Cresce em importância o papel da escola e a função social atribuída a ela.
[dropcap]Q[/dropcap]uanto mais desenvolvido o sistema capitalista, maior a necessidade de escolarização. A leitura e a escrita solicitada para diferentes profissionais são ensinadas principalmente na escola. De fato, pais zelosos tendem a querer o sucesso profissional dos filhos e sabem que o caminho da escola é uma possibilidade para alcançar tal intento.
Mas, em termos de realidade concreta, escola se diz no plural, escolas. São inúmeras as instituições denominadas como escola e que se diferenciam muito entre si. Para começar existem as públicas e privadas, as ligadas à Igreja e as laicas. As públicas diferem em municipais, estaduais ou federais. Cada uma com perfil próprio e com regime de trabalho dos professores específico.
Certamente que há o Ministério da Educação, os conselhos federais, leis, normas, portarias, os órgãos de fiscalização e muito mais. Um currículo mínimo deve ser cumprido, com disciplinas elencadas e colocadas no rol dos estudos dignos de consideração.
Contudo, para além de tudo isso, e do frio debate teórico, há a sala de aula, lócus de efetiva ação pedagógica. O pulsar diário das atividades desenvolvidas por alunos e professores, dá o tom da qualidade do ensino em nosso País. Discursos teóricos escritos em gabinetes com ar condicionado são importantes, mas nada substitui o calor da ação pedagógica desenvolvida por professores e professoras em classe. O descompasso entre os discursos sobre a educação e a realidade desta, pode ser observado cabalmente em escolas as mais variadas.
Exemplo de discrepância entre o que dizem as autoridades e o que vivenciam professores e professoras pode ser visto num dos vídeos mais acessados da internet. Trata-se do discurso da professora Amanda Gurgel do Rio Grande do Norte (http://www.youtube.com/watch?v=aC3u_hxa4JQ&feature=player_embedded). Breve e clara, sua fala expõe problemas vivenciados pelo profissional docente e, ao mesmo tempo, seu discurso se contrapõe a certas falas das ditas autoridades educacionais, a começar pela da Secretária de Educação na época daquele estado, senhora Betânia Ramalho.
O ponto central da análise da professora é a baixa remuneração oferecida aos docentes, de R$ 930,00. Com um salário assim, afirmou, colegas tem de se desdobrar cumprindo três períodos na escola, para fazer frente às despesas mensais com alimentação e transporte.
O vídeo indicado acima fez tanto sucesso que a grande mídia está recrutando a professora Amanda para entrevistas. Interesse pela educação? Talvez, mas maior interesse ainda na possibilidade de aumentar a audiência. Assunto sério, como é a educação, pode ser banalizado em programas de auditório de qualidade suspeita quando se trata de interesse público.
Apontada como salvadora, a escola tem sido incumbida de coisas que não lhe dizem respeito. Poucos, porém se perguntam quem salvará a escola, cujos exemplos de prédios mostrados na televisão estão, alguns deles, caindo aos pedaços, com diretores que trabalham protegidos por grades e com assassinatos agindo em seu interior como foi visto recentemente.
O discurso que apresenta a instituição escolar como panacéia e afirma que a educação é revolucionária, podendo ajudar a melhorar a sociedade, esconde que a escola é também sociedade e joga sobre ela uma carga de responsabilidade grande, sem a contrapartida desejada para que, de fato, a educação revolucione. Nesse sentido, a queixa contra os baixos salários diz muito de como a sociedade e as autoridades valorizam a escola.
Se vivemos numa democracia, a opinião pública tem grande peso nas decisões políticas. Ora, a escola é realmente importante, mas se fosse tida como tal, não estaria com tantas dificuldades, com verbas da merenda sendo desviadas no estado de Alagoas e a má consideração para com os profissionais do ensino que, na média, ganham muito menos que outros de igual formação. Só para ilustrar, nosso País é uma potência econômica, oitava economia do mundo, mas, em termos de educação, ocupa apenas a 88ª colocação nos ranking das nações. Isso já mostra muito da valorização do ensino.
Como ninguém dá o que não tem é preciso olhar com atenção para a formação docente. Mais do que isso, depois de formados e já atuando, que possam, com tranqüilidade, atualizar-se, sem sobrecarga de trabalho. Professores sufocados com trabalho burocrático e longe de sua função primeira que é ensinar, é algo que atrapalha o desenvolvimento do Brasil.
O tempo do docente está cada vez mais mal aproveitado, com salas de aula lotadas, e com pessoas esperando que a escola, semiabandonada como está, resolva problemas que não são de sua alçada. Tem razão a professora Amanda Gurgel em reclamar e afirmar categoricamente a impossibilidade de ser a salvadora do mundo.
Os engravatados depois de estudar esquecem a escola, mas sem educação não conseguiriam ler uma linha sequer deste artigo. É oportuno pensar nisso, sobre o papel da escola e sua função social, antes de jogar problemas e culpas sobre os ombros docentes, pois estes, mesmo num oceano de precariedades, se desdobram na tentativa de levar crianças e jovens para um lugar mais aprazível na vida.