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Artigo: Professor Bunichi Matsubara, um orgulho para Rondônia e o Brasil

matsubara

Por Emmanoel Gomes

Por muitos anos tenho buscado inspiração para redigir um artigo que possa dimensionar o tamanho daquele que considero o maior professor do Estado de Rondônia, professor Bunichi Matsubara.

Escrevo essas linhas me esforçando para não ser tomado pelos exageros que somos compelidos quando em nossos corações as emoções surgem avassaladoras.

Muitos não o conhecem, não sabem da existência desse pequenino homem que reside na pacata cidade de Colorado do O’este.

O professor Matsubara veio para o Brasil logo após vivenciar uma das maiores monstruosidades ocorrido na história da humanidade, a Segunda Guerra Mundial, 1939 – 1945.

Seus relatos sobre esse período emocionam aos que convivem e contam com sua amizade. São experiências únicas, que marcaram sua personalidade e moldaram o caráter ético e inabalável ao mesmo tempo em que terno, probo e profundamente humano.

Primeiro o professor se instalou no Paraná na cidade de Loanda, mais tarde, na década de setenta se transferiu, junto com sua família para a vila 21, atual cidade de Colorado.

O jovem professor foi um dos mestres japoneses que ajudou na divulgação da prática do Judô no Brasil.

Por essa iniciativa possui um lugar de destaque na história do desporto no Brasil.

Iniciou suas atividades no Paraná, porém foi em Rondônia que seu trabalho gerou o reconhecimento nacional.

Tenho em meu currículo o profundo prazer de ter participado da primeira turma de Judô montada pelo grande mestre, no final da década de setenta em Colorado.

Suas lições foram e ainda são de grande importância em minha vida.

Pelo menos, duas gerações de atletas e cidadãos foram tocados profundamente pelo mestre Matsubara. Com certeza qualquer um que tenha participado do seu convívio sentirá um orgulho especial ao ler esse humilde artigo.

O professor Matsubara não ensinava somente Judô, ele ensinou praticamente todos os esportes, sendo que os valores humanos eram e ainda são transmitidos, pois fazem parte de sua essência.

Condição que a escola brasileira perdeu ao longo do tempo.

Eu em especial, me considero uma espécie de filho do grande mestre, com todo respeito e carinho em relação a sua família que realmente é um modelo a ser seguido.

 Tenho muito que agradecer ao Matsubara, pois apesar dos problemas físicos que adquiri desde os três anos de idade, com a influencia do professor Matsubara me transformei em um atleta, pratiquei  quase que todos os esportes, quem me conhece na atualidade dificilmente vai acreditar que um dia cheguei a ser um atleta praticante de esportes como:  Voleibol, Handebol, Basquetebol e até futsal.

É certo que no Judô vivi uma atuação mais marcante, lembro-me da imagem do Matsubara na beira do tatame, gritando comigo: Raça, Raça, Raça!

Em um momento de minha pobre infância, sua influência foi fundamental. No inicio dos treinos, lá pelos anos de 1979, no distrito de Vilhena conhecido como 21, quando tinha dez anos de idade, me aventurei a participar das aulas de Judô, após os primeiros treinos, resolvi desistir, simplesmente abandonei o tatame que na época era embaixo de um barraco coberto por uma lona preta em cima de pó de serra de madeira.

O motivo foi os muitos tombos que levei, não conseguia ficar de pé e não via uma única perspectiva de dar, um dia, uma queda em alguém.

Não tive dúvidas e logo desisti. Acreditava que a completa ausência da musculatura em minha perna esquerda me transformava no alvo mais fácil para todos os demais meninos.

Todos aprendiam os golpes em cima de mim. Eu era derrubado com Ashi-guruma, O-soto-gari, Tomoe-nague, Hon-kessa-gatame, Hane-goshi, O-soto-guruma, Tsuri-goshi, Juji-gatame …

Chegou um momento que o adversário gritava e eu já me jogava no tatame.

Não, abandonei o professor. Acreditava que seria o eterno saco de pancadas de todos.

Eis que uma semana após o abandono, adentra minha casa o professor, após cumprimentar meus pais, me encontrou na cozinha, sentou ao meu lado e disparou: Qual o motivo de tantas faltas? Professor, todo mundo me derruba, eu não tenho como competir com tamanha diferença física, praticamente me falta uma perna…

Ele olhou firme nos meus olhos; olha que eu nem sabia das histórias vividas na guerra lá no Japão, quando ele corria com os irmãos para os abrigos fugindo dos bombardeios norte americano.

 Mané, ele não conseguia pronunciar Emmanoel, quando uma pessoa não tem um olho, o outro olho enxerga por dois, um braço, o outro vale por dois, uma perna, a outra vale por duas.

A natureza é perfeita, ela recompõe o que falta com outras coisas reforçando outros sentidos.

Se uma pessoa não tem nem braços nem pernas a inteligência se desenvolve mais.

Volta para o Judô, vai aprender UTI MATA, (golpe de Judô onde se apóia em uma perna e varre o adversário com a outra perna).

Voltei a treinar, entrava UTI MATA mil vezes ao dia até que comecei derrubar os outros meninos.

A primeira prova de fogo foi um campeonato em Vilhena acredito que em 1980 na escola Wilson Camargo, passei pelos adversários sem tomar conhecimento, ganhei minha primeira medalha no Judô, segui carreira e por muitos anos me mantive na academia.

Sei que cada aluno que passou por sua vida possui uma bela história.

O professor Matsubara é sexto Dan. No Judô a hierarquia é marcada pela cor da faixa, após a faixa preta temos outra titulação conhecida por Dan.

Acredito que Buniche Matsubara seja uma das maiores autoridades nesse esporte no Brasil.

O Judô é o esporte que mais produz resultados sociais e olímpicos em nosso país, o que mais trousse medalhas, a primeira medalha de ouro foi conquistada pelo meio-pesado Aurélio Fernadez Miguel nos Jogos Olímpicos de Seul 1988 e mais tarde medalha de bronze em Atlanta 1996.

Ao receber sua primeira medalha de ouro o Aurélio Miguel visitou nosso grande mestre em Colorado para agradecê-lo.

 O Judô prepara o corpo e o espírito, disciplina, organização, determinação e os mais dignos valores humanos fazem parte da sua essência.

Muito dos ensinamentos vem do budismo, Sidarta Gautama.

O criador do Judô foi o mestre nipônico Jigoro Kano, Judô significa “Caminho Suave”.

Jigoro Kano, seu fundador, nasceu na cidade de Mikage, na província de Hyogo, Japão em 28 de outubro de 1860.

Não fui um atleta de ponta em esporte algum, ter vencido algumas competições foi uma coisa extraordinária na minha vida, pois nunca imaginei que conseguiria tal proeza.

Emmanoel-Gomes-ArtigosColorado produziu grandes judocas como, José Oliveira, Mauro, Elizabete e Massaki Matsubara, aliás, toda a família Matsubara se destacou na modalidade e na vida, Atônio Ferreira, professor Ailton, Hélio da Hepave, João Ferreira, DR. Valdez, Gilberto são alguns dos nomes que visitam minha memória e que fizeram os tatames de Rondônia e do Brasil tremerem.

Professor sinto saudades, em breve estaremos juntos para comemorarmos nossa amizade. Meus profundos agradecimentos por tudo que fez a mim e a todos os seus alunos.





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