Santana Coelho foi diagnosticada com câncer no útero e não conseguia tratamento por não possuir documentos. Ela foi internada recentemente em uma UTI do Hospital de Amor.
Depois de três meses sem conseguir iniciar um tratamento contra o câncer por não possuir documentos, Santana Coelho, de 63 anos, finalmente conseguiu uma vaga no Hospital de Amor em Porto Velho. A informação foi confirmada pela advogada da família nesta sexta-feira (3).
De acordo com a advogada, na última quinta-feira (2) o Hospital de Amor entrou em contato com a família oferecendo atendimento. Ela foi encaminhada do Hospital João Paulo II, onde estava internada, para a unidade especializada em tratamento contra o câncer.
O Hospital de Amor confirmou ao g1 que Santana já está internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O estado de saúde não foi informado.
Segundo a família, apesar da felicidade de ter conseguido a vaga, ainda permanece a revolta por conta da demora no atendimento. Fabiana Souza, filha da paciente, informou que o médico descartou quimioterapia e radioterapia inicialmente porque o estado de saúde dela é muito frágil.
“Se não fosse essa demora a minha mãe não estava em um estado tão avançado e tão debilitado como ela tá agora. Ela está sendo bem atendida, bem cuidada, mas o tratamento que minha mãe merecia ela não pode ter”, diz.
Entenda o caso
Na quinta-feira (2), a família de Santana fez um pedido desesperado de ajuda. Eles contaram ao g1 que ela precisava urgentemente de um tratamento para câncer no útero, mas não conseguia vaga em Rondônia, pois não possui documento de identificação.
Mas por que, aos 63 anos, Santana não possui documento? A família explicou que a resposta é um passado doloroso: quando tinha cerca de 11 anos, Santana foi abusada por um amigo íntimo da família. Isso aconteceu quando ela morava no Pará e ainda não tinha sido registrada.
Segundo a família, Santana morou na rua por muito tempo, dormia em bancos de praça ou na casa de outras pessoas, quando conseguia alguém. Nesse meio tempo, ela acabou se mudando para Rondônia, onde ela casou e morou em sítios, chácaras e outras áreas da zona rural.
Como ela não sabia ler ou escrever e tinha uma boa saúde, nunca teve a “necessidade ou conhecimento de como ir atrás de documentos”.
Ajuda jurídica
As advogadas da família entraram na Justiça pedindo o início imediato do tratamento apenas com o cartão do Sistema Único de Saúde (SUS) que foi confeccionado em nome de Santana.
“Fica bem claro no artigo 196 da Constituição que toda pessoa tem direito a acesso à saúde, independente de portar documento ou não. Também é muito importante ser ressaltado a dignidade da pessoa humana, isso consta expressamente no artigo primeiro do inciso três da Constituição”, apontou a advogada Deuzimar Gonzaga.
Por Jaíne Quele Cruz, g1 RO