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O dia que se foi; artigo do professor Ivanor Guarnieri

Destemido e triunfante segue o jovem casal rumo à loja de materiais. Que os outros morram de inveja se quiser, mas eles se amam e vão juntos construir, um futuro e uma casa.

[dropcap]S[/dropcap]onhando edificar o Taj Mahal de sua cidade logo começarão as pequenas brigas e as disputas por esta ou aquela porta, aquele tipo de telhado e o forro mais bonito. O sonho é lindo, mas o dinheiro é pouco. Mão de obra, impostos, a madeira. Madeira? Mas nós não vamos construir de alvenaria? Para que tanta madeira? Pergunta a jovem. “Ela ainda não viu nada” pensa o vendedor.

Noutro lugar o burocrata feliz produz seu terceiro relatório do mês. Seu trabalho é fraco, mas os relatórios são maçudos. O chefe cobra e ele responde bem, páginas e mais páginas, anexos fotocopiados em profusão dão um ar de grandiosidade ao trabalho medíocre que realiza. Ah! os burocratas em seus templos, chamados de escritórios, como amam a profissão feita de papel e tinta.

O escritor, por sua vez, e sua necessidade de publicar. O doce sabor do cheiro do livro novo, com o nome estampado na capa. Livro que para em pé, como se diz. A mão do escrevinhador de obras desliza rápido no teclado. As ideias fluem. A tela do computador brilha, mas ele quer mesmo é corrigir os originais com caneta vermelha. A impressora, que ele apelidou de mini gráfica, engole e cospe papel. Corrige, vai ao computador, faz os acertos. Quer ler novamente no papel. Imprime tudo. Mais uma vez, e o cesto de lixo engoliu tanto que está engasgado. Folhas amassadas caem no chão.

Falta pouco para mais um livro que vai vender no máximo 300 exemplares, ser impresso numa tiragem de 500, 600. Disso tudo, se quarenta exemplares forem lidos até o final será uma vitória.

O leitor já deve ter percebido o ponto em comum das três situações acima. Os três personagens dependem da morte das árvores para a realização de seus intentos.

Trabalhar é preciso. Casar então nem se fala. Mas não desperdiçar também é imperioso. O burocrata que atira ao cesto folhas e mais folhas. O escritor exagerado, que imprime 1.000 exemplares do livro quando bastaria 150, estão aumentando a morte das árvores. Bem, são árvores de reflorestamento. Sim, mas árvores em todo caso.

A madeira da casa é um pouco diferente. O clamor para não desmatar a floresta existe. Porém, madeira comum ou nobre, pouco importa, o importante é cravar os pregos. Muita atenção no preço da madeira, nenhuma no tipo de vegetal que foi abatido. Você já viu alguém pedindo ou mostrando uma foto de árvore quando compra tábuas? Como será uma garapeira? E um cambará rosa? E o mogno em pé, assim vivinho, como será?

O que fazer? Parar? Não, o uso da madeira é indispensável. Contudo reaproveitá-la também. Quem sabe até uma indústria de reciclagem de madeiras. Achou estranho? Vamos achar cada vez mais aceitável na medida em que o preço desta mercadoria forçar a busca de solução. Na juventude de muitos senhores de meia idade era impensável colar tábuas, serragem, e outros restos de madeira. Prática cada vez mais comum nos tempos atuais.

Ivanor-ArtigosMas não é só com produção de celulose e tábuas que se faz a morte das árvores.  O fogo da mata, ou melhor, o fogo na mata e a constante poda e retirada de árvores na cidade torna a vida destes vegetais gigantes uma proeza e tanto.

Deixemos de queixumes, porém, já que existe o dia da árvore para comemorar, no qual agradeceremos escrevendo mensagens em papéis, com toda gratidão por ela ser nossa companheira desde o nascimento até a morte. Depois pode se comemorar com um churrasquinho de final de semana, que é muito bom, menos para a árvore que virou carvão e para o boi. Boi? Bom, essa já é outra história.

Ah, o dia que se foi é o dia da árvore, que também se foi, ou quase. Mas por favor, não deixe de ler jornal, ok? Nosso papel respeita a natureza, ao menos a natureza humana ávida por saberes.

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