Um aguardado relatório do Pentágono foi finalmente divulgado na sexta (25), com a conclusão parcial de um estudo sobre 144 objetos voadores não-identificados (óvnis) visto pelas forças armadas dos EUA desde 2004.
O relatório afirma que só um dos 144 casos de observação de óvnis tem explicação. O relatório diz ainda que não há indícios de que os objetos voadores sejam extraterrestres, mas também não descarta essa possibilidade.
A investigação foi exigida pelo Congresso dos Estados Unidos depois que os militares relataram vários episódios de observação de óvnis se movendo de forma errática pelo céu.
O Pentágono então estabeleceu uma força-tarefa com profissionais especializados em fenômenos aéreos, em agosto do ano passado, para examinar os registros das observações.
O trabalho do grupo era “detectar, analisar e catalogar” esses eventos, bem como “obter informações” sobre a “natureza e origens” dos óvnis, segundo o Pentágono.
A liberação dessas informações também está alinhada com uma mudança cultural, com militares e políticos passando do ceticismo para a curiosidade sobre esses objetos voadores.
O que o relatório diz?
O relatório provisório divulgado na sexta-feira diz que a maioria dos 144 casos relatados de “fenômenos aéreos não identificados” ocorreram nos últimos dois anos, depois que os militares implementaram um mecanismo de notificação padronizado.
Em 143 dos 144 casos notificados, faltam “informações suficientes para atribuir explicações específicas aos incidentes”.
O relatório diz ainda que não há “indícios de que haja uma explicação extraterrestre” para os fenômenos, mas também não descarta essa possibilidade.
Os óvnis “provavelmente carecem de uma única explicação”, diz o relatório.
Alguns podem ser aeronaves de outros países, como China ou Rússia. Outros podem ser fenômenos atmosféricos naturais, como cristais de gelo que os sistemas de radar detectaram.
O relatório também sugere que alguns podem ser “atribuídos ao desenvolvimento secreto de projetos” de instituições governamentais americanas.
O único caso para o qual eles conseguiram encontrar uma explicação altamente confiável foi “um grande balão vazio”.
O relatório diz ainda que os óvnis representam “um claro problema de segurança de vôo e podem representar um desafio para a segurança nacional dos Estados Unidos.”
A força-tarefa está agora “procurando novas maneiras de aumentar a compilação” dos dados, acrescentando que um orçamento adicional poderia ser usado para “estudar mais as dúvidas levantadas pelo relatório”.
Quais as evidências até agora
O Departamento de Defesa dos EUA publicou em abril de 2020 vídeos de vários óvnis que foram filmados pelas forças armadas.
Em março, o ex-diretor de inteligência nacional de Trump, John Ratcliffe — que anteriormente supervisionou todas as 18 agências de inteligência dos Estados Unidos — resumiu o fenômeno dizendo à emissora Fox News: “Francamente, acontecem muito mais observações do que as que são divulgadas”.
“Estamos falando de objetos que foram vistos por pilotos da Marinha ou da Força Aérea, ou captados por imagens de satélite, que francamente são difíceis de explicar.”
Em um episódio do programa “60 Minutes” do canal de TV CBS, no mês passado, dois ex-pilotos afirmaram ter visto um objeto voador no Oceano Pacífico que parecia copiar seus movimentos.
Um piloto o descreveu como um “pequeno objeto branco parecido com um tic-tac”, referindo-se ao popular docinho branco alongado.
“Estava viajando muito rápido e de forma muito errática e não conseguíamos prever para que lado viraria, como estava manobrando, ou qual era o sistema de propulsão”, disse o ex-piloto Alex Dietrich à BBC.
“Não tinha rastro de fumaça ou propulsão aparente. Não tinha superfície de controle de vôo aparente para manobrar.”
Por que esse tema ganhou importância?
A pressão pública para que os Estados Unidos liberem o que sabem sobre supostos alienígenas vem crescendo há décadas, enquanto grupos civis coordenados por supostos ufólogos (especialistas em óvnis) argumentam que evidências sobre o assunto foram “escondidas” pelo governo.
O Pentágono vem coletando dados de forma discreta desde 2007, como parte do pouco conhecido “Programa de Identificação Avançada de Ameaças Aeroespaciais”.
O dinheiro para o programa veio a pedido do senador Harry Reid, do Partido Democrata. Ele representa o Estado de Nevada, onde se localiza a famosa Área 51 — a base militar onde os teóricos da conspiração acreditam que os restos coletados de um acidente alienígena na cidade de Roswell foram estudados desde 1947.
Ex-funcionários de alto escalão e até ex-presidentes recentemente deram declarações sobre o tema.
John Podesta, gerente de campanha de Hillary Clinton e ex-chefe de gabinete no governo de Bill Clinton (1993-2001), há muito um seguidor de teorias sobre óvnis, prometeu durante a campanha presidencial de 2016 que, caso Hillary fosse eleita, a Casa Branca divulgaria relatórios confidenciais do governo.
Em uma entrevista no ano passado, o então presidente Donald Trump disse que não revelaria — nem mesmo para sua família — o que havia aprendido sobre alienígenas.
“Não vou falar o que sei sobre isso, mas é muito interessante”, afirmou à época.
O ex-presidente Barack Obama foi mais objetivo em maio, quando disse ao apresentador de TV americano James Corden: “Quando assumi o cargo, perguntei: existe um laboratório em algum lugar onde estamos mantendo os espécimes alienígenas e as naves espaciais? Eles pesquisaram um pouco e a resposta foi não.”
“O que é verdade, e estou falando sério aqui, é que existem filmagens e registros de objetos nos céus que não sabemos exatamente o que são”, continuou Obama. “Não podemos explicar como eles se movem, sua trajetória… Então acho que as pessoas ainda levam a sério a tentativa de investigar e descobrir o que eles são.”
O esforço para divulgar o que se sabe oficialmente sobre os óvnis também encontrou apoiadores no Congresso, tanto entre republicanos quanto entre democratas: eles argumentam que o relatório acabará com um tabu entre militares, que podem se sentir inibidos em relatar possíveis encontros com objetos não-identificados para seus superiores.
BBC