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Qualidade; artigo do professor Ivanor Luiz Guarnieri

[dropcap]A[/dropcap] necessidade é a mãe de todas as atitudes. Esta frase repetida tantas vezes, é oportuna em tempos atuais. Mas as necessidades são muitas e de variados tipos. Comecemos pelas primárias. Pronto, o leitor já sabe que é a de alimentar-se, vestir-se, as necessidades físicas enfim. As carências físicas, como de comida, atormentaram boa parte da humanidade por séculos. Hoje não mais tanto. A produção de víveres ultrapassa a demanda de mais de seis bilhões de pessoas: obrigado ao homem do campo como diz a velha canção.

Mudemos de assunto, pensemos em outro tipo de necessidade. Não bastar estar vivo, é preciso estar bem consigo mesmo e com os outros. Dois problemas difíceis. É até possível contentar algumas pessoas, mas a si mesmo nem sempre é possível. Existe no ser humano a capacidade de aperfeiçoar-se, de criar, pensar, refletir, falar, e conhecer que o impulsiona para buscas incansáveis. Claro que há preguiçosos que ao chegar à terceira linha do texto já estão pensando em fazer outra coisa. Isso, porém, pode não ser culpa do leitor da obra. É que aquilo que está em suas mãos, não responde às suas necessidades. Ninguém quer perder tempo com algo que não lhe diz respeito, muito menos com estudos sobre coisas que não vai nunca lhe atrair.

O espírito, a inteligência humana se desdobra em mil direções procurando compreender os fenômenos. Um escrito será de qualidade se responder adequadamente às perguntas que o leitor faz. É nesse item que reside o nó da questão.

Uma sociedade na qual as pessoas pouco consomem ciência, isto mesmo, consumir ciência, isto é, pessoas que precisam se ocupar do trabalho braçal para arranjar a vida, dificilmente terá como se ocupar de problemas de ordem teórica. O conjunto de coisas simbólicas, o conhecimento elaborado, depende de se estar livre dos afazeres mais mecânicos. Não é possível ler e pensar filosofia, por exemplo, em meio à situação na qual o mais importante e urgente é consertar o cano da pia.

As perguntas que boa parte das pessoas se fazem o dia todo, e toda vida é como consertar o chuveiro, arrumar o almoço, fazer isto ou aquilo. Raramente alguém se pergunta por que fazer isso ou aquilo.

Ora, a situação política atual e da universidade tem muito a ver com as necessidades das pessoas. Os mecanismos do fenômeno político é algo que, parece, está para muito além da compreensão. Questões como representação política, coligação partidária, voto proporcional, forma de governo soam como língua estranha. A universidade, como espaço de produção e discussão do conhecimento bem poderia ajudar a pensar essas coisas, colocando-as em foco. Isso tem se mostrado mais trabalhoso do que parece. Primeiro que concorre  a aula, a conferência, o trabalho acadêmico enfim, com a TV brasileira. Bom, não vou aqui cair no buraco negro onde ecoam os queixumes contra esta dama de 60 anos. A TV é o que é, fazer o quê? O problema está do outro lado: E nós, o que somos?

Programas como Vila Sésamo, documentários como Globo Repórter já fizeram parte da grade da programação da Rede Globo. Hoje Vila Sésamo, e tantos outros programas, estão na Cultura, o Globo Repórter, que ainda existe, parece mais Globo Ecologia ou Receitas Culinárias para uma vida feliz. Mesmo o Jornal Nacional se mostra como programa de entretenimento, com notícias mais interessantes do que esclarecedoras. Esse jeito de fazer televisão mostra muito daquilo que o telespectador espera.

Os jornais impressos têm ficado estrangulados ante o domínio da TV e a disseminação de informações pela internet. Já não basta informar sobre tal e tal acontecimento. Dizer o que acorreu é parte do problema. Situar o leitor sobre tais fatos é a outra parte. A aposta em análises de conteúdo é um risco. O clube seleto de leitores de jornal aprecia cada vez mais isso. A proposta do jornal que trata com leveza temas difíceis se mostra adequada, mas restrita a um pequeno grupo. E no capitalismo o interesse é atingir o maior público possível.

Ivanor-ArtigosVoltamos então ao problema inicial. A necessidade move as atitudes. Enquanto as pessoas não sentirem necessidade de algo melhor, argumentativo, analítico, vão continuar usufruindo dos programas de quinta categoria de certos canais. Dá menos trabalho, embora sejam inúteis do ponto de vista da formação humana.

O jornal e a universidade têm muito mais a ver do que se suspeita. O  jornal ao difundir conhecimentos de forma escrita favorece o exercício da leitura, indispensável na formação humana. A universidade se cumprir com seu papel, aprimora os espírito por meio de debates, discussões e análises, favorecendo a leitura, entre elas a de jornal. Um escrito de qualidade deverá responder as questões do leitor, boas questões bem entendido.

Depois de alimentar-se, vestir-se, por favor, convém servir logo o prato da cultura, no qual se alimentam as grandes sociedades. Vilhena merece partilhar e consumir alta cultura também. As perspectivas são boas se se mantiver eventos acadêmicos de alto nível como é o SELL da Unir.

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