Assistimos várias movimentações que ocorreram contra a corrupção, nos anos de 2011, 12, 13, 14. O Brasil é dos brasileiros, mas nem tanto. Todo mundo lembra das pessoas que saiam às ruas para protestar. Milhares, em todo país; em algumas manifestações mais de um milhão. Muita gente boa, indignada, muito indignada.
Os políticos profissionais tentavam de todo modo entender o que se passava (como se eles não soubessem) e, principalmente, cooptar o movimento para seu lado. Havia o Movimento Brasil Contra a Corrupção, Movimento Brasil Livre e outros. A televisão brasileira mostrava tudo (minto, a TV nunca mostra tudo, só o que importa mostrar). Os analistas políticos das emissoras de rádio e TV opinavam, alguns esbravejam, mas, muitas vezes, só repetiam o que as imagens já mostraram.
Foram os anos mais interessantes do ponto de vista da mobilização popular, nesse período inicial do jovem século XXI brasileiro. E os políticos, repito, doidos para tirar partido da situação.
Os políticos não conseguiam se aproximar da voz das ruas (para tirar proveito como disse acima) simplesmente porque os manifestantes diziam: FORA POLÍTICOS, NÃO ACEITAMOS PARTIDOS POLÍTICOS E ASSEMELHADOS SUJANDO NOSSO MOVIMENTO (queridos leitores, letra em caixa alta é grito e falta de educação, mas escrevi desse modo, aqui, para simbolizar o grito das ruas).
Então, que fizeram nosso amáveis políticos? Deram um jeito de se tornarem os protagonistas da situação. Arranjaram o impeachment. Antes que algum leitor ignorante me xingue (só os ignorantes xingam, os mais bem informados discutem), vejam se não foi assim. Como quase sempre no Brasil, havia um governo sabidamente comprometido com esquemas de corrupção, tanto que alguns de seus membros estão presos. Dizem que era o governo do PT. Sim, do PT, do PMDB, do PP e de todos os partidos que dele participavam nos ministérios e nos cargos federais nomeados. A TV deu um empurrãozinho para criar mais ódio contra a presidenta desse governo. Ódio, ódio, ódio, e… finalmente a queda do cargo. Uma das razões foi que a Presidenta Dilma deveria ser tirada do poder pelo “conjunto da obra”; outra razão, a de que o impeachment é julgamento político e isso dispensa provas mais contundentes contra o governante.
(Antes que me acusem de ser do PT, por usar o nome Presidenta, informo: “Presidenta: 1 – mulher que se elege para a presidência de um país. 2 – Mulher que exerce o cargo de presidente de uma instituição” (Dicionário Houaiss, editora Objetiva, ano 2009 p. 1546)
Mas isso não é mais importante. São águas passadas que já molharam e não vamos prantear o que se perdeu nos últimos séculos de corrupção no Brasil. Vamos sorrir para o novo governo. Só sorrir e acenar.
Voltando às manifestações, o povo-manifestante não queria nem saber de político por perto. Era uma oportunidade excelente para exigir a punição de todos os envolvidos. Nisso, óbvio, entrariam a turma do PP, PT, PMDB, PSDB, etc.; da Petrobrás (PT), ao merendão e ao metrô de São Paulo (PSDB), entre tantos outros. Mas, com o impeachment achou-se por bem acabar com o mandato da presidenta para aplacar o ódio das ruas contra os políticos e, ao mesmo tempo preservar seu vice. Na soma geral, salvaram-se quase todos. Parece que os movimentos sociais contra a corrupção se deram por satisfeitos, ou estão acalmados o suficiente para aceitar a PEC 241, atual 055.
Não vou discutir, aqui, a PEC. Os economistas estão divididos em relação a ela, e eu que não tenho formação em economia, não quero correr o risco de dizer asneiras, mais do que já faço. Acho que dá muito trabalho querer saber o suficiente para gritar que sou contra. Sou contra. Tenho coragem para dizer que sou contra, mas não para ficar gastando contrariedades por aí. A principal razão para não discutir a PEC é que ela já é fava contada. No Senado o governo já tem número de votos sobrando para aprová-la e só os absolutamente desinformados imaginam que as coisas se decidem apenas no dia da votação. Quando o governo manda um
projeto para o Congresso, já sabe quantos votos a favor ele tem para aprovar o que deseja aprovar, se não tiver esses votos, procura tirar o projeto de pauta até convencer deputados ou senadores a votar a seu favor.
A PEC está sendo, nesse momento, uma espécie de “boi de piranha”. Não gosto de expressões como esta, mas cabe bem ao que quero dizer, que é o seguinte. Enquanto os movimentos se mobilizam contra a PEC, e fazem bem em se manifestar, outros projetos mais graves estão em andamento. Claro, enquanto ficamos com os olhos presos à PEC, a imprensa nem dá notícia de outros projetos do governo. Na minha área, educação, lembro a ideia cada vez mais próxima de privatização das universidades públicas. Por enquanto só ouvimos algumas vozes afirmando a possibilidade de venda das universidades públicas, ou de algumas delas. Esse assunto sim, vale outro artigo. Aguardem.
Ah, o título pec pec pec pec imita os passos do povo brasileiro que caminha apressado, mesmo sem saber para onde.