Mantida pelo Ministério da Saúde com parceria da Prefeitura, local garante estadia e sigilo a soropositivos
Atendendo pacientes vivendo com HIV/Aids desde 2012, a Casa de Apoio São Francisco de Assis em Vilhena garante estadia, alimentação e sigilo aos soropositivos da região que precisam vir a Vilhena para exames ou tratamento e não têm condições de se manter por conta própria fora de seu município de origem durante o tratamento. O espaço recebe menos pacientes desde o início da pandemia, visto que moradores de outras cidades passaram a ser prioritários nos exames e tratamentos a fim de evitar que estes imunodeprimidos corressem risco de contaminação da covid-19 ao se hospedar na mesma casa com outros que não fazem parte de seu círculo familiar.
A casa é uma unidade subordinada ao Serviço de Assistência Especializada e Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE/CTA), coordenado pela psicóloga Zilda Golin, servidora da Prefeitura de Vilhena desde 1995. “O Ministério da Saúde liberou recursos para Vilhena ter uma casa de apoio desde 22 de março de 2012. São R$ 54 mil por ano para a manutenção dela. Quando o Ministério vem, olha os processos de compra com rigor, para garantir que os recursos sejam bem investidos. A contrapartida do Município é bancar o salário do cuidador da casa e dos profissionais de saúde. Estes últimos trabalham, conforme orientação do Governo Federal, dentro do SAE/CTA, atendendo aqui os pacientes da Casa de Apoio, normalmente”, explica Zilda.
CONTROLE DE GASTOS – O Ministério da Saúde fiscaliza e visita o espaço frequentemente. Inclusive nesse mês, está agendada visita de um dos representantes do Governo Federal tanto da casa como do funcionamento do SAE/CTA. A casa tem um cuidador, soropositivo, há cinco anos, que mora nela, com autorização do Ministério, sendo remunerado somente nos últimos dois. “Ele limpa, ele cuida, ele faz toda a manutenção da casa. Ele recebe os pacientes, lava roupa, limpa vômito, limpa tudo que for preciso de um paciente que tem sua imunidade baixa. É ele que fica noites acordado, quando necessário”, garante Zilda.
SIGILO DOS PACIENTES – Devido ao preconceito ainda presente na sociedade, a casa não tem identificação na fachada e não pode ter sua imagem ou localização divulgada. Uma das pacientes do SAE/CTA, representante vilhenense da rede mundial organizada de pessoas vivendo com HIV/Aids, destaca a importância do sigilo. “São 26 anos que a gente vem lutando aqui como paciente. Eu achei um absurdo eles irem lá filmar. Aquilo ali não pode ser mostrado para todo mundo. Então, a gente se sentiu mal. Isso não é coisa pra ninguém fazer, não. Tem muito preconceito ainda”, lamenta.
Desde 2019 o registro dos pacientes atendidos não é feito mais na casa, visto que outros que viessem a se hospedar ou ir até o local poderiam ter acesso aos nomes, chegando à direção do SAE/CTA ter registrado pessoas alheias à residência terem fotografado a lista de usuários. “Desde então fazemos o registro do nome dos pacientes aqui no SAE/CTA. Está tudo aqui e não lá. Temos cerca de 5 mil pessoas com o vírus dentro de Vilhena. Nenhum deles anda com uma plaquinha escrita: ‘Eu tenho HIV’. Porque, por direito deles, eles têm direito ao sigilo”, explica Golin.
FUNCIONAMENTO NA PANDEMIA – Normalmente a Casa de Apoio São Francisco de Assis recebia, em média, antes da pandemia, oito pacientes-hóspedes por mês, que ficam o tempo necessário para realizar seu tratamento na cidade. O local é frequentado por pacientes de todos os municípios do Cone Sul, do Noroeste do Mato Grosso, da Bolívia e os que estão em trânsito pela cidade, como andarilhos e motoristas de caminhão.
Desde março de 2020, com o advento da pandemia, os atendimentos foram restringidos para a segurança dos usuários. “No grupo de risco da covid-19 estão os doentes de Aids, pois têm o sistema imunológico comprometido. Estamos falando da possível junção de dois vírus gravíssimos. E, assim, resguardando a saúde dos pacientes, nós começamos a atender com prioridade o paciente de fora, pausando os atendimentos locais quando chega um de outra cidade. Isso para que ele venha, seja atendido e retorne à sua cidade em outro município com segurança. Se ele precisasse dormir numa casa junto de outras pessoas que não são do seu círculo familiar, isso representaria um risco grande de contaminação do novo coronavírus”, ressalta Zilda.
OUTRO ENDEREÇO – Inicialmente funcionando em residência alugada no bairro 5° BEC, a casa teve de ser mudada para outro bairro devido ao espaço não oferecer condições sanitárias e de segurança adequadas para os pacientes. A pedido dos usuários, a residência teve seu endereço mudado. Zilda ressalta que todas as vezes que houver a quebra do sigilo dessa casa será inevitável lidar com diversos pedidos de alteração do endereço da residência, para fazer a manutenção da segurança social destes pacientes.
REFERÊNCIA NACIONAL – Vilhena tem a única casa de apoio para soropositivos de Rondônia, sendo considerada referência nacional no combate à Aids. “Nós capacitamos pessoas de outros SAEs, quando vão abri-los. Nós todos, técnicos aqui, fomos capacitados por anos para estar aqui. Então, nós não brincamos com o dinheiro público. A gente faz o melhor para a população desde 1995”, completa Zilda.
Conforme divulgado pela Prefeitura aqui (http://vilhena.ro.gov.br/index.php?sessao=c004b5d4d0vfc0&id=1301145), a Casa de Apoio iniciou suas atividades em março de 2012, logo após visita de Zilda a Porto Velho na “Oficina de Construção do PAM – Programa de Ações e Metas do Governo Federal”. Os recursos do Ministério da Saúde começaram a vir para Vilhena após a publicação da portaria n° 2.895, no fim de 2012.
Em 2020, a existência da casa em Vilhena foi destacada aqui (http://www.vilhena.ro.gov.br//index.php?sessao=b054603368vfb0&id=1416953), no dia 1° de dezembro, quando é lembrado o Dia Mundial de Combate à Aids.
SÃO FRANSCISCO DE ASSIS – O espaço recebeu, em sua fundação, o nome do santo católico que deu origem à ordem dos Franciscanos, São Francisco de Assis, visto que pregava a simplicidade (boa parte do material da casa foi recebido através de doações de voluntários) e dos cuidados com a saúde. Dentro das práticas do santo, era dada atenção especial ao corpo humano, a quem ele chamou de “Irmão Burrico”, pois ao mesmo tempo que ele era um inimigo e uma grande fonte de pecado, também era um instrumento para a salvação por ser o único veículo através do qual se podia levar a cabo todo o trabalho. O corpo era, para São Francisco, o campo de batalha onde se efetuava a luta espiritual e, por isso, devia ser constantemente mantido sob estrita vigilância e disciplina férrea. Segundo ele, todas as aflições e doenças corporais deviam ser aceitas com paciência e alegria e encaradas como formas de purificação.
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