Os trabalhadores em educação do Brasil ainda não se deram conta da terrível realidade existente no nosso sistema educacional. Gostaria de trazer a tona neste artigo uma reflexão fundamental sobre essa realidade.
[dropcap]P[/dropcap]eço desculpas pelo que vem neste artigo, quero que saibam que apesar do que será escrito aqui, minha palavra de ordem é ternura.
Sinto que não conseguiremos avançar nunca se não tomarmos consciência da existência de um gigantesco complô oficial para manter a educação nas condições de miserabilidade em que se encontra.
Não tomar consciência da grande armadilha e engodo é como um doente que não sabe da doença. Não ter a devida consciência será útil para que tudo permaneça como está.
Seremos eternos “militantes” úteis para a continuidade do desmonte existente na educação.
É extremamente dolorido afirmar e ao mesmo tempo assumir que nós professores, somos os reais responsáveis pelo processo que empurra cada vez mais esse instrumento fantástico de transformação social para um buraco mais profundo do que os poços que serão cavados para se retirar petróleo do Pré Sal.
Gostaria que cada trabalhador em educação do estado de Rondônia e do Brasil, verdadeiramente interessados em promover mudanças na educação; atentassem para as informações a seguir.
Em primeiro lugar, precisamos lembrar, que nem sempre tivemos a realidade atual de profundo desprezo a educação e seus profissionais.
Se fizermos uma pequena e simples pesquisa, vamos descobrir que na década de sessenta, setenta e início dos anos oitenta a realidade da sociedade brasileira era outra em relação aos valores éticos e morais.
Durante o período de Ditadura Militar, professor possuía mais prestígio do que qualquer outra profissão. Respeito, disciplina, moralidade e reconhecimento salarial faziam parte desse momento.
Não estou aqui exaltando o nefasto período político da época. Estou afirmando uma realidade que as pessoas não contaminadas pelos idealismos poderiam constatar com uma breve pesquisa.
É fato que, com os discursos de abaixo a ditadura, se embutiu a ideia de que no tal regime, nada funcionava nada prestava, tudo deveria ser substituído.
Sem nos darmos conta, substituímos os valores existentes no período, pelos valores presentes na atualidade. A “nova” elite que surgia precisava ocupar o vácuo deixado pelos militares e percebeu de forma contundente a necessidade de se desconstruir o principal personagem na manutenção e construção dos valores. Era preciso desconstruir a imagem do professor. Ele é perigoso ao possibilitar a inteligência e a politização de pessoas. A grande crise existente na educação, na verdade é resultante da destruição deste profissional.
Saímos da condição de grande prestígio social e chegamos à condição de profissionais periféricos, trabalhadores empobrecidos, desclassificados, desvalorizados. Um exemplo que ninguém quer seguir. Professor é o trabalhador brasileiro mais maltratado pelos governantes e demais patrões. É o profissional que mais atua e sofre desgastes com cargas de trabalho que adentram finais de semanas, feriados e férias e é o que menos recebe.
É preciso dez professores, para em um mês se juntar um salário de um médico, juiz, promotor, desembargador, etc.
Sabe-se Deus quantos professores para se juntar um único salário de deputados, senadores, etc.
Todos os servidores com formação equivalente, porém em outras áreas percebem melhores salários.
Professor virou uma espécie de “bobo da corte”, todos mandam no pobre, é o pai do aluno, o aluno, o diretor, supervisor, orientador e demais administradores escolares.
Queridos amigos de profissão, o negócio chamado educação acontece dentro da relação aluno professor, todos os demais personagens existentes somente deveriam existir para enriquecer, colaborar, valorizar, viabilizar essa relação mágica tão íntima e tão nossa.
Nós permitimos a desconstrução de nós mesmos ao aceitarmos as mudanças que provocaram ao logo dos últimos 26 anos, a hiper desvalorização de nosso tão nobre papel na sociedade.
Com o fim do regime maldito, engrossamos o coro com uma “nova elite” e defendemos coisas como: todas as pessoas independentes de formação escolar deverão ter direito ao voto. Todo e qualquer candidato deve ter o direito de ser eleito sem a necessidade de estudo.
Ao engrossarmos essa fila defendendo a “democracia” geramos o monstro. Os ideais de liberdade construíram uma sociedade onde jovens menores de idade podem tudo, inclusive matar. Quando completarem dezoito anos a ficha será limpa, exatamente igual ao jovem que nunca cometeu delitos.
Somos o único país no mundo que pretende combater criminalidade com penas brandas, isso ocorre, porque quem faz as leis anda na ilegalidade e quer leis brandas. São realidades que ajudamos a construir com nossa “luta e militância” em favor da democratização apregoada durante movimentos como as diretas já foram construídas.
Sem percebermos, colocamos para o mundo que educação não era importante, fundamental na construção de um novo país. A escola, e todos os seus valores não era algo imprescindível, entramos no jogo que permitiu a atual realidade.
Hoje o Brasil possui os políticos que possui e nós somos uma parte significativa da sociedade que construiu a realidade monstruosa que temos.
Nós cidadãos brasileiros existimos para alimentar o monstro. Como querer que esse Estado nos valorize?
Amigos professores, o Estado que temos se mantêm em função dessa lógica. Alimentamos um modelo educacional aonde todo mundo vai pra a escola, porém ninguém aprende. Um modelo de educação onde do primeiro ao último ano de graduação se ensina conteúdos sem o menor atrativo. A nossa escola é simplesmente inútil. Não sejamos mais ingênuos, a realidade está posta e nós fomos e somos parte de sua autoria.
Se, desejamos mudar alguma coisa, precisamos acordar para essa realidade e iniciar um processo de reconstrução de nossos valores, importância e imagem.
Em primeiro lugar é preciso que fique claro para todo mundo que quem deve mandar na escola e na educação nesse país é o professor. Não podemos permitir que outros personagens, muitos resultantes das disputas políticas como diretor de escola tenha essa autoridade que é nossa. Diretor é administrador, existe para que os aparelhos funcionem e auxiliem de forma eficaz no processo de ensino e aprendizagem. Aluno vai para escola para aprender e pronto. Pai de aluno deve assumir seu papel de apoio à escola e ao professor.
Secretário municipal ou estadual de educação é alguém que deve assumir compromissos com o funcionamento da máquina. Políticos como: prefeitos, vereadores, governadores ou presidente da república devem agir com sabedoria para que a educação seja um instrumento capaz de transformar as pessoas em gente capaz de gerar e administrar as riquezas da nação em proveito de toda sua população.
O processo educacional, o ensino aprendizagem, a impressionante força, energia, chama que promove o saber acontece na relação fraterna, honesta, ética, moralizante e rica de saberes entre professores e alunos, numa sala de aula de ouro ou madeira, com quadros digitais ou as velhas lousas de giz, alunos abastados ou pobres, de favelas ou condomínios do campo ou cidade. Com o professor recomposto de sua dignidade, autoridade moral, capacidade intelectual, a magia do aprendizado vai acontecer em qualquer local.
Nós professores devemos assumir as responsabilidades pelas verdadeiras mudanças na educação, ou seremos eternos bobos em um tempo onde bobos não fazem rir, produzem angustias e depressões.