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Michel Temer e a estratégia do bode

A estratégia do bode é bem conhecida, em especial por negociadores. Para compreender esta estratégia existe uma história que é mais ou menos assim: Uma família tem um problema. O problema dessa família são as queixas de todos contra todos. Ninguém está satisfeito com a vida que leva na pequena casinha. Os filhos reclamam dos pais, os pais se queixam dos filhos, a esposa diz que a casa é horrível e o marido, também insatisfeito, deu para reclamar todo dia o dia quase todo. A situação estava insustentável e, para piorar, um casal de cunhados pediu socorro para o dono da casa, pois precisavam morar ali por alguns meses até que conseguissem outra morada. Era difícil impor mais esse sacrifício aos filhos, que reclamaram à beça.

Consultando o velho pároco sobre o que deveriam fazer, o casal ouviu do padre o seguinte conselho: encontrem um bode velho e fedorento e amarrem dentro da casa, de preferência na sala de estar. Como eram muito religiosos e confiavam no padre, assim foi feito.

Depois de uma semana, ninguém mais suportava o mau cheiro e as cabeçadas do bode. Mas o padre insistiu: “aguentem mais um pouco”.

Na semana seguinte, com alguns hematomas, a mulher procurou o padre e quis saber se ele tinha certeza de que o tal bode, preso na sala, de fato ajudaria no relacionamento entre os membros da família. A mulher disse ao padre que eles brigavam ainda mais, por causa dos problemas que o bode causava. O padre, com sua costumeira sabedoria e paciência pediu que a mulher voltasse para casa, retirasse o bode e arrumasse a casa. Assim foi feito e todos ficaram muito aliviados. Era o fim do mau cheiro, do coco e xixi do animal e das cabeçadas. O Sorriso voltou ao rosto de todos e foi com esse sorriso que eles receberam os parentes.

Agora o Temer.

O governo do Presidente Michel Temer tem proposto a reforma da Previdência Social. Todo mundo já tem ouvido a respeito e, por isso, não vamos retomar os detalhes aqui. Apenas dizer que a idade mínima de 65 anos, e os 49 anos de contribuição para se aposentar com o máximo possível, tem recebido críticas contundentes. Quem assiste a TV Senado ou a TV Câmara, observa que mesmo alguns políticos aliados do governo têm se mostrado reticentes com a proposta. Isso para dizer o mínimo. De fato, a proposta do governo é muito dura.

Contudo, não fiquemos surpresos se em dado momentos o governo diminuir alguns quesitos básicos. Talvez ele decida que a idade mínima não será mais de 65 anos, mas de 62. Quem sabe?

A estratégia do bode ensina que é preciso cobrar algo quase impossível para, depois, ao recuar, chegar àquilo que se queria inicialmente. Desse modo, o governo Temer pode ter pensado em idade mínima de 60 anos (já que até o momento não há idade mínima para se aposentar). Então a proposta de 65 parece um erro. Se ele recuar para 62 anos, muitos irão respirar aliviados, julgando que é bom negócio, e que o presidente é gente fina, etc. Mais que isso, em tal hipótese (estamos trabalhando com hipóteses, óbvio), o governo ganharia 2 anos a mais do que pensou inicialmente.

Por enquanto Michel Temer tem cometido um erro político ao se apresentar ele mesmo em entrevistas coletivas para defender a proposta. Ensina Maquiavel que, quando é algo ruim, o governante deve deixar que os subordinados (nesse caso algum ministro) façam o anúncio. Quando for algo bom, o próprio governante deve dar a boa notícia.

Como os índices de popularidade do governo estão em baixa, e convencer os congressistas a aprovar a reforma da Previdência não vai ser fácil, ao ver a proposta ameaçada é possível que o governo recue, proponha algo mais palatável e, com isso, a popularidade do Presidente melhore.

O Brasil é uma casa que precisa de reformas, pois no futuro continuaremos a morar nela; com isso a maioria concorda. O tipo de reforma em que o trabalhador entra com o suor e pouco ganha com isso é o nó da questão. Temo que as coisas acabem como é de costume nas terras tupiniquins: a reforma vire gambiarra (como parece ser o caso), já que se exige dos trabalhadores mais sacrifício, mas quase nada se fala de outras partes da “Casa Brasil”, como a reforma política e a reforma tributária.

Pode parecer loucura a estratégia do bode, mas tenho pensado nisso. Pois, como explicar tamanha intransigência? Bem, talvez não seja intransigência, pode ser apenas estratégia política para fazer passar as reformas que o governo tem em mira. Só isso. Ou então, nada mais de aposentadoria com o máximo possível de vencimentos. Ou nada mais de aposentadoria, nada, nada, nada, nada, nada e morre antes. Pobre trabalhador brasileiro.





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