– Cara, que beleza a consciência cívica de nossa gente, você não acha?
– Como assim? Consciência cívica? Você parece que saiu de uma aula de Educação Moral e Cívica.
– Nunca ouvi falar dessa aula!
– É do tempo da Ditadura Militar.
– Quando isso?
– Deixa pra lá. O que você quis dizer, João, com “consciência cívica de nossa gente”?
– Ora, o panelaço desta noite. Foi lindo. Todo mundo em sincronia, contra a corrupção.
– Opa, todo mundo não, eu não amassei minhas panelas. Só estranhei, pois não dava para estudar com o barulho dos vizinhos. Então fechei o livro e entrei no Google, digitei panelaço e aí entendi o porquê do protesto.
– Então Cara, pô, temos que protestar contra o que está aí.
-Também acho.
– A corja do PT que está no poder roubando a nação, Cara. É preciso ter consciência cívica.
– Você ainda não me explicou o que é essa consciência cívica, João.
– Ah professor, é que
– Opa, finalmente os bons modos voltaram. Gosto quando você me chama de ‘professor’, ao invés de ‘cara’. Sabe, não é por mim, é pela figura do professor que, bem ou mal, eu represento aqui na universidade. Mas, desculpe, prossiga.
-Então, PROFESSOR, é que nós que amamos o Brasil, temos que lutar por um país melhor; e as pessoas estão se manifestando para isso. Nunca vi o povo tão unido.
– João, você sabia que o panelaço foi convocado pelo deputado Marcus Pestana, de Minas Gerais. E que ele é do partido adversário do atual governo?
– É, ouvi dizer alguma coisa. Mas não lembrava o nome. Seja como for, você não acha que
– Senhor!
-Como?
– Senhor! Eu gostaria que você me chamasse de senhor. Não por mim, você sabe, mas como estou na universidade, se possível, é uma questão de respeito pela figura do professor. Eu sei que muitos preferem ser chamados de ‘você’, ‘cara’, ‘bicho’, ‘meu’, entre outras formas de tratamento. Mas, eu sei que as palavras trazem consigo a consideração que temos pelas pessoas. As palavras, João, revelam o que a pessoa pensa. Não é verdade? Veja, quando alguém fala está expressando aquilo que sente, pensa e, principalmente, como ela vê o mundo. Por outro lado, as palavras educam. Alguém que se esforce por mudar suas palavras e sua forma de expressar-se, mudará sua mente, pois, automaticamente ao se controlar e falar melhor, estará mudando seus pensamentos.
– Difícil hein ‘próf.’
– Pois é. Mas estávamos falando do panelaço.
– Então, professor. Eu gostei.
– Também achei interessante.
– Nós temos que agir. Não sei porque ainda não aprovaram o impeachment da presidente.
– Simplesmente não sei. Mas talvez quem está na oposição não queira que o governo atual acabe.
– Como assim?
– Bom, é só um raciocínio; mas pelo modo como as coisas estão sendo conduzidas, parece realmente que o atual governo roubou, cometeu erros incríveis. A TV, tem mostrado isso com muita insistência. A todo momento o caso Petrobrás é mostrado com ênfase. Pobre Petrobrás, desde Getúlio Vargas com problemas.
– Desde Getúlio, né professor.
– Sim, ele se suicidou acusado de estar nadando em um mar de lama. Na época, o petróleo brasileiro era visado por companhias estrangeiras, que nunca concordaram com a criação da Petrobrás.
Você já reparou que nós não temos nenhuma fábrica de automóveis brasileira? Pois o petróleo pode ser algo semelhante, não deveria existir uma empresa como a Petrobrás, nacional e poderosa.
– E daí professor?
– Eu não sei muita coisa. Mas, siga meu raciocínio: o governo atual precisa ser punido pelos crimes que possa ter cometido. Por outro lado, a impressão que dá é que a oposição quer apenas enfraquecê-lo para poder passar projetos de seu interesse. Lembra que o governo de Fernando Henrique queria mudar o nome para Petrobrax? Agora, o Pré-sal uma das maiores reservas de petróleo do mundo, pode acabar nas mãos de empresas estrangeiras. Aliás, isso já está sendo proposto, com a alegação de que o custo de exploração é muito alto; então seria melhor “privatizar” (leia-se, dar para os gringos) o Pré-sal. Além disso, João, a Lei da Terceirização foi aprovada na câmara, prejudicando trabalhadores como você. Outro dia um colega, o professor José, comentou que está sendo redigida a alteração das aposentadorias, passando o homem a se aposentar com 70 anos.
Não sei se isso é verdade. Como se dizia antigamente, acho que a atual a presidente tem “culpa no cartório”, mas como conheço o partido da oposição, que mandou bate em professores no Paraná e aqui em São Paulo tem problemas que só nós moramos aqui sabemos, eu não quis obedecer ao pedido do deputado Marcus Pestana de Minas Gerais, que é do PSDB.
– Ah, Cara, você tá errado. Fica aí defendendo o PT. Eu vou protestar contra a corrupção, vou fazer alguma coisa. Não dá para ficar parado.
-Bem eu não estou de nenhum lado, mas atento a coisas que possam prejudicar nossa aula que já vai começar. Vamos para a sala.
– Já tô indo professor. Só vou dar um olá pra galera ali.