borracha para as indústrias mundiais. Devemos lembrar que a Amazônia vivia a decadência de seus seringais, e agora com este problema os Aliados precisavam urgentemente de um fornecedor, assim surgiu os Acordos de Washington.
Getúlio em conjunto com os Estados Unidos, acordou o seguinte: O Brasil forneceria toda a borracha necessária aos Aliados, permitiria que os Estados Unidos instalassem bases militares no Nordeste Brasileiro, que serviriam de apoio para as suas forças militares, em troca o Brasil receberia investimentos financeiros para montagem de uma grande infra-estrutura industrial.
Foi assim que surgiram, a Companhia Siderúrgica Nacional-CSN, situada em Volta Redonda cidade do Estado do Rio de Janeiro, hoje em dia é uma das maiores produtoras de aço do mundo, a Companhia Vale do Rio Doce, uma das maiores mineradoras do mundo e a extinta Fábrica Nacional de Motores-FNM.
Nós podemos afirmar com muita tranquilidade, que o desenvolvimento Industrial Brasileiro deve muito ao trabalho dos Soldados da Borracha nos seringais amazônicos, tanto o sudeste quanto o sul do Brasil, hoje ricos e industrializados devem muito ao pobre soldado da borracha, não tenham dúvidas que parte significativa da riqueza existentes nestas regiões foram produzidas por esse personagem que tanto dignifica a Amazônia e o Brasil. Podemos afirmar também, que o papel mais importante desenvolvido pelo Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, ao contrário do que muitos historiadores do Nordeste, Sudeste e Sul afirmam, foi desempenhado na Amazônia e não nos campos de batalhas italianos, foi a luta nas selvas para a extração da borracha, onde milhares de nordestinos enfrentando a malária, isolamento geográfico, o calor escaldante da maior floresta tropical do mundo e suas feras, muitos vieram a falecer sem o devido reconhecimento.
Muitos intelectuais, quando falam do Brasil na Segunda Guerra Mundial, viram os olhos para a Europa e só enxergam os brasileiros que foram parar na Itália, é claro que os Pracinhas Brasileiros merecem todo o nosso respeito, porém poucos reconhecem a bravura, heroísmo e importância do Soldado da Borracha.
O Governo Federal, na época, veio a Amazônia, através da visita do Presidente Getúlio Vargas à Belém, Manaus e Porto Velho. Infelizmente, após o fim da guerra e a nova crise dos seringais, não foi reconhecido o trabalho e importância dos pobres Soldados da Borracha, que muitas vezes para conseguirem suas aposentadorias tiveram que se humilhar junto ao INPS, (Instituto Nacional de Previdência Social). Milhares de Soldados da Borracha não conseguiram se aposentar ficando na rua da amargura, desfigurados, desprezados e solitários, o passado de glória ficou somente na triste lembrança em tempos que não voltaram mais, a demagogia política, o descaso administrativo transformou esse personagem outrora orgulhoso de sua importante missão, em um ser amargo e sem esperanças, os bravos soldados que combateram com a força de seus braços, suor, patriotismo e caráter, nas profundezas das selvas amazônicas, viram os ideais de justiça e liberdade perderem-se e sua pátria negar-lhes a retribuição necessária e devida.
O Governo Vargas na intenção de corresponder ao acerto feito através dos Acordos de Washington criou o Serviço de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia – SEMTA, que recrutava os nordestinos em sua região promovendo sua mudança para a Amazônia, criou também a Comissão Administrativa de Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia – CAETA, que cuidava da burocracia em relação à transferência dos Soldados da Borracha, o Banco da Borracha, hoje Banco da Amazônia S.A. que financiava a economia da borracha. O seu primeiro gerente em Porto Velho foi o Sr. Raimundo Cantuária.
Ainda tivemos o Serviço de Abastecimento do Vale Amazônico – SAVA, que se preocupou em montar toda a infra-estrutura regional oferecendo as condições para a viabilização da produção e seu escoamento na região.
A Amazônia, novamente ganhou importância e volta ao cenário Nacional e Internacional. Dentro dos planos Governamentais, serão criados cinco novos Territórios Federais: O Território Federal do Amapá, do Rio Branco, de Ponta Porã, do Iguaçu e finalmente o Território Federal do Guaporé, em 13 de Setembro de 1943.
O Território Federal do Guaporé, segundo o Pesquisador Esrom Penha de Menezes, em sua obra “Retalhos Para a História de Rondônia”, na página 153, nos informa:
“O Território Federal do Guaporé será dividido em quatro municípios, com as denominações de Lábrea, Porto Velho, Alto Madeira e Guajará Mirim; o primeiro compreenderá parte dos Municípios de Lábrea e Canutama, do Estado do Amazonas; o segundo, a área do município de Porto Velho, que pertencia ao mesmo Estado; o terceiro, parte do Município do Alto Madeira, do Estado do Mato Grosso; o quarto, a área do Município de Guajará Mirim e parte do Município de Mato Grosso, que pertenciam ao último Estado acima referido”.
Um ano depois, o Estado do Amazonas recebeu de volta o Município de Lábrea.
Depois de criado o novo território, foi nomeado seu primeiro Governante, o Coronel Aluísio Pinheiro Ferreira.
A criação do Território Federal do Guaporé foi um passo fundamental para o desenvolvimento de toda a região do Madeira, Mamoré, Guaporé e Machado, pois com essa decisão a região passou a ter mais espaço junto ao Governo Federal e suas reivindicações começariam a ser ouvidas sem atravessadores ou qualquer intermediador.
As cidades que compunham o novo Território festejaram a notícia, pois em meio a tantas dificuldades, sacrifícios e abandono político a região ganhava um grande alento.
Na ocasião foi nomeado o Prefeito do município de Porto Velho que se tornou também a capital do novo território. Foi empossado o ex-ferroviário, Mário Monteiro. A cidade possuía mais ou menos três mil habitantes na época, e a economia girava em torno da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e da produção da borracha, pois com a Segunda Guerra Mundial, como já afirmamos, a borracha voltou ter importância, agitando economicamente a região.
Com o término da guerra em 1945, os Países que compunham o eixo Nazi-Fascista, foram derrotados, os Aliados saíram vitoriosos, e uma nova Ordem Mundial surgiu.
A verdade é que de alguma forma a chamada Guerra Fria atingiu a todas as nações entre 1948, ano em que foi criado o Estado de Israel e 1989, quando ocorreu a queda do Muro de Berlim.
O Brasil logo após a II Guerra Mundial se organizou através de uma democracia Populista, o que ficou conhecido como: República Populista 1945 – 1964. Esse será o nosso próximo assunto.
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