Onde você quer estudar? Em que tipo de universidade? Em qual curso? Essas perguntas, aparentemente simples, rondam a cabeça dos estudantes mais sabidos e dos pais mais atentos. Pais atentos e estudantes sabidos, pois os outros não estão nem aí.
De fato, a vida que a pessoa terá depende das decisões que ela toma no presente. É importante saber o lugar onde o estudante vai buscar conhecimento e preparação profissional. Nesse sentido, como tudo depende da cabeça da pessoa, para que ela decida com qualidade sobre sua própria vida profissional, é necessário cuidado em relação ao lugar onde ela vai encher a cabeça de conhecimentos ou apenas ser iludida com diplomação fajuta (nossa, perdão, hoje estou dizendo coisas mais diretas).
O filósofo Michel Montaigne (1522 – 1592) escreveu um belo ensaio intitulado “Da educação das crianças”. Nesse ensaio, aconselha uma jovem mãe, que está grávida, sobre a educação que dever dar ao filho que irá nascer. Entre as recomendações está a da escolha do professor (a) para a criança. Segundo o filósofo é preciso escolher um professor com a ‘cabeça bem-feita’, mais do que excessivamente cheia. Cabeça bem-feita significa, entre outras coisas, saber o que e como ensinar às crianças. Evidentemente, não é um professor que sabe tudo, mas também não pode ser um cabeça oca, pois é muito difícil encontrar alguém que esteja bem preparado para ensinar se não tem leitura e conhecimento em boa medida. Ou seja, ninguém ensina o que não sabe e, por isso, uma cabeça bem-feita implica conhecer a matéria que leciona e muito mais.
Dito isso, poderia parecer que o requisito é o diploma. Bem, ele é elemento importante. O diploma parece atestar que a pessoa que o possui é preparada. Mas isso, às vezes, é um engano terrível, pois torna o portador do diploma prepotente e acomodado, achando que sabe só porque houve uma colação de grau e um reitor que assinou o documento, no qual se lê que o portador do diploma está titulado para lecionar esta ou aquela matéria.
Antes que me acusem de desmerecer a diplomação (longe de mim fazer uma tal ofensa às nossas instituições, quem sou eu, por favor, perdoe o deslize), julgo que a diplomação é importante, mas está longe de ser tudo que precisamos para mais bem avaliar o desempenho dos professores (em todos os níveis, diga-se de passagem). Senão, vejamos:
A Times Higher Education publicou este mês o resultado das avaliações das universidades do mundo. Não houve surpresas para as universidades norte-americanas. Novamente a Universidade Harvard ficou em primeiro lugar, tendo como novidade o Instituto de Tecnologia de Massachussets em segundo lugar. Bem, das 10 primeiras colocadas, oito universidade são norte-americanas e duas inglesas (http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2016/05/1767999-usp-despenca-40-poiscoes-em-ranking-de-melhores-universidades-do-mundo.shtml)
Que isso tem a ver conosco? Bem, a única universidade da América Latina na lista das 100 melhores do mundo é a USP – Universidade de São Paulo. Viva! Porém, ano passado a USP estava entre as 51 e 60 melhores universidade do mundo e, este ano, está classificada da 91ª a 100ª posição. Ou seja, seus cursos caíram, em média, 40 posições. Por outro lado, ano passado os asiáticos tinham apenas 10 universidades na lista das mais bem classificadas, agora, em 2016, somam 18 universidades. Além de 8 universidades a mais, muitas delas melhoraram muito suas posições no ranking, com destaque para as universidades de Tsinghua (subiu 8 posições, ocupando o 18º lugar) e Peking (que subiu 11 posições, ocupando o 21º lugar, este ano).
Que tem isso a ver com a escolha do lugar onde queremos estudar? Tudo a ver. Há anos os asiáticos mandam seus filhos estudarem nas universidades americanas, onde aprendem o que precisa ser aprendido. Só que depois muitos deles voltam para seus países de origem e desenvolvem ainda mais e melhores pesquisas. Ou seja, patriotas ou não, o fato é que chineses, japoneses, coreanos e demais asiáticos tem ajudado seus patrícios ensinando nas universidades de seus países; ensinam aquilo que aprenderam nas melhores instituições de ensino superior do mundo. Para isso, é bem provável que eles tenham recursos como laboratórios, bolsas de estudo, vontade de aprender e ensinar, dedicação à ciência, repito a ideia: dedicação ao trabalho, alunos que querem aprender colocados em ambiente verdadeiramente de ensino e
pesquisa. Não se consegue ensinar quem não quer aprender. Não se consegue aprender sem materiais (laboratórios, bibliotecas, sistema de informática de nível). E, pelos resultados e classificação dos asiáticos, nem precisamos visitar as universidades de lá para saber que eles dão aos seus professores e alunos aquilo que aqui não tem nem com “reza braba”.
Bem, talvez isso não seja relevante. Talvez estejamos enganados, e queiramos mandar nossos filhos (e nós mesmos) estudar em instituições precárias, as de sempre. Nossos filhos sairão diplomados, de qualquer jeito. Então, dada a sociedade que temos, temos a universidade que temos. Na prática, nossa mentalidade coletiva pensa assim: um celular de R$ 1.000,00 não é caro, pois com ele podemos acessar a internet, os grupos de bate papo. Já um livro de absurdos R$ 40,00 é muito caro. Viva o povo brasileiro!