A escola pode ser voltada para duas coisas: formar cidadão ou formar para a ciência. Chamo de ciência aquele conhecimento que temos da natureza: biologia, química, física e outras. Também estão incluídas no rol desses conhecimentos aqueles relativos ao humano: história, sociologia, psicologia, etc. Para além das ciências há a formação humana voltada para as artes.
A primeira escola, voltada para a cidadania, tem em seu espírito a ideia de que os alunos precisam de determinado saber. Esse saber é aquele que prepara para a vida social. De modo geral, nela figura o ensino de coisas úteis como respeito ao próximo, respeito à diversidade, etc.
A segunda escola, preocupada em ensinar conhecimento: científico, das artes e da filosofia, tem em mira que o sujeito ao sair da escola deve saber matemática; geografia e, portanto, saber situar-se no espaço, ou seja, sem confundir continente com país e país com estado; história e outras disciplinas mais.
O resultado que se tem entre as duas escolas é que a primeira, se ficar focada só no saber para a vida social, pouco acrescenta. Primeiro, pois esse saber já é da própria vida social e se aprende na família e nas instituições. Evidentemente, se a pessoa tem mau comportamento ela é rejeitada pelos demais e, assim, aprende na prática o que é educação para a vida social. Quanto à consciência cidadã, não há nada que impeça a escola que se preocupa em ensinar conteúdo, ensinar também sobre as leis, os direitos e deveres das pessoas que habitam certo Estado. O conhecimento científico e o conhecimento para a formação de cidadãos não se excluem, se coadunam um ao outro, o problema é de foco exclusivo para o comportamento e nada de gramática, tabuada, cálculo, pensamento abstrato. Eis o erro atual do ensino brasileiro.
Cada vez mais vemos menos pessoas saindo preparadas de nossas escolas. Ignorantes diplomados não faltam e a prova disso é o número de reprovações nos concursos públicos. Com o enfoque errado, perdeu-se o preparo acerca do que é básico na vida escolar. A má qualidade de nossa gente pode ser uma desculpa para incutir nas escolas ensino sobre boas maneiras. De fato, se os alunos fossem educados não precisaria perder tempo ensinando algo que é óbvio, como o respeito ao próximo, para ficar nesse exemplo corriqueiro.
Com relação a esses dois tipos de escola (a que prepara para a vida social e a que prepara para o conhecimento), vemos os países mais desenvolvidos não dispensarem a segunda. Se precisamos de engenheiros, é preciso que a escola ensine ciências como a física, a matemática. Se precisamos de médicos, as escolas deveriam, de antemão, já preparar os alunos com sólidos conhecimentos sobre biologia, anatomia, etc. E assim por diante.
Aqui, nesse texto, não é lugar para prantear a falta de professores, mas vale lembrar sequer os temos em quantidade razoável. Nas escolas (chamo aqui escola no sentido geral, incluindo os colégios, que, como se sabe, são assim chamadas as escolas de ensino médio), nas escolas, eu dizia, há aulas de física, matemática, química, biologia, história, filosofia, sociologia. Curiosamente, não há professores dessas áreas. Ao menos não na quantidade necessária para ocupar as cadeiras dessas disciplinas e ensinar nas salas de aula. Em que pese o esforço dos professores adaptados para dar essas disciplinas, se não são formados em química, como podem lecionar química? Respondo, com o sacrifício de estudar em livro, sem o apoio de cursos que poderiam ajuda-los. Acabam tendo uma formação livresca, preparando-se a partir dos livros apenas, pois infelizmente os governos e seus gestores educacionais não proporcionam a esses professores cursos em quantidade e qualidade suficiente para que eles se formem nas áreas que atuam.
A lista do que falta em nossas escolas é extensa. O que sobra são salas lotadas de alunos, professores desassistidos e pessimamente remunerados. A preocupação dos governos não é ensinar conteúdos que farão os alunos serem cidadãos dotados de conhecimento e aptos para o sucesso na vida profissional, mas apenas ensinar para a vida social.
A formação de cidadãos, como quer a lei brasileira, passa necessariamente pelo conhecimento da língua pátria, das ciências e das artes. Em alguns casos, as salas de aula parecem depositar a desesperança no futuro de nossas crianças e jovens. Tratados como apenas
um número na lista de chamada, as autoridades contam nos dedos os valores das verbas que são repassadas na medida em que o número de alunos aumenta. Em outras palavras, mais alunos em sala de aula sendo assistidos pelo mesmo número de professores, significa o mesmo gasto com educação e mais verbas para os municípios e estados. Simples assim.
É nesse quadro que se formam os jovens até o ensino médio, alguns deles sem nem mesmo conhecer a língua portuguesa, no que tem de básico: saber separar em sílabas, acentuar palavras, ou escrever parágrafos com algum sentido. Quanto ao ensino superior, que já de algum tempo parece ter perdido o sentido do nome ‘superior’, ele reproduz a mesma falta de preparação.
A consequência é o aumento no número de ignorantes diplomados, mas que pensam que sabem, já que tem a documentação que afirmar serem eles formados. Formados para quê? Nem para o conhecimento, nem para a cidadania, no máximo para a vida social. Convenhamos que é muito tempo perdido nos bancos escolares (incluindo a universidade) para tão pouco proveito.