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Jovem rondoniense cria filtro com sementes de açaí e garrafa pet: ‘não nos falta água, falta o tratamento’

Rondoniense concorre na categoria cientista/pesquisador no Prêmio Razões Para Acreditar. — Foto: Divulgação

Cada unidade do filtro custa aproximadamente R$ 30. Quase um milhão de rondonienses vivem em áreas que não possuem acesso a água tratada, segundo Instituto Trata Brasil.

O pesquisador rondoniense, Ygor Requenha, de 24 anos, criou um filtro que promete resolver dois problemas muito comuns na região: desperdício e a falta de água potável. A ferramenta é criada a partir de sementes de açaí e busca atender principalmente as comunidades ribeirinhas que não têm acesso à água tratada e encanada.

O ponto de partida para o projeto aconteceu em 2016, quando Ygor participava de um grupo de trabalho voluntário com crianças acolhidas.

“Me chamava muita atenção os casos de mortalidade infantil causados por água contaminada. Então a partir disso eu pensei: ‘essa é uma problemática que me envolve e eu gostaria de ajudar'”, lembra.

Com o olhar voltado à sociedade onde vive, o pesquisador percebeu que poderia utilizar as sementes de açaí que são descartadas após a produção da polpa e utilizar na produção de filtros para água.

“Eu pensei o seguinte: nós temos aqui o material [açaí] que é abundante e que tem um grande potencial. Por que não usar para resolver um outro problema? Nós queremos água também em abundância, mas normalmente ela não está em condições adequadas para o consumo”, comenta.

Filtro criado por rondoniense com semente de açaí — Foto: Gustavo Luz/Rede Amazônica

O filtro passou por um período de testes e agora deve ser distribuído. O objetivo inicial do estudante é enviar algumas unidades para as comunidades ribeirinhas de Porto Velho. Cada unidade tem um custo aproximado de R$ 30 reais.

“Eu percebi que através da ciência eu conseguia fazer algo que ultrapassava minha capacidade física de ajudar aquelas pessoas e, mesmo que eu não estivesse ali presente, através da ciência eu conseguiria auxiliar”, diz.

Como funciona o filtro?

O filtro é formado por três peças: uma cilíndrica de cano que fica no meio da estrutura e mais duas peças com roscas nas duas extremidades, construídas em uma impressora 3D. O vídeo abaixo mostra como montar o filtro:

  1. Em uma das extremidades, rosqueie uma garrafa pet com a água que se deseja filtrar,
  2. No meio do filtro coloque o carvão ativado à base de semente de açaí,
  3. Na outra extremidade, outra garrafa pet vazia também deve ser rosqueada,
  4. Ao virar a garrafa cheia para preencher a outra, a água passa pelas partículas de carvão ativadas e é filtrada.

O carvão tem o tempo útil de aproximadamente seis meses. Depois desse período ele pode ser trocado para que o trabalho de filtração continue da forma correta.

Quem é o criador do projeto?

Ygor é estudante de engenharia das energias, na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e o filtro não é o primeiro projeto que ele desenvolveu. Quando ainda tinha 18 anos, o estudante criou uma máquina de tratamento de água que funciona com energia solar e elétrica.

O equipamento foi premiado na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia da Universidade de São Paulo (Febrace). Agora Ygor concorre ao prêmio nacional Razões Para Acreditar, na categoria pesquisador (a), com a criação do filtro com sementes de açaí e garrafa pet.

Quase 1 milhão de rondonienses sem água tratada

De acordo com o último estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil, em agosto de 2021, cerca de 960 mil moradores de Rondônia vivem em áreas que não possuem acesso à água potável. O estudo revela ainda que 94% da população não tem acesso a serviços de coleta e tratamento de esgotos.

“É irônico porque a gente tem a maior bacia hidrográfica do mundo e as pessoas bebem água contaminada. Então aqui não nos falta água, falta o tratamento”, comenta Ygor.

Em outro estudo divulgado pelo Instituto Trata Brasil em junho, Porto Velho, a capital do terceiro maior estado da região Norte, apresenta o pior índice de perdas na distribuição de água entre as 100 maiores cidades do país.

Por Jaíne Quele Cruz e André Oliveira, g1 RO e Rede Amazônica





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