É difícil acreditar, mas o Brasil já foi muito mais corrupto, calhorda, desigual e injusto do que hoje.
[dropcap]O[/dropcap] leitor tem todo o direito de duvidar sobre essa afirmação, porém, gostaria encarecidamente de justificar tal afirmativa.
Devemos lembrar que as poucas conquistas sociais são recentes em nossa história, lembramos que há pouco mais de cem anos vivíamos um vergonhoso regime de escravidão. Direitos e leis para o trabalhador, escola pública e voto para as mulheres somente surgiram há pouco mais de sessenta anos com o governo Vargas em 1934.
Trinta e cinco anos no passado a grande maioria da população era analfabeta de pai e mãe e moravam na roça.
Com esse panorama, fica claro, que o Estado não era fiscalizado, ficando absolutamente voltado para interesses elitistas. Algo em torno de um por cento da população se beneficiava, utilizava o estado nacional como seu.
Saímos de uma condição onde o “povo” era nada, para uma condição onde o “povo” é quase nada. Querendo ou não, houve uma pequenina mudança.
À medida que as pessoas vão conquistando a civilidade e cidadania os instrumentos de fiscalização e controle ficam mais atuantes.
Para entendermos o Brasil, gostaria de convidar o leitor para uma realidade muitas vezes oculta, construída em nossa história e que pouquíssimas pessoas são capazes de enxergar.
Quando ocorreu a independência dos Estados Unidos da América, o discurso do seu primeiro presidente George Washington, era taxativo em relação ao modelo de Estado que nascia ali, no momento da independência.
Ele afirmou: O Estado que nasce hoje, nasce com o objetivo de liderar o mundo na política, economia e cultura. Seremos mais fortes se o Estado existir para fortalecer seu povo, somente assim, seremos os líderes do novo mundo que surge com a nossa independência. Quanto mais rico e culto for nosso povo, mais condição terá de liderar o mundo.
O discurso ecoou e todos os demais presidentes e líderes seguiram o caminho apontado na origem. Os Estados Unidos se transformaram na potência que conhecemos.
Na independência do Brasil, o nosso patrono, José Bonifácio de Andrada ao lado de duas dúzias de latifundiários e escravocratas, mais nosso Imperador português Don Pedro I, também lançaram um modelo de estado. Afirmando: Mais poderosos seremos nós, proprietários de terras e escravos se dominarmos e explorarmos profundamente nosso povo. Mantenha a escravidão, mantenha o latifúndio, mantenha o povo distante das decisões políticas.
Todos os governantes, de Pedro I a Dilma, aplicaram a teoria responsável pelo terrível abismo social brasileiro. Somos o povo que mais paga impostos no mudo, e que temos os piores serviços públicos, salários astronômicos para políticos e altos cargos governamentais e um salário mínimo miserável para os demais.
Acredito que após essa breve explanação, podemos dialogar mais sobre o problema da corrupção no Brasil.
Em 2011 Rondônia ocupou as páginas policiais em todo o Brasil e algumas partes do mundo, em função da quadrilha instalada na Assembléia Estadual.
Um triste esquema de criminalidade saltou dos porões e guetos de nossa principal instituição política e se apresentou escandalizando aqueles poucos que ainda são capazes de se indignar.
Acompanhando as reações, as mais diversas possíveis, me pergunto se podemos crer num processo que seja capaz de dar respostas à tão terrível mal, gerador de tantas desgraças sociais em nosso país.
Refletindo sobre algumas manifestações textuais, como a do professor Nazareno, sua inteligente ironia e sarcasmo, é um caminho interessante, uma luta da negação de tudo o que está estabelecido, um grito de desconforto e de tristeza que tem minha sincera simpatia. O Nazareno, professor como poucos, é alguém que não se acovarda ou se entrega, militante de uma trincheira ingrata, a trincheira em prol da sabedoria, valores morais, educação, arte e cultura. Combate ingrato, pois vivemos no país do Créu, Lapada na Rachada, Faustão e Big Brother Brasil. Não nos damos conta de que essas coisas alimentam a miséria social em que estamos envolvidos.
Luta dolorida para os combatentes do degredo cultural, pois as manifestações que prostituem aquilo que possui algum valor moral e cultural nesse país encontraram abrigo, guarita dentro das escolas, universidades e faculdades do Brasil.
Se as instituições que criamos com o objetivo de possibilitar a vazão do saber, aprendizado, ciência, pesquisa, educação, foi tomada por manifestações tão contraditórias a sua existência e objetivos. O que podemos esperar do nosso futuro? O que podemos fazer…
Primeiro, acredito que as coisas podem ser transformadas, alguns eventos históricos são prova da incrível capacidade do qual somos dotados. Somos capazes de criar e transformar as sociedades, aliás, a sociedade que temos, é resultado do nosso esforço humano, se é ruim, é simplesmente resultado de nossas ações.
Li, recentemente, um de artigo desabafo, agora, de uma professora, professora Fátima Cleide, professora que se transformou em senadora.
Pude conviver por um curtíssimo período ao seu lado nos idos de 1989 e 1990, quando a Fátima era uma jovem professora.
Não posso dizer que seja próximo ou mesmo seu amigo, porém, despossuído de qualquer sentimento ou desejo que não seja o de contribuir com as reflexões, gostaria de afirmar que a professora e ex-senadora Fátima Cleide é uma grande vítima, assim como todos nós, do grande circo ideológico criado pela esquerda após a ditadura militar. A crença de que nada prestava no período de ditadura, fez com que todos nós: professores, advogados, médicos, estudantes, operários, sindicalistas, artistas entre outros, atuássemos na destruição de tudo que estivesse relacionado ao trágico período histórico.
Fomos tão competentes no desmonte da ditadura militar que acabamos com tudo, inclusive os valores existentes na época e que hoje tanto defendemos. Respeito, ética, ordem, moralidade, justiça, foram parar na mais profunda e imunda sarjeta social em nosso tempo.
A ex-senadora, ressentida com as generalizações, “todo político é corrupto” não entendeu ainda, que o sistema do qual ela e todos nós somos inseridos é desigual, opressor e corrupto.
Um Estado que entende que o trabalhador em educação com nível superior, atuando em uma escoa estadual, deve viver com um salário de mil e trezentos reais, um professor primário com míseros seiscentos reais, e que o salário mínimo seja de seiscentos e setenta e oito reais e ao mesmo tempo aceita os ganhos astronômicos dos mandatários. Segundo a “Transparência Brasil”, um dos organismos mais sérios deste país, com grande divulgação da rede globo de televisão, um Senador ou Senadora da República do Brasil custa em média por ano dez milhões e quinhentos mil reais para os pobres pagadores de impostos.
O custo de cada Deputado Federal, segundo o mesmo estudo, chega a mais de seis milhões e quinhentos mil reais ao ano e a farra patriótica tem continuidade nas Assembléias Legislativas, Câmara de Vereadores, Judiciário, Executivo etc.
Não tenhamos dúvidas todos os dias esse quadro se agrava, pois as escolas públicas e privadas, em todos os níveis, com seus conteúdos inúteis e a completa ausência na cobrança de comportamentos éticos e morais, mais a profunda ausência de políticas na área de cultura, esporte e arte, são o carro chefe desse desmantelo.
Meus amigos, o desmonte histórico dos valores ocorridos pós-ditadura militar e com o apoio da grande massa de dirigentes sindicais, professores, artistas. … Nós mesmos, eu, o Nazareno a Fátima Cleide, o Chico Buarque de Holanda, o Alberto Lins Caldas, o Januário, o Roberto Sobrinho, a turma do PMDB, PSDB, PDT. …
Possibilitamos sem nos dar conta, o nascimento do monstro que nos assombra. A sociedade deformada que temos que nos envolve e tentamos combater. A ignorância gerada com o desmonte dos valores humanos gerou essa profunda e perturbadora ausência de reflexão crítica e inteligência que poderia e pode reverter lentamente tão lamentável condição.
A ignorância é mãe, pai e avó de todos os males existentes, a escola existente em nosso país é infelizmente um instrumento a serviço da manutenção desse atraso.
Dominó, Termópilas, Anões do Orçamento, Valérioduto, Sangue Suga, Mensalão, Mensalinho, e tantos outros milhares de escândalos, são componentes existentes nos dois lados da mesma moeda presente em nosso “modelo” de sociedade.
São pontas minúsculas da realidade monstruosa existente. Não existe outro caminho que não seja o de reversão imediata das práticas educacionais cotidianas.