Este Jornal, Rondônia em Pauta, publicou matéria dizendo que o Ensino Médio não é atraente para os jovens. Esta afirmação é tirada de pesquisa divulgada pela Confederação Nacional dos Transportes, no dia 19 de outubro.
No horizonte de expectativa das pessoas, o estudo pode não estar colocado. Há necessidades primárias a serem satisfeitas, e muitos jovens certamente pouco percebem o quanto o estudo pode dar-lhes uma condição de vida melhor. Razões para pensar assim existem e são muitas. Alguns aspectos psicológicos e de interesse, ligados ao tipo de sociedade que temos merecem ser considerados. Sabemos que a necessidade é a mãe de todas as atitudes, e a necessidade de dinheiro é notória em uma sociedade como a nossa, que se move por ele. Nesse sentido, a impressão que se tem é que homens de sucesso nem sempre estudaram. Atrizes glamorosas, atores, jogadores, políticos, empresários, entre tantos outros, concedem entrevistas nas quais aparecem como gente de sucesso. Nem sempre, porém, é mostrado o quanto se esforçaram para isso, e, principalmente, se tiveram que estudar para desempenhar papéis na TV, ou para dirigir empresas. Como nossa sociedade valoriza o dinheiro mais que qualquer coisa, pessoas ricas e incultas são um desestímulo ao estudo.
Alguém diria que nossa sociedade tem valores maiores do que simplesmente acumular riqueza. Outros diriam até que somos todos iguais. Mas, se de repente aparecesse o Bill Gates diante de alguns, quero ver se o fato de ele ser riquíssimo não conta. Aliás, nesse caso, só isso conta.
Se para ganhar dinheiro, aparentemente não precisa de estudo, por que o sacrifício de horas sobre livros, em salas de aula e similares? Não é o conteúdo ensinado que precisa ser atraente, mas sim duas coisas: primeira, se aquilo que se ensina e aprende, nas escolas, ajuda a melhorar de vida; segunda, o modo como é ensinado. Sobre o ponto 1, claro que ajuda, mas isso nem sempre é percebido, pois demora muito até se colher os resultados do esforço contínuo dos anos de estudo.
Se a percepção que o jovem tem do mundo dos estudos for aquela que descrevi acima, é claro que o Ensino Médio não é atraente. Por outro lado, se o Ensino Médio não é o que boa parte dos alunos gostariam, muitos alunos também não são aqueles desejados para o aprender nas escolas. Dizer isso, pode parecer duro e cruel, mas não se apoquente, estimado leitor, veja por outro ângulo a questão.
Nenhum país que se preze despreza cérebros como nós fazemos. Nossos alunos possuem, todos, massa cerebral capaz de produzir frutos. Por que não o fazem? Arrisco, aqui, alguns pontos de observação. Primeiro, que a atração pelos estudos nunca será maior do que a atração por diversão. Basta ficar sem ter compromissos para o ser humano ficar contente. Na maioria das vezes, só o fato de estar longe da sala de aula já é um alívio. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) dizia, na obra “Emílio: ou da educação”, que a aula é o momento em que tanto o professor quanto o aluno estão ansiosos para se verem livres um do outro. Assim, o estudar é para muitos apenas sacrifício inútil, se não houver algo que motive para ele. Como a oferta de lazer e diversão é cada vez maior, a escola teria que competir com X-Box, TV, Cinema, Celulares com joguinhos infindos, não é tarefa fácil, pois a preparação pessoal exige certo trabalho.
A escola não deve entrar no jogo de competição com o lazer; isso é quase suicídio. Ora, o ensino das ciências deve ser feito, senão corremos o risco de jogar uma geração toda na ignorância do que realmente interessa, e esse ensino não pode ser colocado no mesmo nível da diversão. Escola é escola, lazer é lazer. Que o ensino seja suave e agradável, os japoneses já nos ensinam desde o fim da Segunda Grande Guerra, como o “Amairu”, a bela forma de ensino pela “suave dependência”. O ensino agradável é o que se deseja, mas sem prejuízo da formação do aluno. O risco de confundir ensino com atração aos jovens é dar ênfase a coisas que não formam, deformam pela simples perda de tempo.
O que vai atrair os jovens para o Ensino Médio é o sentido que o estudo tiver para eles, e se for ofertado com a qualidade desejada. Se reconhecerem a importância do estudar, nada mais os afastará dos livros e da escola. Se não sentirem a necessidade do estudo, acharão que ele é perda de tempo e esforço inútil e, assim, nada os convencerá a serem atraídos pela educação formal.