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Nunca ajude um desgraçado; artigo do professor Ivanor Luiz Guarnieri

A cruel frase ouvida por mim em Porto Velho, nos idos de 2009, me deixou chocado. Chocado mas só nos primeiros minutos. Depois de refletir e, passando o tempo, ela foi assimilada.

[dropcap]A[/dropcap] cena é a seguinte. De um lado eu, do outro um médico. Entre nós vários exames com os quais eu me habilitava física e mentalmente a assumir um cargo público. Estava tudo nos conformes: laudos, perícias, exames, atestados, e assemelhados. A partir dessa constatação o Doutor puxou prosa. Foi rápida a conversa, pois tanto eu quanto ele tínhamos mais que fazer. A certa altura, querendo saber de onde vim e porque que estava ali, ele comentou brevemente de quando chegou por aquelas paragens, em anos pretéritos. A certa altura, num dos volteios da conversa ele saiu com a frase terrível. Gelei, perguntei: “é mesmo?” e ele foi enfático em dizer que sim.

Vim para Vilhena encucado. O tempo passou e a frase ficou lá, latejando no cérebro.

A solidariedade é um valor incalculável. Podendo ajudar e sendo solicitado a fazê-lo, é um refrigério para a alma. Tudo isso e muito mais se houve aqui e acolá, nas igrejas e escolas, onde se ensina bons modos e a importância de ajudar as pessoas, de não ser egoísta, de não querer tudo para si, e muito mais.

O problema é quando a solidariedade vicia os solidarizados. Alguns podem se acostumar vendo os outros dar para eles coisas que deveriam buscar por si mesmos. Se  ajudar é uma virtude, trabalhar não é virtude menor. Mas a mendicância vicia. Pedir esmolas em centros urbanos maiores virou profissão. Isso mesmo, profissão! Não reconhecida pelo Ministério do Trabalho, mas profissão. A ponto de carros “vans” buscarem e trazerem pedintes nos pontos mais cobiçados da cidade para pedir esmolas. Os pontos melhores são aqueles perto da saída de lotéricas e bancos, onde moedas e trocos abundam nos bolsos dos apostadores e clientes, dispostos a, solidariamente, dar uma esmolinha.

Quando era guri (hoje estou com 47) meu irmão mais velho foi à Curitiba. Ao passar por cegos com seus óculos escuros e que mendigavam segurando uma espécie de xícara na mão, meu mano pegou uma nota e fez que colocaria na xícara, porém levou-a mais adiante. Milagrosamente o “cego” movimentou também a xícara acompanhando o papel-moeda, com medo que o dinheiro caísse no chão.

Quem não tem alguma história para contar sobre dinheiro emprestado para ajudar alguém numa dificuldade extrema e depois viu esse alguém se esbaldando ao desperdiçar esse mesmo dinheiro em festa, que se pronuncie. Quem economiza se priva de usufruir do dinheiro pensando no futuro. Depois empresta esse mesmo dinheiro para socorrer alguém que pode ter sido imprevidente. Esse alguém ri feliz e corre o risco de  devolver o dinheiro quando Deus fizer as galinhas voarem como águias.

Ivanor-ArtigosQuase me esquecia da frase dita pelo doutor da capital: “nunca ajude um desgraçado, você pode acabar no lugar dele”. Eu não conhecia esse ditado quase popular e decidi não aprender na prática o que isso significa. Mas como o mundo é feito pelos zelosos  para usufruto dos espertos, pode ser oportuno guardar essa frase. Quem sabe num momento de solicitação de nossa ajuda não tenhamos de lembrar-se dela. Quer um exemplo? Vai lá: Alguém tem um desafeto importante e não tem coragem de tomar uma decisão. Procura conselhos dos outros. Encontra você e pede  o que você acha. Tentando ajudar você sugere que ele crie coragem de dizer o que pensa a respeito daquela pessoa. Ele vai lá e diz com todos os “efes”  que você disse para ele fazer ou dizer isso ou aquilo. Logo a culpa não é dele, mas sua. Ao ajuda-lo você acabou no lugar dele, pois o que era um problema só dele agora é seu também. Se duvidar logo será só seu.

Dura vita, sed vita. A vida é dura, mas é a vida.

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