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Homens em ação: perigo à vista; artigo do professor Ivanor Luiz Guarnieri

O gigantismo de seus cinco milhões e meio de quilômetros quadrados, a extraordinária variedade de vida, fazem da Amazônia um espaço diferenciado e rico. Água, muita água. Árvore, muita árvore. Tudo é muito em se tratando da gigantesca região que se esparrama por nove países. Mais da metade se encontra em solo brasileiro, curiosamente também em nove estados.

04_06_23_amazonia_monitoradaTendo ainda muito a ser pesquisado sobre a Amazônia, homenagens, contudo não lhe faltam.

Como não há uma só realidade amazônica, há também muitos discursos diferentes sobre esse oceano de árvores. O tipo de discurso vai depender da posição do discursador. Claro que se for um madeireiro interessado na exploração das árvores, poderá defender a derrubada da mata; não de toda mata, mas derrubada enfim. Estará acompanhado de pessoas do agronegócio, ansiosas por encontrar o terreno aberto para as pastagens e plantações. Argumentos para isso não faltam, como o de que as árvores estão velhas e produzem pouco oxigênio. Acredite caro leitor, já li algo desse tipo, que pareceu estranho, embora dito por alguém especialista no assunto. Se há ciência para apontar os males da poluição, há também discursos científicos para defender coisas que parecem erradas aos olhos dos leigos. A ciência serve para criar teorias, certas teorias podem ser desmentidas com outras teorias. Qual a certa? De certo mesmo os interesses e as necessidades, que impulsionam o falar, o acusar e o defender.

Além dos discursos dos empreendedores interessados em por as árvores deitadas, carregadas e serradas, há o dos pesquisadores, alguns bem intencionados, outros querendo notoriedade, ou bolsa de estudo para pesquisar sobre as riquezas que o mundo cobiça. Há também o dos nativos que por gerações exploram sem depredar e querem ver a Amazônia preservada, pois é seu local de caça e pesca.

Quanto aos que estão longe, ou veem a Amazônia apenas pela TV, há discursos paradoxais, como os que defendem a permanência da floresta, mas querem comprar móveis de mogno ou de madeira o mais barato possível. De certo modo se assemelham aos que condenam o trabalho ilegal, mas pouco se importam com a procedência das calças jeans que desejam comprar quase de graça. A opinião distante aponta a velha ideia de que a Amazônia  é o pulmão do mundo parece inadequada, já que o pulmão libera gás carbônico e a Amazônia, pelo contrário, captura 70 bilhões de toneladas desse gás, do total de 200 bilhões que todas as florestas do mundo são capazes de capturar. Ou, se preferir, 10 por cento de toda emissão de gás originado da queima de combustíveis fósseis em todo planeta são absorvidos pela gigantesca floresta.

Além dos diferentes olhares, há variações na capacidade de intervenção para o bem ou para o mal da floresta. Nisso entram os dirigentes dos estados, os governantes, funcionários públicos, políticos e assemelhados. É nesse ponto que as coisas se complicam, pois discursos são úteis, mas executá-los é mais útil ainda. O problema é que os governantes não decidem sozinhos, sobre eles há os grupos de pressão, cheios de interesses e desejosos em auferir vantagens sobre a floresta. Parada, na dependência das decisões, as árvores parecem indiferentes ao debate. Os interessados é que não se mostram nada indiferentes, lutando por seus quinhões.

Olhando as notícias políticas de nossa região, você se anima com a perspectiva de conservação ambiental? Alguns mais interessados em encher os bolsos com verba pública poderão tornar-se os governantes dessa terra, sobre a qual se ergue a floresta. Embora não seja exatamente em terras amazônicas, o exemplo do aeroporto do Piauí, que previa 20 milhões em gastos, já consumiu 25 milhões e ainda não existe, dá certo medo em confiar o destino da Amazônia nalguns que tem o poder.

Ivanor-ArtigosHomem com motosserra em punho é apenas o ponto final de um conjunto de ações que se desdobram, desde os gabinetes de decisão das empresas e do governo até o estouro da madeira que cai ao chão.

Manter tudo intacto não é possível, até porque precisamos de madeira. A questão é quanto pode ser explorado e, principalmente, como ser explorado. A Amazônia está na ordem principal das discussões que tratam da própria existência da vida humana no planeta. Destrui-la é afetar o ar que respiramos e sem ar será, como que, um sufocamento geral.




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