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Colorado do Oeste e a boa nova em sua recente história política; artigo do historiador Emmanoel Gomes

O Cone Sul do estado de Rondônia se transformou na região com a melhor qualidade de vida, seu IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, é um dos mais desenvolvidos da região norte.

Galpões da CIBRAZEM
Galpões da CIBRAZEM

[dropcap]A[/dropcap] cidade de Colorado do Oeste é um exemplo interessante, em suas origens na década de setenta, quando ainda era conhecido por seu primeiro nome 21, se despontava como a cidade com maior capacidade de desenvolvimento do sul do Estado.

Com as péssimas administrações políticas que ao longo do tempo se mostraram incapazes de manter o ritmo de crescimento, planejar o futuro e encontrar alternativas, a cidade foi diminuindo aceleradamente.

Outro fator que colaborou para o decréscimo de sua importância na geopolítica do cone sul foi o desmembramento dos distritos de Nova Esperança, hoje Corumbiara, Cabixi, Cerejeiras e Pimenteiras.

Quando cheguei, ainda criança, no então distrito vilhenense conhecido como 21, atual Colorado, deparei-me com uma realidade muito semelhante aos filmes de faroeste. Seus habitantes, quase que na totalidade, andavam em cavalos, burros e mulas, as casas eram todas de madeira, sendo comum o porte de armas. Boa parte das confusões, fossem disputas por terras, por mulheres ou dívidas eram resolvidas através do trinta e oito ou do papo amarelo, armas comuns na época.

Ainda é fácil encontrar pessoas que lembram os tiroteios como o ocorrido em frente ao balanção e o assassinato do Genésio em plena luz do dia quando a feira municipal, localizada em frente à prefeitura fervia.

Foi um alvoroço como nunca se viu.

Algumas lojas comercializavam armas e munições livremente, elas ficavam expostas nos balcões e paredes, caso da Casa Cacaio que era da Marroco e a loja do Marinho entre outros.

A sensação era de inexistência do Estado. Tudo era muito movimentado, durante a seca uma poeira infernal tomava conta das casas, pessoas e tudo o mais. Quando chegavam as chuvas, a lama e atoleiros inviabilizavam a utilização de qualquer sistema de transporte que não fossem os animais.

A economia era pujante, a agricultura familiar ditava o ritmo frenético dos negócios, as madeireiras se amontoavam, existiam mais madeireiras naquele tempo que bares e biroscas hoje e dia.

Montanhas de pó de serra eram vistas por todos os lados, toras de madeira nobre como, Cerejeiras e Mogno eram amontoadas a se perder de vista. Caminhões para carregar toras circulavam incessantemente, uns sem para-brisas, faróis, outros não possuíam nem mesmo a cabine, ficavam a mostra motor, bancos e o motorista em sua totalidade.

O centro comercial era na pracinha, depois foi se desenvolvendo na Potiguara.

As noites fervilhavam, o Bolão, ficava ao lado do cinema do Velho Amauri que oferecia filmes de Bang Bang, Kung Fu, Sexo e de vez em quando uma comédia dos Trapalhões.

 O bar Branco ficava ao lado da Dona Lurdes do Gás. Essas foram às opções pioneiras de entretenimento, comercializavam bebidas, permitindo jogos de baralho e sinuca, quase sempre com altas apostas.

 Os solteiros e mal casados podiam se divertir com as “moças da vida” lá no “Batidão” que se localizava em um local afastado após os grandes galpões da CIBRAZEM.

Histórias de traições amorosas, enriquecimento repentino e outras desgraças se misturavam com as de assombração e ataques de onças.

A vila do INCRA era o local onde os servidores da instituição colonizadora e distribuidoras de terras se alojavam, ficava ao lado da atual Câmara de Vereadores. Onde está a Câmara Municipal de Colorado existia um campo de futebol.

João Batista foi o primeiro médico ao lado do Doutor Queiroz, o Bibi primeiro advogado ao lado do Viriato.

Todos ouviam a rádio Nacional de Brasília. As grandes personalidades da época eram: Edelson Moura e Márcia Ferreira. Para as crianças a tia Leninha.

As pessoas se amontoavam para assistirem aos shows do Amado Batista, Milionário e José Rico, Tonico e Tinoco, Duduca e Dalvan, etc.

A passagem do helicóptero do Teixeirão agitava a cidade, a meninada disparava na carreira para ver a geringonça pousar e decolar.

Esse Colorado pujante e entusiasmado, cheio de histórias e acontecimentos foi se desmontando. Estranhamente a população foi elegendo pessoas que não possuíam o menor compromisso com as pessoas e a cidade.

Os prefeitos eleitos ao longo da história de Colorado investiram seus ganhos pessoais em outras localidades como Colniza no Mato Grosso. Vilhena, Machadinho e Buritis, ambas em Rondônia.

Eles que eram os chefes responsáveis pelo desenvolvimento da cidade para o qual se candidataram traíram vergonhosamente seus munícipes ao lançar seus investimentos em outras localidades.

Em 89 me afastei da cidade quando em Porto Velho, fui aprovado para o curso de História, sempre que retornava a passeio me entristecia com o abandono e decadência da cidade.

Nos idos de 2009 tive a informação da eleição do Anedino da Farmácia. De início fiz uma confusão, pois conheci um Anedino, que aliás, estudou comigo no Colégio Paulo de Assis Ribeiro, porém, o Anedino com o qual convivi, joguei futebol e fiz alguma amizade, trabalhava quando adolescente conduzindo uma carroça na Pracinha onde fazia “Frete” com a ajuda do irmão Iramar e Peninha.

Será que é a mesma pessoa? Fiquei a me indagar.

Qual minha surpresa ao descobrir que aquele Anedino ao lado de sua família, se tornara um empresário de sucesso, competente, proprietário no ramo de Super Mercado e Farmácia.

Ficou a expectativa e o temor em função do trágico legado dos administradores anteriores que pouco se importaram com as pessoas e aquela simpática e acolhedora cidade.

A minha visita ocorreu quando a administração estava terminando seu primeiro ano de mandato, desculpe os opositores, esse relato não possui interesses partidários ou eleitorais, é a simples manifestação de alguém que viveu e vive a cidade amiga, Colorado do Oeste.

Quando visitei a cidade vi outra realidade se desenhando, pessoas comentando a recuperação dos valores dos imóveis que viveram períodos de absurda desvalorização. Ruas limpas, asfaltamento, construção de calçadas, ativação da construção civil, novas empresas se instalando, etc.

Todos os investimentos pessoais do atual prefeito estão sendo feitos em sua cidade, coisa que seria óbvia em outras localidades, porém até isso precisa ser destacado.

Precisou o menino do frete da carroça da Pracinha, que viveu as felicidades e amarguras da cidade ao logo da história, crescer e concorrer à prefeitura para operar as tão necessárias mudanças.

O desenvolvimento empresarial, cultural e político do menino da carroça, ao lado das possibilidades oferecidas pelo destino, lhe ofereceram a chance de entrar para a história e marcar como nenhum outro governante a cidade de Colorado.

Hoje, sempre que posso, visito o meu querido Colorado, é quase obrigatória uma visita ao meu grande mestre Matsubara, um dos pioneiros responsáveis pela prática e divulgação do Judô no Brasil.

Outra parada obrigatória ocorre na loja e residência da minha sogra, fundadora da cidade, dona Julieta Tabalipa, pioneira no comércio de roupas e confecções. A loja Altamira, agora com o nome de Matioski é parte da história de luta dessa brava pioneira.

Sinto certa felicidade pelo novo clima que se respira na cidade, Colorado do Oeste, a cidade amiga.




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