Positividade e companheirismo faziam parte da vida do servidor, que fez história dentro e fora do país
A cultura vilhenense perde um de seus admirados representantes: faleceu na manhã desta segunda-feira, 20, o artista plástico e artesão Marcos de Souza, aos 61 anos, vítima de problemas renais. Amigos e companheiros de trabalho publicaram homenagens e elogios à dedicação do artista, que nos últimos anos serviu à comunidade trabalhando na Fundação Cultural de Vilhena (FCV) e na Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Semosp).
Ao longo de sua vida, Marcos se dedicou ao aperfeiçoamento na Arte, expondo trabalhos em diversos países, como a França, Espanha, Suíça, Holanda, Alemanha, México, Costa Rica, Colômbia e Venezuela, onde morou por cerca de 22 anos. O artista tinha a admiração de quem o conhecia, “era uma pessoa magnífica, um gênio, deixa um legado gigante, teremos muitas ações que tiveram sua participação ainda para acontecer”, aponta França Silva, presidente da Fundação Cultural.
Recentemente o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (Ifro) iniciou série de vídeos dentro do projeto “Conhecer Vilhena”. Um dos primeiros episódios já teve Marcos como protagonista, contando sua trajetória e relação com a arte. “Dentro da minha trajetória eu descobri que era artista e podia viver da arte desde os meus sete anos. A gente era muito pobre, minha mãe teve 21 filhos, tive uma adolescência muito difícil. Eu fazia mobília de bonecas, carrinhos, e na época eu fiz um parquinho com chapinhas de alumínio e motores de vitrola, com roda-gigante, carrossel, luzes de lanterna, mesa de controle, movimento e tudo. Um colecionador veio pedir pra comprar e com isso consegui comprar uma bicicleta. Descobri ali que poderia viver de arte no mundo todo. Fui indigente por um tempo e foi um tempo muito triste. Aprendi nesse período a reciclar. O lixo é muito importante porque aprendemos a transformar o lixo em luxo, e salvar nossa Pacha Mama. Meu objetivo como artista não é aplauso, mas que as pessoas consigam mudar a forma de pensar ao ver minhas peças”, disse.
Ainda recentemente, em ações produzidas pela Fundação Cultural, Marcos detalhou sua forma de elaborar a arte. “Quando começo um processo de criação, me inspiro em como fabricar esta peça, e isso é uma adrenalina tão forte que me faz esquecer de comer, esquecer que tenho dor, esquecer que existo, eu simplesmente me conecto com aquilo, e é como se o tempo parasse, é uma coisa inexplicável”, destacou Marcos.
Amigos que perderam um companheiro, lembram do quão dedicado Marcos era no dia a dia, atualmente o artista estava lotado na Semosp. “Como servidor, não tenho o que falar, era uma pessoa que fazia até mais que o necessário, não tinha tempo ruim. Como artista, olha é até difícil falar algo nesta hora, tínhamos conosco uma pessoa muito especial, a Semosp não perdeu o Marcos, mas sim Vilhena perde uma grande pessoa”, destaca Marcelo “Boca”, secretário municipal de Obras.
Entre alguns de seus trabalhos recentes que ganharam grande adesão na cidade estão os bancos dos parquinhos instalados pela Prefeitura.
“Marcos de Souza, paraibano, irmão de tantas pessoas, amigo de milhares, artesão por amor, artista plástico, sonhador. Um ser humano incrível, generoso, contestador, uma pessoa de caráter e correta. Sempre alegre nas feiras, brincalhão, excelente profissional, uma pessoa que tinha uma bondade que poucas pessoas tem. Onde ele estiver vai ser sempre diferente, vai com Deus meu amigo”, disse Hurby Santos, da FCV, amiga e colega de trabalho.
“Eu, enquanto presidente da Fundação, tive a grata surpresa de receber o Marcos. Ele foi um presente do artesanato para nós, entrou como artesão e logo se tornou o nosso braço direito, em todas as funções organizacionais da Fundação. Ele teve uma dedicação ímpar e tem muito dele na FCV, nós construímos muito junto, é uma perda muito grande, uma dor enorme. Posso dizer que estou grata por ter tido o Marcos presente na minha vida, gratidão pelo amigo”, Kátia Valéria, ex-presidente da Fundação Cultural de Vilhena.
“Poucas vezes vi alguém tão comprometido com a cultura como o Marcos, o que eu falar vai ser pouco comparado ao que ele fez para a nossa cidade. Sempre se mostrando inovador, tinha ideias que deixavam todos ao redor intrigados, era um dom, sábio e dinâmico. Infelizmente o mundo é assim, nem sempre é justo, e ele nos deixa, mas deixa com um enorme legado, construído pelas mãos de um artista único”, Eduardo Japonês, prefeito de Vilhena.
Marcos deixa duas filhas, uma que atualmente mora na Colômbia e outra na Argentina. A Prefeitura de Vilhena e a Fundação Cultural estavam preparando a documentação para fazer de Marcos o primeiro mestre artesão do município, porém, dias antes da assinatura, Marcos foi internado e veio a falecer.