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O que Paulo Freire nos ensina sobre a democracia brasileira

Em “Educação como prática da liberdade”, Paulo Freire analisa o conjunto de nossa história para afirmar coisas importantes sobre os dias atuais.

Para suas análises, o Educador pernambucano cita autores tidos por alguns como conservadores. Paulo Freire se apoia em Gilberto Freyre, Fernando de Azevedo, Padre Vieira, Oliveira Viana, para citar apenas alguns. Mas, isso é o de menos. Importante é o que Paulo Freire faz com as informações que colhe em textos já classificados como clássicos.

Falando de Brasil, lembra-nos o autor que quase não tivemos ambiente para a democracia. No período colonial, que vai até 1822, os engenhos e o tipo de produção, eram realizados em grandes fazendas. Nestas, o que predominou foi o mandonismo dos senhores de engenho e a obediência muda dos demais. Tudo girava em torno dessa realidade, pois, para se proteger, as pessoas se colocavam sob a proteção do senhor de engenho, e, com isso, se submetiam aos seus mandos e desmandos.

Se na vida rural que era quase toda a vida do Brasil, naquela época, as coisas estavam nesse pé, nas pequenas vilas nada contribuir para a inserção do povo na política. As assembleias de “homens bons” nas câmaras municipais só permitiam o acesso dos mesmos homens mandões dos engenhos e fazendas. O ridículo da situação é ironizado por Paulo Freire, quando comenta o caso dos filhos ricos da terra que iram para a Europa estudar. “Doutores formados na Europa e cujas ideias eram discutidas em nossas amplamente “analfabetizadas” províncias, como se fossem centros europeus” (p. 78 da edição de 1967, de “Educação…”).

Não havia prática democrática, o que havia era uma certa disposição mental (frame of mind, na expressão de Zevedei Barbu) para a obediência muda. Acostumados ao mando, os agregados e escravizados nas grandes fazendas teriam se acostumados a pensar e agir individualmente, procurando cada um manter-se vivo ante a violência dos poderosos. Não podiam falar, só recebiam ordens.

Ora, sabemos desde Tocqueville que a democracia deve ser feita com as próprias mãos. Ou seja, não adianta importar modelos estrangeiros de governo e formas políticas para resolver problemas que são nossos.

Quais são os problemas nossos de hoje? Vários e para todos os gostos. Grandes empresas dão dinheiro para alguns políticos. Estes se elegem e criam benesses para essas grandes empresas. Para isso, os políticos tiram dinheiro do povo para beneficiar esses novos senhores de engenho brasileiros. Como? Com isenções fiscais, com perdão da dívida de grandes empresas junto a Previdência, entre outros mimos. Outro dia a imprensa noticiavam que o Rio de Janeiro está quebrado e, por isso, precisava aumentar a cobrança previdenciárias dos trabalhadores daquele estado. É o mesmo discurso do atual governo federal, de que a Previdência está quebrada e se não cobrar mais do trabalhador (nesse caso, aumentando os anos de trabalho), não vai ter aposentadoria. Mas, essa mesma imprensa televisiva (devidamente patrocinada por grandes empresas), cometeu o deslize de informar também que os governos do Rio de Janeiro isentaram de impostos alguns setores empresariais por lá. Bingo: Sérgio Cabral na cadeia por ter feito o que todos já sabem, ajudou grandes empresas dizendo que era incentivo à produção. Essas empresas se viram livres de pagar impostos e receberam incentivos daquele governo. Logo, faltou dinheiro… que agora o trabalhador do Rio de Janeiro é chamado a pagar.

Grandes empresas devedoras da Previdência pagam campanhas políticas para eleger deputados que votam a favor da Reforma da Previdência. Quem quiser saber mais sobre a falácia da falta de recursos da Previdência, acesse a TV Senado http://www.senado.gov.br/noticias/TV/Video.asp?v=443559&m=440725

Mas, o que observamos hoje? O povo se mostra anestesiado. Por quê? Não sei dizer exatamente. Mas parece que coisas importantes são vistas (ou nem vistas) pelos brasileiros, e coisas bobas como piadinhas são acessadas ininterruptamente. Que o diga o Facebook, onde postei uma piadinha que recebeu comentários e foi compartilhada, e onde coloquei o mesmo site acima sobre a Previdência e ninguém deu bola.

Nossa tradição democrática não vinga, pois, o povo brasileiro parece estar no ano de 1889, assistindo bestializado os acontecimentos, inerte e anestesiado. Há, ainda, a atitude daqueles que defendem as reformas propostas pelo atual governo, que é, evidentemente um recuo histórico inacreditável. Mas, é compreensível, já que além da falta de experiência democrática, nossa atitude mental é ainda dominada pela obediência aos donos da Casa Grande.

Bem, apesar de certa verborragia, Paulo Freire continua nos ensinando a ler o mundo.




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