René Descartes (1596-1650) afirma que o bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída. De fato, não é comum ouvirmos pessoas dizendo que precisam ter mais bom senso.
O bom senso tem a ver com julgamento. O julgamento tem a ver com o valor que damos as coisas e às pessoas. A educação está sob julgamento quase sempre. Por educação entendo, aqui, tanto a formação para o convívio humano, quanto o conhecimento adquirido nas mais diversas ciências e artes.
Dois são os lugares onde a educação é focada sobre o indivíduo: a família e a escola.
O sociólogo francês Émile Durkheim ensina que o indivíduo nasce em uma sociedade plena de fatos sociais. Durkheim entende que fatos socias são as coisas que existem fora do indivíduo. Por exemplo, quando nascemos, já haviam os valores sociais da nossa sociedade. Eles são, portanto, fatos sociais. É pela educação que aprendemos esses valores. As pessoas mais velhas ensinam aos mais jovens aquilo que devem saber sobre os valores e o conhecimento geral das coisas. Os jovens ficarão velhos e ensinarão outros jovens. Gradativamente, contudo, os valores mudam, pois, o contato entre pessoas de realidades diferentes, somado ao pensar constante sobre o mundo e sobre si mesmo, conduz à criação de novas ideias gerando mudanças no modo de pensar e viver.
As ideias não movem o mundo, as ideias modificam os seres humanos. Pessoas modificadas por novas ideias movem o mundo de uma maneira nova. Nisso reside parte da importância que vemos no estudar e aprender.
Além da família, a escola é lugar de educação. Na escola deveríamos aprender ciências e artes e também sobre o convívio humano. O sucesso ou o fracasso no desenvolvimento do País está diretamente relacionado à educação nessas duas instituições.
Desenvolvimento não significa apenas criar mais riqueza material e pesquisa científica em si mesma. É preciso incluir a qualidade de vida na conta do desenvolvimento brasileiro. Qual a melhor vida? Essa pergunta depende muito das ideias que temos a respeito do assunto.
Imagine você um lugar de bom desenvolvimento econômico e mau Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Esse lugar existe e se chama Brasil. Não sou eu quem digo, ao menos não digo sozinho. Desde muito tempo há essa constatação. Cito aqui uma frase célebre: “a economia vai bem, mas o povo vai mal”, dita pelo presidente Médici em entrevista dada em 1974. Essa é uma frase síntese da distância entre a riqueza nas mãos de alguns e a vida sofrida da maioria de despossuídos. Além da pergunta sobre a melhor vida, outra mais específica poderia ser: é melhor ser rico vivendo no meio de uma multidão de pobres ou viver comodamente rico em uma comunidade de pessoas que estão bem financeiramente?
A sociedade mais bem organizada e próspera depende da educação, na família e na escola. Há um outro tipo de riqueza necessária e que só é alcançada pela educação bem construída. Uma educação que respeita a cultura local, o modo de ser das pessoas e as prepara para o entendimento do mundo, por meio do ensino. Isso depende de boas ideias, que só aparecem quando damos atenção a elas.
Os desaforos, injúrias e calúnias lançadas contra as instituições de ensino e seus profissionais por pessoas que confiam os próprios filhos às escolas, bem como autoridades que xingam professores chamando-os de vagabundos, entre outras coisas observadas nos últimos tempos, me faz pensar que Descartes acertou ao ironizar que o bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída. Afinal, julgar é necessário, mas julgar com educação é mais necessário ainda.