Professor e Historiador Emmanoel Gomes
Há muito tempo parte significativa da nossa sociedade perdeu a noção dos valores que compõem o título deste artigo.
[dropcap]T[/dropcap]odo professor sabe como é difícil trabalhar com uma juventude que em sua maior parte, perdeu as noções de educação, respeito e dedicação aos estudos.
Toda e qualquer pessoa equilibrada e com um mínimo de consciência sabe que esses conceitos são interligados e fundamentais entre si.
Só existirão bons resultados na escola se houver educação e respeito, valores que geram disciplina e concentração.
Disciplina e concentração não surgem como resultado mágico, não cai do céu e não se aprende do dia para noite. Surgem de uma prática, exigem dedicação, são resultantes de uma força de vontade, não adquirimos através de osmose, não são transmitidos geneticamente pelos pais.
Disciplina e concentração são resultantes das práticas e culturas cotidianas, são transmitidos no dia a dia pela família, amigos, grupos culturais do qual fazemos parte etc.
Estou refletindo essas coisas tentando demonstrar que os resultados negativos na escola refletem também os problemas de formação familiar.
Se o jovem mal respeita os pais, por terem tido uma educação muito liberal, como vão respeitar professores e demais pessoas com quem se relacionam.
A crise da escola brasileira é uma crise da sociedade brasileira, reflete a sociedade e gera os problemas que temos.
Quando alguém afirma que o Brasil é o país das injustiças, país da educação de péssima qualidade, saúde caótica, segurança pública falida, etc.
Na verdade estamos condenando também os profissionais que saíram de uma determinada família, carregando os valores transmitidos socialmente pelos pais, amigos, igrejas etc.
Essas pessoas que se tornaram os profissionais da educação, saúde, segurança pública e justiça que tanto condenamos, foram também, influenciados por uma escola sem qualidade e incapaz de resolver o problema da ética, respeito, disciplina, concentração etc.
Em síntese todos os problemas sociais são resultantes de uma crise presente em todos os setores de nossa sociedade. A injustiça social é, em grande parte, responsabilidade de advogados inescrupulosos e incompetentes. A péssima condição da saúde no Brasil é responsabilidade de médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde. Os problemas da educação, idem, professores, supervisores, orientadores, diretores com péssima formação e cheios de deformações.
No centro de tudo a família e os problemas de desagregação, desconstrução dos valores, ausência de respeito, educação, espiritualidades e hábitos culturais saudáveis.
Hoje a escola quando atua de forma rigorosa, disciplinadora, com muita carga horária e conteúdos, que exige uniforme, organização e que o aluno estude que o aluno não durma, não converse e atrapalhe que tenha uma postura ao sentar e no convívio com os demais, quando a escola pune o aluno que cola, que chega atrasado e fala palavrões, que tira notas baixas, normalmente aparece uma piracema de pais para reclamar do professor e da escola.
Coisas como: O meu filho está sendo perseguido, esse professor não gosta da minha filha, ou tem que dar mais uma chance etc.
A sociedade precisa acabar com a hipocrisia de apontar esse ou aquele culpado, geralmente o prefeito, governador, deputado, juiz, promotor, presidente etc.
Muitos dos problemas como drogas, prostituição adulta e infantil, roubos e vários outros distúrbios ou desvios sociais nascem dentro do lar desestruturado, do lar onde a ignorância é a tônica, do lar onde o alcoolismo e violência são naturais.
A solução para qualquer problema existente na nossa sociedade depende da atuação firme e severa das pessoas que a compõem.
Se seu filho não te respeita, ficando no computador doze horas por dia fazendo sabe-se Deus o que? Como um professor será respeitado por ele? Se você pede uma mesma coisa dezenas de vezes e ele não obedece, como vai fazer as tarefas da escola? Se sua filha namora até altas horas e na escola dorme o tempo todo, como um professor resolverá o problema? Se você gasta setenta ou oitenta reais com uma cartela de bingo e nunca compra um livro para seu filho, como ele se tornará um ser mais culto? São tantas questões que o fundo do poço fica cada vez mais longe.
Como culpar o sistema de saúde por um filho que bêbado bateu com a moto a meia noite? Como jogar a culpa no prefeito pela falta de saúde se nossos hábitos nos tornam cada vez mais doentes? Comemos mal, dormimos mal, somos sedentários, temos péssimos hábitos fumamos, bebemos, não adotamos medidas preventivas de saúde, como o de consumir frutas, verduras e legumes que são muito mais baratos?
Não pretendo isentar o poder público de suas obrigações, sabemos que os serviços estão por desejar, são falhos e cheios de vícios, porém se não fazemos nossa parte fica difícil cobrar e até concertar.
Não pretendo ser hipócrita e não refletir o quanto a minha, a sua a nossa prática social colabora para ampliar a crise que nos envolve ao mesmo tempo em que culpamos Deus e o mundo por tudo.
Nossos egos e vaidades nos impedem de enxergar nossas falhas e contribuições para o degredo.
Parece que temos uma vocação para questionar aquilo que é certo, a moralidade, a ética, o respeito.
Agora mesmo, vivemos um momento eleitoral, a sociedade lutou para barrar os candidatos fichas sujas, corruptos condenados de se candidatarem e, no entanto alguns escaparam e estão pedindo votos.
Se você ainda acredita e sonha em um país com justiça social, distribuição de renda e onde os serviços públicos tenham qualidade, inicie agora a mudança evitando que candidatos condenados tenham a oportunidade de mais uma vez errarem.
Na esteira dos profissionais ruins, pelo menos esses poderão ser barrados por todos nós.