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Povo Nambikwara Sabanê nega invasão de terra Cinta Larga: ‘conflito é fruto da negligência da Funai’

Aldeia está no local há 23 anos e estudos antropológicos comprovam que terra é originária da etnia Sabanê.

Aldeia Sawanê

O povo Nambikwara Sabanê entrou em contato com a redação do Rondônia em Pauta para esclarecer que nunca invadiu terras do povo Cinta Larga, com tem sido amplamente noticiado na mídia.

Em entrevista ao jornal, os representantes da etnia se manifestaram pela primeira vez, na imprensa, após o bloqueio da BR-174 protagonizado pela etnia Cinta Larga na sexta-feira, 19, confira a seguir:

Esclarecimentos sobre a ocupação

A visão pública atual é de que o povo Sabanê invadiu o território do povo Cinta Larga, o que nunca aconteceu. Existe hoje uma repercussão muito grande, a rede social é um meio de comunicação bastante rápido.

O que aconteceu é que não houve invasão, tanto é que nós estamos ali dentro e temos uma aldeia constituída ali há 23 anos e estamos amparados judicialmente com estudos antropológicos onde foi comprovada a habitação do povo Sabanê dentro daquele parque.

Tanto é que essa parte que está dentro do município de Vilhena só foi demarcada porque existia o povo Sabané dentro desse território.

Contexto histórico

Desde a passagem da linha de telégrafo, o povo Cinta Larga nunca habitou essa região. Não existe comprovação histórica, ou livro que comprove que o Cinta Larga habitava essa região.

O primeiro contato que o Marechal Rondon teve quando passou por aqui foi com o povo Sabanê, denominado na Nambikwara do Norte. Todo mundo sabe dessa história, todo o mundo tem ciência disso. E foi diante desses registros que foi feito o estudo antropológico para que o nosso povo voltasse para a terra originária dele. Tanto é que nós temos aldeias dentro desse território e nós temos pessoas com documento, com registro dentro do território com pessoas vivas ainda hoje.

Falha da Funai

A sentença só saiu porque a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) não conseguiu fazer o trabalho dele de uma forma completa, de uma forma concreta. Qual que seria o papel da Funai? Seria conversar com as lideranças do povo Cinta Larga e com as lideranças do povo Sabanê, para chegar em um consenso, o que não teve, foi omissa.

Durante 23 anos, a Funai foi omissa. Não fez nada para que pudesse sanar todos os problemas que hoje estão bem escancarados. Então, todo esse problema só surgiu porque a Funai foi omissa, foi negligente. Nós temos aldeias de 23 anos. Cadê a Funai trabalhando para que pudesse resolver todos os problemas? Porque quando o juiz determinou a sentença de que fosse delimitada uma parte para o povo Sabanê e uma parte para o povo Cinta Larga, a Funai simplesmente se calou.

De lá, até aqui, temos um ano percorrido depois da determinação do Ministério Público e a Funai não fez nada, foi por isso que foi sentenciada.

Desinformação e conflitos

A visão que o povo tem é de que o povo Sabanê invadiu o território de Cinta Larga. Como, se aquela terra é originária de nós? Se nós temos todos os registros ali dentro.

O povo Cinta Larga está falando que nós invadimos o território deles. Como que invadiu? Se nós temos tudo amparo judicial. Se nós temos comprovação antropológica que o nosso povo sempre habitou nessa região. Então é isso que eu quero que o povo entenda, que não houve invasão. Porque se você for pegar hoje na mídia, entra aí no Kawai ou no TikTok, está lá um monte de propagação de que o povo Sabanê invadiu, por isso que teve esse confronto e tudo mais. Nunca teve isso, não houve confronto porque a polícia chegou a tempo. Se não, com toda certeza teria acontecido.

Diálogo inexistente

Aquela sentença que teve uma parte revogada, está dizendo que houve um diálogo entre o povo Sabanê, o povo Cinta Larga e as coordenações da Funai e a Funai Brasília. Mas não foi assim, só teve a parte do Cinta Larga, porque a Funai só ouviu o Cinta Larga, a Funai não ouviu o povo Sabanê. Uma informação literalmente mentirosa e, de uma forma, podemos tratar isso como uma injustiça muito grande.

Parte do povo Cinta Larga está dentro do território Sabanê hoje. Isso já faz muito tempo. Inclusive, eu não queria poder falar isso não, mas a gente tem que ser bem aberto. Eles estão tirando madeira aí dentro da nossa área. E a gente nunca falou nada, nunca fez nada. Por quê? Porque a Funai não está cumprindo o papel dela. É uma situação complicada.

A mídia propagou tudo isso de uma forma, parece que, como se o Sabané tivesse invadido, isso não é quando na verdade. Somos originários da terra e, como a Funai foi tão negligente em delimitar uma parte, aí o Cinta Larga achou que todo o território é deles. Nunca foi, nunca vai ser, não tem como ser, judicialmente nunca vai ser. Sempre foi e sempre será dos Sabanê.

História e legitimidade

Só reforçando aqui, se pegar um contexto histórico da linha do Telégrafo, toda essa história não cita em nenhum trecho o povo Cinta Larga. Por quê? Porque nunca existiu nesse território.

Quando o presidente Roosevelt veio e viu esse território que tinha o Nambikwara do Norte, que é o povo Sabanê, determinou a preservação dessa parte para que futuramente o povo permaneça aqui, para que não indígenas não tomassem posse da grande área.

Então todo o povo Sabanê achou que a Funai tinha feito de uma forma diferente, não da forma que foi feito que demarcou e ficou como o Parque Indígena do Aripuanã.

Quando na verdade era para ter delimitado já essa parte do parque para o território Sabanê. Então, quando foi demarcado o Parque Indígena do Aripuanã em 1989, o Nambikwara do Norte saiu fora do primeiro decreto da fundação do parque.

Então, aí o povo Sabanê ficou fora, mesmo assim, a Funai sempre falava: “O território do povo Sabanê está demarcado. Se vocês quiserem voltar para a sua terra de origem, estão autorizados. Era para ter feito antes, não fizeram. Aí o que aconteceu? Aí em 2000, começou essa correria para poder retornar a sua terra de origem, porque o pai (do entrevistado) havia cobrado muita gente por causa disso. Aí em 2002, quando a parte da família voltou, criou a aldeia Sowaintê em 2002, a primeira aldeia, a aldeia principal que tem toda uma estrutura. A gente tem posto de saúde, a gente tem escola, ou seja, a nível do Estado, existe um conhecimento muito grande que essa aldeia existe. Então essa visão de que a gente teria invadido dá a impressão de que a gente entrou ontem lá.

Alunos indígenas em formatura do ensino médio

Temos a aldeia constituída há 5 anos que a aldeia Capitão Kina. Hoje nós temos quatro aldeias dentro do nosso território. Ali nós podemos dizer que é nosso território porque todo o amparo judicial está aí.

Se pesquisar a história do povo na Nambikwara tem várias histórias do povo, não só de agora, é de 1908, quando teve o primeiro encontro com os não indígenas nesse território aqui, também tinha o povo Tamandê.

O povo Sabanê quase foi dizimado na época da epidemia de sarampo. Consta que de uma população de mais de mil pessoas sobreviveram apenas seis adultos homens, fora as mulheres. Umas sete mulheres, se não me engano. Esse aí foi o que sobreviveu, que veio para Vilhena, que na época era aqui no museu.

Depois o Marechal Rondon os levou para o Espirra. O Espirra era antiga aldeia aqui no Perineus de Sousa. O Espirra era um local onde o Marechal juntava os indivíduos para poder ter cuidados, mas ali, vamos colocar assim, fomos escravizados.

É por isso que hoje nós perdemos a língua, perdemos a cultura, por causa disso. Saímos de um território que era nosso. E perdemos a língua, cultura, costura, tudo que era de bom, a gente perdeu.

Retorno e reconstrução

E a gente voltou para nossa terra depois de muitos anos. Estamos conseguindo resgatar muitas coisas e agora chega a esse ponto de nos deparar com essa e ouvir ainda os outros falar que a gente invadiu o território.

E é interessante dizer também que a gente não está tratando de um território, a gente está tratando de um parque. No conceito geral, quando se fala de um parque, um parque é habitável por todos os indígenas. Então, se qualquer indígena que fosse habitar dentro do Parque do Aripuanã hoje, ele tem o direito, um amparo legal judicial para poder estar lá.

Não trata de um território indígena, trata de um parque. E o conceito de parque é justamente isso, a junção de várias etnias dentro de um local. E aí vem o Cinta Larga dizendo que, ah não, invadiram o nosso território.
Não existe território Cinta Larga. Existe parque indígena do Aripuanã. O que está dizendo aí na sentença que foi determinada pelo juiz? Que fosse delimitado um território do povo Sabanê, que de fato é, porque os estudos comprovam isso.

O Rondônia em Pauta é o primeiro jornal a ouvir o povo Sabanê, permitindo esclarecer a verdadeira situação e combater a desinformação propagada nas redes sociais e outros meios de comunicação.

Por Rondônia em Pauta





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