sexta-feira, 20 setembro, 2024
Sexta-feira, 20 de setembro de 2024 - E-mail: [email protected] - WhatsApp (69) 9 9929-6909





Artigo: Vilhena e a Universidade de São Paulo

Por Ivanor Luiz Guarnieri

Getúlio Vargas havia nomeado Armando Sales interventor em São Paulo, este, para fazer boa figura e tentar diminuir os ânimos beligerantes dos paulistas contra o Presidente Vargas, atendeu a campanha liderada, entre outros, por Júlio de Mesquita Filho, dono do jornal “O Estado de São Paulo” e criaram a Universidade de São Paulo – USP em 1934.

Uma coisa é construir os prédios, para tanto a força do dinheiro basta. Universidade, porém, se faz principalmente  com inteligência e essa está nos cérebros de seus professores e pesquisadores. Segundo nos conta Fernando de Azevedo, havia dificuldades em encontrar professores no Brasil, em número suficiente para tão grande empreitada. A solução foi contratar professores estrangeiros, tanto americanos, italianos quanto, principalmente os da famosa ‘missão francesa’. Chegaram à USP para lecionar homens de envergadura teórica, como Roger Bastide, Paul-Arbouse Bastide,  etc. e o grande antropólogo Claude Lévi-Strauss.

claude-levi-straussJovem antropólogo ainda Lévi-Strauss (pronuncia-se “lévistrôs”) orientaria o doutoramento em sociologia de  Florestan Fernandes, considerado o maior sociólogo brasileiro de todos os tempos que, por sua vez, seria orientador da tese de doutoramento de Fernando Henrique Cardoso.

Instigado pela riqueza antropológica a céu aberto que é o Brasil, Lévi-Strauss percorreu regiões do Mato Grosso, contatou indígenas, descreveu seus costumes e escreveu a respeito relatórios e livros. A obra “Tristes Trópicos” é uma síntese importante de seus trabalhos a esse respeito. Nessas andanças com blocos de anotação pela selva, no ano de 1938 entrou em contato com os nambiquaras, na região já conhecida como Vilhena. Bacana não? “Vede como sois grande Vilhena, embora um pouco esquecida de teu passado ilustre”.

Tudo isso me ocorreu comentar com o amigo leitor em virtude da madrugada da televisão brasileira. Começo a desconfiar que a melhor programação da TV captada pela parabólica está de madrugada. Durante o dia canais aparentemente insossos para os citadinos,  passam o dia mostrando venda de computadores, propaganda de eletroeletrônicos e gado, sementes, adubos etc. De noite superproduções cinematográficas. Se o leitor tiver curiosidade, e quiser aproveitar as duas horas de diferença em relação ao horário de Brasília, poderá assistir épicos do cinema, filmes clássicos e cultos. “La dolce vita”, “o fantasma da ópera”, “Romeu e Julieta” entre outros grandes do cinema. Claro, se quiser ver como eram os atores de Hollywood quando ainda bem jovens, em início de carreira, poderá fazê-lo também. Há uma profusão de filmes do velho oeste americano. Um dos seriados de maior duração da TV mundial, está  na madrugada desses canais: “Os Bonanza”, que fez enorme sucesso quando do início da Rede Globo aqui no Brasil, e que foi exibido nos EUA de 1959 a 1973.

Os canais “Novo”, “Agro” e “Rural” que transmitem esses programas, estão bem acompanhados na madrugada pelos canais “Futura” e “TV Senado”. Depois da meia noite de sábado, além dos clássicos do cinema, também era possível assistir o documentário “A maldição da múmia”, cujo título parece mais apropriado a filme de horror, mas é antes uma bela exposição dos passos da descoberta da tumba do faraó Tutancâmon. Noutro documentário, no domingo, informava sobre a origem da soja, de como foram descobertas suas aplicações, pois  químicos americanos da primeira década do século XX descobriram como fabricar tinta e plástico da soja. Henri Ford usou de tinta extraída da soja para pintar os carros que fabricava. Esplêndido não? Mas o que tem isso a ver com o título deste artigo.

Ivanor-ArtigosPois eis que no meio de tão boa programação transmitida nas noites de sábado para domingo e domingo para segunda figurou também o documentário da TV Senado sobre as viagens de Claude Lévi-Strauss, já conhecida de se livro “Tristes Trópicos”. Com imagens e falas do próprio antropólogo, de cartas de sua esposa e cenas dos nambiquaras de nossa região. Da construção da USP para a transmissão da TV Senado na madrugada de Vilhena, essas coisas bacanas de ver e instigantes de saber. Devo dizer que depois de horas de teoria literária minhas vistas descansaram com essas imagens.

Assistir tudo isso vai do gosto. Para quem não gosta tinha o carnaval  ou um bom sono para curtir.




Mais notícias






Veja também

Pular para a barra de ferramentas