A frase a seguir é atribuída ao filósofo Stevenson. Segundo ele, “mais cedo ou mais tarde seremos chamados a tomar parte em um banquete de consequência”. Livros de autoajuda costumam chamar a isso de lei do retorno. Pessoas com inteligência treinada em ciência iriam dizer que se trata da relação entre causa e efeito.
Seja como for, pensei nisso semana passada quando me deparei com um texto que fala de uma ação singular, mas que tive grandes consequências. Na semana passada, a cidade de São Paulo estava de aniversário. Ela é o principal centro econômico do Brasil e uma das maiores cidades do mundo, com mais de 12 milhões de pessoas na Grande São Paulo.
É assombroso como as coisas começaram. Era apenas uma casinha, descrita por quem a viu com os olhos da cara: “Assim, alguns dos irmãos mandados para esta aldeia, que se chama Piratininga, chegamos a 25 de janeiro do ano do Senhor 1554, e celebramos em paupérrima e estreitíssima casinha a primeira missa, no dia da Conversão do Apóstolo São Paulo e, por isso, a ele dedicamos a nossa casa”. (Anchieta, Pe. José de. (1933). Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p. 38)
Do alto de seus 467 anos, São Paulo é hoje detentora do 5º maior orçamento do Brasil, bem à frente de vários estados. Mas essa cidade é muito mais que poder econômico, é, também um poder político invejável.
São Paulo recebeu migrantes de várias partes do Brasil, o que faz dela lugar privilegiado para ensaios de programas televisivos, peças de teatro e ideias políticas. A diversidade de pessoas que vivem nessa cidade dá um termômetro do como o restante do País receberia alguma nova ideia. Se tem Ibope em São Paulo, então dá certo.
Tanta força e poder acarretam responsabilidades. De certo modo, para onde pender as intenções de São Paulo é para lá que o barco-brasil irá se dirigir.
O Brasil é maior que São Paulo, óbvio. Mas os demais estados e cidades são muito heterogêneos e bastante divididos para fazer frente ao estado e a cidade de São Paulo; em especial quando se trata de organização política. Dificilmente alguém chega aos cargos mais importantes da nação se sofrer a rejeição do rico empresariado paulistano. Gente que tem dinheiro quer aumentar a própria fortuna sempre mais. Se houver sinal de que alguém está se destacando politicamente, e contrariar os interesses dos ricos, então, um tal serzinho desprezível será esmagado como uma mosca suja que sobrevoa o ambiente poluído dos acordos políticos.
Essas coisas não são ruins nem boas, são o que são. Ruim mesmo é nós não sabermos de nada disso. Ruim é não querermos saber. Ruim é termos sonegado nosso direito à informação.
Sonegar informações não é deixar de informar, mas é, principalmente, distrair as massas com milhões de notícias periféricas como se fossem boa notícia. Por isso, são fornecidos assuntos desimportantes capazes de alimentar horas do noticiário e suficientes para encher a cabeça das pessoas com meros assuntos. Quanto já vimos de casos de família sendo expostos nos jornais televisivos? Sabemos muito da opinião de fulana ou sicrana, e nada do que fazem os donos do poder. Quanto de informações políticas quentes, tiradas diretamente do forno dos bastidores do poder já tivemos acesso? Apenas só um cheirinho. O bolo político nem é visto. A balança pende para a bobice informativa sobre a qual brigam homens sisudos de posse intelectual em publicações facebookianas.
Gastar argumentos defendendo este ou aquele político é desconhecer onde se encontra o centro do poder. É hora de prestar mais atenção na Velha Senhora de 467 anos, e em seus homens, que são sempre sedentos de poder. O descuido com isso será servido como comida deplorável no futuro, no banquete de consequências que nos aguarda.