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Acabou a desculpa: não é o metabolismo lento que te faz engordar

Pesquisa revela que a taxa de queima calórica entre 20 e 60 anos mantém-se estável. Ou seja, ela não tem influência sobre o peso nesse período da vida

Com certeza, em algum momento da vida, você já escutou que depois de uma certa idade teria que reduzir a quantidade de comida ingerida. “O metabolismo vai ficando mais lento”, é o que dizem. Ou, para adolescentes, o aviso é o oposto: “Deixa que comam porque queimam as calorias rapidinho”. São vários os conceitos sobre a melhor idade para engordar ou emagrecer compartilhados há décadas. Há, por exemplo, a desculpa clássica para quem ganha uns quilos a mais na meia idade: “nessa idade, meu metabolismo já não é mais o mesmo do que tinha aos 20 anos” ou, ainda, “não consigo emagrecer, culpa do meu metabolismo devagar que não queima mais calorias. Coisa da idade, não tem jeito”. Mas esses costumeiros pretextos de que o ganho de peso em determinada fase da vida é responsabilidade do metabolismo – conjunto de todas as reações químicas que acontecem nas células do organismo e transformam alimentos em energia – caíram por terra depois da publicação de um artigo na revista Science revelando que a queima de calorias muda sim ao longo do tempo, mas não do jeito que imaginávamos.

As conclusões apresentadas no artigo mostram que as oscilações no metabolismo estão divididas em em quatro fases: no primeiro ano de vida a queima de calorias atinge seu ápice, acelerando até ficar 50% acima da taxa de um adulto; de 1 a 20 anos, a taxa do metabolismo cai gradualmente cerca de 3% ao ano; dos 20 aos 60 anos, mantém-se estável e, após os 60 anos, diminui em torno de 0,7% ao ano. Ou seja, acabaram as desculpas para os adolescentes que comem demais acreditando que o próprio corpo vai dar conta das calorias em excesso e também para quem engorda demais na meia-idade e coloca a culpa no metabolismo. “Este estudo realmente destacou que, em média, os adultos têm taxas metabólicas semelhantes entre as idades de 20-60, mas ainda há muita variabilidade individual entre as pessoas. Com certeza, alimentação saudável e exercício física são os pilares da manutenção de peso saudável e este estudo não descarta nada disso”, disse Peter T. Katzmarzyk, diretor executivo associado para População e Ciências da Saúde Pública do Centro de Pesquisa Biomédica de Pennington, à VEJA. “Para atingir seus objetivos de perda de peso, limite a ingestão de calorias e pratique atividades físicas.”

De acordo com a pesquisa, o gasto energético diário total acelera rapidamente em recém-nascidos, e chega a ser o dobro do valor médio dos adultos. Mas, após um ano de vida, ele cai até chegar a níveis que, entre os 20 e os 60 anos, permanecem estáveis. Depois dessa idade, começa a diminuir até atingir graus mais baixos nos últimos anos de vida. “Isso ocorre porque a forma como o corpo consome energia diminui com o passar da idade. O metabolismo mais lento faz com que queimemos menos calorias mesmo com exercícios, pois as células consomem os nutrientes mais devagar e tendem a reservar gordura para casos de necessidade”, explica o médico nutrólogo e geriatra Juliano Burckhardt, membro titular da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), da International Colleges for Advancement of Nutrology e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

Outro fator relevante da pesquisa é mostrar que o metabolismo nada tem a ver com o gênero. Não há diferenças reais entre as taxas metabólicas de homens e mulheres se as condições forem semelhantes, diz o estudo, que colheu informações de 6.500 pessoas de idades entre 8 dias e 95 anos. “Essas alterações chamam a atenção sobre o desenvolvimento humano e o envelhecimento e devem auxiliar em critérios de nutrição e saúde ao longo da vida”, atesta Herman Pontzer, da Universidade Duke, nos Estados Unidos, e principal autor do trabalho.

As 4 fases do metabolismo humano:

Até 1 ano de idade: a queima de calorias está no auge, acelerando até ficar 50% acima da taxa de adulto.

De 1 a 20 anos: o metabolismo desacelera gradualmente em cerca de 3% ao ano.

Dos 20 aos 60 anos: mantém-se estável.

Depois dos 60 anos: diminui em torno de 0,7% ao ano.

Por Simone Blanes da Veja





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