A pergunta é? Qual a origem dos problemas nas três áreas, saúde, educação e segurança?
A resposta é: 1) excesso de projetos de governo; 2) falta de projeto de País.
Tomemos o caso da educação superior. Quando Fernando Henrique Cardoso era presidente o governo queria que a iniciativa privada assumisse os negócios. Vendeu a Companhia Siderúrgica Nacional, a Vale do Rio Doce e tantas outras que eram do governo. Todo mundo lembra, só não lembra onde foi parar o dinheiro, se é que dinheiro houve já que o Banco do Governo – BNDES financiava as aquisições de muitas empresas que eram governo. Era como se o vendedor emprestasse o dinheiro para o comprador comprar de quem estava vendendo. Só que no caso do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social a juros camaradas. Diziam alguns economistas que erra correto fazer isso e, no fundo, bom para o Brasil. Eu que não sou economista demorei a entender isso. Demorei tanto que ainda não entendi direito, mas já estou conformado com a ideia e se os doutos dizem que está certo é porque está certo mesmo.
Voltando à Educação Superior, FHC e seu governo, cujo ministério da Educação estava sob a batuta do Professor Paulo Renato, deu uma ajudinha básica na legislação e inúmeras faculdades isoladas puderam ser abertas por esse mundão chamado Brasil. Cursos de baixo custo foram abertos aos borbotões. Baixo custo é o curso superior que precisa apenas de quadro negro, alguns livros e da saliva para molhar a palavra do professor que explica matéria. Não vou nem falar de cursos como pedagogia, letras, história, e assemelhados, pois dirão que estou sendo preconceituoso. Deus me livre e guarde de uma bobagem dessas. Até porque formado em Filosofia não tenho a menor pretensão de diminuir o valor de cursos que formam a inteligência do brasileiro. Aliás, cabem elogios aos cursos que formam a alma do povo. Que tratam diretamente do que é humano e são muito diferentes daqueles que lidam com números e coisas para construir casas, carros, projetos hidrelétricos, químicos e tantos outros aplicados ao material concreto tirado da natureza. Filosofia, por exemplo, não. Filosofia trata das ideias e não há nada mais humano do que isso. Não sei se é isso que os donos das novas faculdades pensavam na época, ou seja, privilegiar o humano. Suspeito até que estivesse de olho na relação custo benefício, mas não seriam desalmados a ponto de querer enriquecer com educação. Seja como for o governo de Fernando Henrique foi um período de expansão do ensino superior privado, com coisas boas e ruins como tudo na vida e na morte.
Veio o governo glorioso de Lula e a música mudou. O projeto de governo PT achou por bem investir em educação superior pública. Universidades públicas novas, novas contratações, criação do Instituto Federal de Educação, cujos campi foram semeados na imensidão da terra brasilis. Pobres donos de faculdades que viram as salas de aula se esvaziar e forçados a demitir professores por ausência de mensalidades pagas pelos antes numerosos alunos.
Então não temos política de País para a educação, mas política de governo. Cada um que assume o poder faz do seu jeito no curto espaço de tempo que tem para governar. Mudando o dirigente e seu séquito de auxiliares, muda tudo. O novo governante quer fazer da sua maneira, pois quer deixar “sua marca pessoal” na história. Isso tem custo, e os impostos elevados estão aí para isso: para atender o desejo e o projeto dos novos governantes, cada vez que há novos governantes.
Agora vem essa conversa mole e preconceituosa toda vez que os telejornais entram no ar. Os médicos estrangeiros estão chegando. Faltam médicos no interior do Brasil. Aliás falta no interior e na periferia, no centro e nas adjacências. A menos que o paciente tenha dinheiro bastante para procurar um grande centro, mas isso é para poucos e a saúde e a lei são para todos. São sim, para todos. Só que não de modo igual para todos. Cada um tem aquilo que merece.
Merecemos todos do bom e do melhor. Inclusive médicos bem preparados, professores idem e tudo mais. Só que o problema apresentado desse modo pelo governo. E a mansa imprensa devidamente alimentada com publicidade parece repetir como sino que faltam médicos. De quando em quando mostram alguns doutores desavergonhados que assinam o ponto e somem do trabalho, como a dizer que a exceção confirma a regra. E o povo brasileiro que de esperto não tem nada, cai na onda criticando aqueles que cuidam de nossa saúde. É mais fácil colocar a culpa nos outros do que procurar a causa dos problemas. Entre essas causas a falta de planejamento para o País, e não só para um período de governo.
Por isso não me venha a Rede Globo e as demais comadres TV culpar pessoas. É preciso buscar a causa dos problemas. Do contrário não há solução possível. Mas a impressão que dá é a vontade de jogar sobre os profissionais de saúde a imensa responsabilidade pelo mau gerenciamento da saúde no Brasil ao longo de tantos anos. Não só de médicos vive a saúde. É indispensável hospitais equipados, ambulâncias decentes e de preferência não superfaturadas. Aliás, você se lembra do escândalo das ambulâncias? Dinheiro e mais dinheiro da saúde jogado no ralo da corrupção e agora a culpa é a falta de médicos. Valha-me Deus.
Nem a presidente Dilma nem seus ministros são culpados. O que importa saber é a razão das coisas, porque estão como estão. Isso dá trabalho, e depende de estudo, pesquisa, leitura, e muitas outras coisas que a maioria quer evitar fazer.
Logo dirão que os professores são culpados pela educação ruim. Os pais pelos filhos delinquentes, ou melhor, desculpe, pelos filhos em conflito com a lei (melhorou?) e raramente que a causa dos problemas pode ser descoberta e a solução buscada.
[print-me]