O título acima comporta uma série de lições passíveis de análise.
[dropcap]C[/dropcap]omecemos comparando. A esquerda de hoje, em especial no Brasil, está do lado de dentro dos muros do Palácio da Alvorada. Há quem diga que sequer existem direita e esquerda. Fernando Henrique Cardoso relativizou esses conceitos em entrevistas ao Jornal “O Estado de São Paulo”, ainda quando era presidente do Brasil. No passado mais distante, no passado do jovem professor Fernando Henrique, encontram-se ideias típicas de quem estava de fora da casa, e até mesmo de fora dos muros do palácio. Naquele tempo, década de 60, ele se encontrava exilado no Chile, por conta do Regime Militar. Tido como marxista, taxado de comunista, os dirigentes militares do período resolveram tirar-lhe o direito de dar aulas na Universidade de São Paulo. Mas isso foi há mais de 40 anos.
Estando no principal cargo do País, trinta anos depois, o Presidente Fernando Henrique Cardoso tinha outras ideias. O Brasil também era outro e, em nome da democracia, muita coisa estranha foi e é feita. Na democracia se afirma que as coisas são feitas para o povo, que ele é soberano e, portanto, sua vontade é representada pelos ditos representantes. De fato, na democracia as cosias são feitas em nome do povo, mas não necessariamente para o bem dele. Sua vontade está longe de ser respeitada como tal, pois os doutos entendem que a Lei deve ser feita de um jeito que a maioria pode não concordar. Citemos um exemplo: certo ou errado, a maioria das pessoas mostra-se indignada com a violência causada por menores de 18 anos. Por vingança ou punição, a queixa contra a quase impunidade de assassinos causa indignação; os mais de 50 mil assassinatos de 2014 em nosso País reclamam solução. Os doutos, contudo, parecem discordar dessas ideias. Se a voz do povo é a voz de Deus, para os que se acham doutos essa voz não precisa ser ouvida, e se ouvida, não precisa ser seguida.
Noutro governo, depois do de FHC, e de tendência esquerdista mais acentuada, o povo assistiu o Presidente Lula negar a deportação de um condenado pela justiça italiana. Cesare Battisti fugiu para o Brasil. Julgado e condenado na Itália, o governo soberano daquele país solicitou ao soberano governo de nosso País a extradição do mesmo. Processo judicial se arrastando até que o Supremo, instância máxima da Justiça brasileira julgou que Battisti deveria ser entregue à Justiça de sua terra natal. Cabia porém ao presidente Lula decidir; a palavra final era dele. E Lula disse não aos italianos. Cesare Battisti era de esquerda. Antigo membro dos Proletário Armados pelo Comunismo, teria matado ou colaborado na morte de quatro pessoas na década de 70 naquele país.
Recentemente a Presidente Dilma fez esforços para salvar a vida de dois brasileiros presos na Indonésia. O primeiro esforço falhou; o governo indonésio aplicou a lei de seu país e executou Marco Archer, acusado de tráfico de drogas. Despeitada, a presidente de nosso país (aí que vergonha), deveria receber as credenciais dos novos diplomatas de alguns países. Entre eles estava Toto Riyanto da Indonésia. Recebeu de todos, menos deste que (em linguagem simples) foi como que expulso da cerimônia.
Não precisa arrolar mais casos aqui, já que todo mundo tem assistido pela TV. Basta dizer que a voz do povo está sendo pouco ouvida em vários desses casos. Há uma distância que aumenta dia a dia entre o que as pessoas pensam que deveria ser feito e aquilo que os intitulados representantes do povo tem feito. Isso inclui evidentemente a Presidente Dilma, mas ela não é a única.
Como quase todo mundo de bagus plenus (eu ia escrever aqui “de saco cheio”, mas quero evitar expressões mais grosseiras e por isso o latim veio a calhar). Como dizia, quase todo mundo de saco cheio (dane-se o latim), a Presidente Dilma esqueceu a aula que Fernando Collor de Melo deu sobre o que não se deve fazer. Lembremos: a maioria da população estava aborrecida com ele e Collor resolveu fazer um pronunciamento na TV pedindo apoio do Povo. “Minha Gente, não me deixe”, e pediu que colocássemos uma fita verde amarela no braço em sinal de apoio. Deu no que deu. A fita foi colocada, só que preta em sinal de luto, e o verde amarelo coloriu o rosto de muitos jovens contra Collor. Qual a lição? Quando as pessoas estão com raiva de você, não peça ajuda delas. Às vezes, é melhor nem tocar no assunto, não “puxar conversa”.
Onde está a dita lição da esquerda de ontem, útil para a pseudo esquerda de hoje? Apelemos para o teórico (dito de esquerda) Lucien Goldmann. Em “Dialética e cultura” ele ensina que o público tem uma espécie de peneira teórica construída de ideias. Assim, se as pessoas acham que um tipo de cor, digamos, o vermelho, é desagradável e representa tudo que há de mau, se alguém fizer uma palestra elogiando esta cor atrairá a antipatia do público. Se insistir em elogia o “vermelho”, corre o risco de ser vaiado e expulso do recinto.
Então, a falta de sintonia entre o que o governo da Presidente faz e o que a maioria quer; a falta de sintonia entre as atitudes de Dilma e aquilo que o povo pensa, por enquanto, estão só na vaia e no panelaço, como o de domingo (08 de março). Mas parece crescer a vontade de vê-la “expulsa do palácio”. Talvez isso nunca aconteça. Mas, se acontecer, será que ela poderia fazer a gentileza de levar mais alguns consigo? Para começar: que tal a moçada que foi citada na lista do Janot?