Quando eu era mais jovem, queria que as pessoas fossem como eu queria que elas fossem. Desse modo, era fácil criticar quem pensasse diferente, tivesse outra religião, votasse num partido político diferente daquele que eu colocava fé.
Na medida que envelheci, percebi que as pessoas queriam continuar sendo como elas queriam ser, nem menos, nem mais. Cada um é como é.
A partir dessa constatação, percebi também que o mundo ficava mais bonito com a variedade de pessoas que nele habita. Afinal, seria uma chatice olhar nos outros e só ver espelhos. Afinal, é do confronto educado de ideias que conseguimos perceber coisas que a pouco nem sabíamos que existia.
As pessoas, no geral, parecem passar por esses estágios de vida também. Primeiro, querem que os outros sejam do seu gosto. Querem que os outros concordem com elas tintim por tintim. Apontam os erros dos outros com a maior naturalidade. Não percebem que esses mesmos supostos erros poderiam ser seus, se tivessem vivido as mesmas coisas.
O desejo de viver a vida alheia é muito forte nas pessoas. Isso não significa assumir os riscos. Digamos de outro modo. Quem nunca viu conselheiros de plantão dando sugestões sobre como proceder em certos assuntos? Eles nem precisam ser chamados, se convocam e aparecem dizendo para os outros o que fazer. Geralmente fazem e fazemos isso com ares de muita inteligência e apurado raciocínio.
Há pelo menos dois problemas em dar conselhos aos outros. O primeiro é que mal conhecemos a nós mesmos, quanto mais a respeito da vida alheia. Sobre isso, lembro que, alguns anos atrás, uma aluna me perguntou o que eu achava de ela fazer certo curso superior, em Cascavel. Eu indiquei o guia de cursos, uma revista que estava na biblioteca do colégio onde eu lecionava. Ela não ficou satisfeita com a sugestão e insistiu, pois, afinal, queria uma resposta de alguém supostamente conhecedor das coisas. Mas ela me deu uma chave para a resposta. Disse que tinha muitas dúvidas sobre o que fazer na graduação. Com isso, pude responder que, se ela que se conhecia e convivia consigo mesma o dia todo, todos os dias de sua vida, estava em dúvida sobre a carreira profissional, imagine eu que a conhecia de poucos meses, e apenas nas aulas.
Conto essa situação singularíssima e bem particular, já pedindo desculpas ao leitor, pois é claro que você que me lê não quer saber da minha vidinha. Contudo, a resposta que encontrei para a aluna foi muito oportuna, para mim. Isso porque foi a partir desse episódio que percebi como é ruim querer que as pessoas sejam como nós queremos que elas sejam. Cada uma deve assumir a si mesma, com as alegrias e dissabores que suas escolhas trazem.
Disse que há dois problemas em dar conselhos. O primeiro é não conhecer a pessoa a ser aconselhada. O segundo, é que você poderá se tornar cúmplice, ou pior ainda, culpado, pelo que ela fizer. Se ela seguir o que dizes e der errado, no mínimo o sentimento de culpa aparecerá. E, em geral, dá errado, no seguinte sentido. Sendo várias opções, ao aconselhar que siga uma delas, você matou as possibilidades de execução das outras opções. Quem sabe melhores do que a sugerida no conselho.
Talvez, quando alguém te procurar, se tiver paciência, ouça-o muito e procure ver o que a própria pessoa já decidiu. Diga a ela que ela já decidiu e apenas quer ouvir uma confirmação. Mas deixe com ela a decisão. Em geral as pessoas já trazem na alma a resposta. Nesses casos, falar menos e ouvir mais é uma maneira de ajudar a pessoaa organizar seus próprios desejos. Já é muito.