José Bonifácio é conhecido como Patriarca da Independência. Trago-o dos séculos XVIII e XIX para o dia de hoje para pensar com você sobre nossa condição atual.
Nascido no Brasil, em Santos, José Bonifácio de Andrada e Silva se mudou para a São Paulo, onde estudou em seminário. É, José poderia ter sido padre. Padre ou não, ganhou muito em estudos e conhecimentos na Cidade de São Paulo. Em seguida, ele foi para Coimbra estudar. Era o ano de 1783 e ele estava com 20 anos de idade.
Formado em Direito e Filosofia, foi comissionado pelo governo português para ir (junto com outros dois) estudar mineralogia na Alemanha. Esses recursos, que hoje chamaríamos de bolsa de estudos, serviram para que José Bonifácio conhecesse e estudasse na França, depois em Freiberg (atual Alemanha) onde estavam ótimos professores e eram realizadas as pesquisas de ponta na área de mineralogia.
Talvez as pessoas não saibam, mas sem professores que saibam o que estão ensinando e também ambiente propício para a pesquisa e o ensino (o que inclui recursos materiais, como laboratórios), não é possível desenvolver ciência, muito menos ensinar a quem quer que seja com o mínimo de decência. Daí a escolha dessa região da Alemanha, país que saecula saeculorum (eternamente) se mostra propício a estudos dignos desse nome.
Relato essas coisas a partir da leitura da obra de Octávio Tarquínio de Sousa, intitulada “José Bonifácio”. Descontados os elogios, a meu ver excessivos, ao Bonifácio, e certa repetição de informações a obra é digna de leitura pela pesquisa atenta, não só à vida do biografado, mas aos contextos daquela época.
Estando na França no período da Revolução Francesa (1789), José Bonifácio estava ocupado demais com os estudos e com as raparigas. Octávio Tarquínio descreve nosso herói como um homem que parecia se apaixonar fácil e procurar mulheres disponíveis com maior facilidade ainda. Mas isso são misérias da humanidade. Vejamos o que interessa.
Apesar da Revolução Francesa, diz-nos Octávio que “o cotidiano é tão forte nas suas exigências, que encobre aos mais atentos a percepção de fatos e acontecimentos de evidência indiscutível”. José Bonifácio, segundo nosso autor, teria dado pouca importância ao que ocorria na França. O fato é que, depois de 10 anos de estudos, José Bonifácio volta para Portugal. Ele já é homem maduro e reconhecido cientista europeu.
O governo português o contratou para trabalhar. Carreira na Universidade de Coimbra, intendente de minas, responsável pela sementeira de árvores e um sem número de cargos lhe foram dados. Quanto aos recursos, pífios. A situação de José Bonifácio é sintetizada pelo biógrafo do seguinte modo: “lutando contra a ignorância, embaraçado pelo desleixo dos que com ele deviam cooperar, visando a cada passo pelos invejosos, num conflito em que o meio mesquinho sufocava o homem superior, via José Bonifácio entre melancólico e irritado frustrarem-se os seus melhores propósitos”.
Deixemos Bonifácio na história por alguns momentos e miremos o Brasil de hoje. Grave é a situação, mas nem tanto. De todo modo, com a imprensa bombardeando informações (previamente selecionadas), é quase impossível ficar desatento aos acontecimentos, mesmo que bem menores do que aqueles da Revolução Francesa de 1789. Mesmo assim, hoje, apesar de tudo, as pessoas continuam tocando o cotidiano de suas vidas: trabalham, estudam, conversam e boa parte se reúne ao redor da churrasqueira para os almoços do domingo.
O segundo aspecto, também presente no Brasil de agora, diz respeito a atmosfera de pouca vontade e a sorrateira descrença de que é possível fazer diferente. Bem, não só diferente, mas talvez até melhor do que tem sido até aqui. É sabido que, para alcançar resultados diferentes, não dá para fazer sempre as mesmas coisas e com as mesmas velhas pessoas. Ou seja, para mudar é preciso fazer algo novo e com pessoas de ideias novas.
Quem imagina que vai melhorar o País, apenas trocando o governo, verá a decepção que o espera. Os mesmos invejosos, a mesma máquina pública emperrada, manterá tudo como está.
José Bonifácio voltou ao Brasil, terra nova, ajudou na independência de nosso País. Mas era apenas um homem e não conseguiu melhorar Portugal, que na época tinha muito mais recursos do que o Brasil, sua colônia. Continuou burocrático e modorrento, se comparado com outros países europeus.
Hoje, no Brasil, precisamos de uma Revolução. Não a Francesa, que trouxe mortes, mas aquela que o Senador Cristovam Buarque já sugeriu: a Revolução pela Educação. Mas, conseguiríamos fazer uma educação nova, com novos resultados fazendo sempre as mesmas coisas velhas e repetindo fórmulas fracassadas? Difícil saber o caminho promissor para a educação de nosso povo, fácil imaginar a frustração com a máquina pesada da administração pública. Esta é aliada da preguiça em querer mudar. Carpe diem (aproveite o dia, ou colha o dia de hoje).