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Rondônia e Vilhena: somos o que pensamos

Duvido que alguém consiga ir além de sua própria cabeça. A cada momento a pessoa age de conformidade com o que ela pensa. Por outro lado, é possível modificar as ideias, mudando assim o modo de pensar e, consequentemente o de ver as coisas e de agir. O leitor pode fazer uma experiência de não mais de 10 segundos. Procure lembrar em coisas que pensava serem verdadeiras e hoje já estão desacreditadas. Faça um pequeno esforço em recordar alguma discussão na qual defendeu esta ou aquela causa, de modo firme e até exaltado. Veja se aquilo que defendeu com tanta ênfase, hoje está superado, e, quem sabe, até pense ao contrário daquilo que defendia naquela época.

Como ensina o filósofo Heráclito, nada é permanente, a não ser a mudança. As coisas mudam, as ideias se modificam. É importante então refletir sobre o que você, dileto leitor, está pensando agora, pois isso pode mudar seu destino. Parece autoajuda? Deus me livre e me guarde de usar desse tipo de expediente. Penso na própria força das coisas e do raciocínio a partir delas. Cuidar com o que pensa e procurar abastecer a inteligência com coisas proveitosas, decidir a partir disso, sem dúvida muda a vida da pessoa. Mas para isso é preciso acesso ao conhecimento. Nesse ponto, sobre o conhecimento, as coisas se embaraçam.

Conhecimento todos tem, já que se ninguém sabe tudo, também não há quem ignore tudo. O problema é que certos conhecimentos são meio chinfrinzinhos para serem tomados em conta quando as circunstâncias requerem decisão, acerto, produtividade, progresso. Saber acerca das últimas notícias sobre a separação, brigas, ou beijocas, ocorridos entre artistas, pouco proveitoso é. Assistir ao programa “Mais Você” da Ana Maria é até divertido quando somos obrigados a esperar pelo atendimento em consultórios, clínicas, laboratórios, tanto aqui quanto em outra cidade. Mas é difícil convencer-se de que aquilo sirva para algo mais do que passar o tempo. Ok, Leitora e Leitor, vocês venceram, ela tem audiência. Então as pessoas gostam. Logo é bom. Bom para quê? Se a maioria está com esses programas então está tudo certo? Nem sempre. Foi assim que mataram Sócrates e crucificaram Jesus. Coloco em dúvida a afirmação de que a voz do povo é a voz de Deus. Mas, deixemos o Criador, voltemos ao cotidiano do Vale de Lágrimas.

A luta necessária e justa pela cultura local tem mostrado alguns resultados. Mas o espelho do povo está em suas ideias, e para aprimora-las a ponto de valorizarem o próprio conhecimento local, é útil a capacidade em reconhecer-se como pessoa integrada e pertencente à própria cultura. Infelizmente, nesse ponto, estamos com a máxima russa na cabeça: “bom é onde não estamos”. Achar que o sul do Brasil é melhor do que aqui, é algo facilmente encontrável em nossa região. Já vi pessoas tomadas pela síndrome do vira-lata, de certo modo apontada pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso para nosso País. Consiste na característica dos que pensam que a sociedade na qual vive é inferior a outras, e, consequentemente, a verdadeira cultura estaria mais lá do que cá. É um modo acabrunhado de ver as coisas do lugar e tímido em relação à própria imagem.

Como mudar isso, sem cair na arrogância de achar-se superior aos de outras regiões? A resposta está no estudo. Somente o conhecimento pode mudar as ideias que a pessoa tem. Só o estudo da realidade local, vinculado a um saber mais amplo, podem ajudar a mudar as mentalidades. Para tanto, deveria concorrer os esforços da Universidade. Mesmo que a UNIR seja reflexo da sociedade rondoniense, bem poderia ser fator de mudança. Esforços não faltam de boa parte dos professores. O que falta mesmo são mais professores. Enquanto aqui em Vilhena os departamentos acadêmicos têm poucos professores. Professores que se desdobram em ensino, pesquisa e extensão, além de trabalhos burocráticos devido à falta de secretários.

Ivanor-ArtigosA esperança de que as coisas melhorem é abalada toda vez que um colega pede demissão e vai trabalhar em outra universidade. Os que ficam sabem que precisarão assumir os alunos dos professores que vão embora. Mais esforços em aulas e orientações, menos pesquisa, que é a fonte de onde é extraído o conhecimento, sem o qual as ideias pouco

mudam e a valorização da cultura local não avança no meio do povo, entre outras, por puro desconhecimento da história regional. Mudar é preciso. A reforma do pensamento também.





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