quinta-feira, 19 setembro, 2024
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Autoridades e conhecimento: artigo do professor Ivanor Luiz Guarnieri

Ideias bem constituídas servem para justificar a autoridade de um autor. Autoria e autoridade tem uma raiz comum, “auto”, por si mesmo. Automóvel é um veículo que se move por si mesmo. Autoridade, em ciências e filosofia, é alguém cujas pesquisas podem ser conduzidas sem a necessidade de um orientador, por exemplo.

Fazer pesquisas sozinho, contudo, é cada vez mais raro. Quando falo em pesquisa não estou me referindo ao costume de procurar coisas na internet, copiar uma ideia aqui, outra ali, e apresentar como se fosse original. A internet em si não é boa nem má, o uso que dela fazemos é que a torna útil ou prejudicial. Isso vale para muitas outras coisas, o dinheiro, por exemplo, como já sabia Aurélio Agostinho.

Pesquisas se fazem em rede de colaboradores. Um professor de uma universidade brasileira junto com colegas de outras instituições de pesquisa daqui ou de outro país se organizam em projetos de investigação científica. O resultado disso é algo parecido com o que diz uma velha canção “cérebros fecundo que dão frutos raro”, na bela música de Martinho da Vila chamada “Agradeço à vida”.

O conhecimento é algo precioso e, como tal, difícil de alcançar. O conhecimento exige dedicação. As pessoas não visam diretamente ao conhecimento nele mesmo, mas tendo em vista conhecer algo. Esse algo pode ser concreto ou abstrato. Um mecânico precisa conhecer o funcionamento do carro. Um sociólogo pode estar interessado em saber como é o sistema capitalista.

A tecnologia existe graças à duas coisas: ciência + técnica= tecnologia. É preciso pesquisar como a natureza funciona, isso nos dá ciência sobre a natureza. Ao mesmo tempo, é necessário técnica de aplicação desse conhecimento para ver se funciona como a teoria descreve. A natureza resiste a entregar seus segredos. Parafraseando Rousseau, podemos dizer que  natureza age como uma mãe cuidadosa que evita colocar na mão do filho uma faca afiada, pois ele pode ferir-se.

Agora quero mudar o tom deste escrito. Se você me acompanhou até aqui, peço que observe como as pessoas se instruem e se destroem na mesma tecnologia que poderia ser usada com fins mais produtivo. Vou esclarecer essa ideia com um episódio.

Outro dia fui marcado. Alguém queria que eu visse certa publicação, que já nem lembro mais qual era. Abri o Face. Comecei a rolar as imagens e descobri coisas curiosas. Por exemplo, pessoas que conheço medianamente, colocando figuras de teóricos requintados para serem malhados em rede social. Levei um susto com as informações (falas) que lia.

Falar mal de alguém sem conhecer é traje da moda para alguns. Os preferidos para receber cuspes e escarros são já velhos conhecidos: Karl Marx, Paulo Freire e tudo que se assemelhe ao pensamento anticapitalista. Claro que não estou, aqui, defendendo esses teóricos, pois eles não precisam de defesa de alguém como eu. A obra deles já é grande o suficiente. Sei o meu lugar.

Prof. Dr. Ivanor Luiz Guarnieri (UNIR)

Quando nos propomos a citar teóricos, deveríamos saber, primeiro, nosso próprio conhecimento. Isso é fácil, basta fazer a pergunta? O que eu sei a respeito disso? Não vale o saber falso, pois não é saber, mas enganação. Estudar dá trabalho, mas é melhor do que estar na situação de ignorante que desconhece a própria ignorância. Ensina Platão, na obra Mênon, que depois que a pessoa descobre que nada sabia está melhor que antes, quando pensava que sabia.

Quanto a relação entre a autoridade e o assunto, é certo que a pessoa que replica desinformação difamatória contra os teóricos, sem conhece-los, não é autoridade nenhuma no caso. Digo isso, pois, se autoridade é pensar por si mesmo, depois de muito estudar, é quase certo que quem replica desinformação não age por si mesmo, mas como um boneco que repete o preconceito alheio.




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