Na semana passada uma aluna, daquelas bem atentas e interessadas, lançou uma pergunta a queima roupa. Professor como entender o terrível atraso cultural, científico, econômico, político e social brasileiro?
Para responder ao questionamento, improvisei, e busquei fazer um comparativo entre as decisões de governo dos Estados Unidos e do Brasil.
Para tanto, precisei recorrer à guerra dos sete anos ocorrida entre 1756 e 1763.
Após a guerra travada entre um bloco liderado pela Inglaterra e outro pela França, tendo como disputa o controle de regiões da América do Norte, Índias Ocidentais, Índia, África, Mar Mediterrâneo, Canadá e Caribe e as disputas hegemônicas entre os Estados do antigo Sacro-Império Germânico, um novo quadro político surgiu em escala mundial.
O fato é que as maiores potências econômicas da Europa do século XVIII, promoveram um evento que mudou o cenário econômico e político no mundo.
A Inglaterra que derrotou a histórica adversária se viu profundamente abalada em função dos esforços de guerra que exigiram um gasto fantástico que por sua vez não estava previsto no orçamento.
A situação da França era muito pior, visto que, derrotada se viu envolvida em graves problemas internos por desorganizar seu sistema produtivo e abalar as relações comerciais internas e externamente.
A Inglaterra, em busca de solução para sua crise, resolveu aumentar os impostos e atuar com autoritarismo junto aos colonos ingleses que colonizaram a América do norte, fundando as treze colônias americanas, que seriam transformadas mais tarde em Estados Unidos da América.
A tentativa de “opressão colonial”, dos ingleses sobre os seus colonos americanos gerou uma profunda revolta que teve como consequência as lutas e guerras de independência dos Estados Unidos concretizada em quatro de julho de 1776.
Neste momento é importante que o leitor perceba como foi conduzido este processo na América do norte e entenda a diferença da condução do processo de independência do Brasil.
Lá, após a vitória dos colonos sobre os ingleses, foi organizado um governo republicano e o presidente escolhido, George Washington, que recebeu o título de “Pai dos Estados Unidos”, fez um discurso lançando luz sobre o futuro da jovem nação que nascia naquele exato momento. “Seremos mais fortes se este Estado que surge atuar em favor do seu povo”. “Seremos uma grande nação se nosso povo for grande”.
Este discurso foi reverberado e todos os presidentes daquele país atuaram no sentido de transformar o Estado em um instrumento de defesa, proteção e enriquecimento do seu povo.
Os Estados Unidos se transformaram em um curto espaço de tempo em grande potência econômica.
O resultado todos nós estamos vivenciando na atualidade.
O Brasil passou por sua independência. O sete de setembro de 1822 é um marco na nossa separação em relação à opressão colonial portuguesa.
Liderada pela família dos “Andradas”, tendo como personagens centrais Maria Leopoldina, Pedro de Alcântara que se transformaria em Pedro I e José Bonifácio de Andrada e Silva que foi transformado no “Patrono da independência”.
Neste momento, discursos foram feitos, luzes foram lançadas no destino dessa jovem nação determinando nosso futuro, a exemplo dos Estados Unidos e do discurso de George Washington.
No Brasil o discurso do nosso patrono ecoou por toda a nossa história. Quais foram os principais pontos definidos no momento da nossa “gloriosa independência? Quais luzes foram lançadas ao nosso futuro?
Querido leitor, não tivemos luzes, tivemos trevas.
No momento da nossa “triste” independência a elite brasileira definiu: “Seremos mais ricos e poderosos quanto mais explorarmos nosso povo.
Mantemos a escravidão.
Seremos mais ricos e poderosos se impedirmos o povo de atuar como cidadãos da nação que acaba de nascer.
Foi criado o voto censitário, aquele onde o eleitor precisava comprovar sua riqueza para poder participar das eleições.
Teremos, nós elite, mais riquezas se mantermos o latifúndio.
Sistema de concentração de riquezas que gerou nossas desigualdades sociais.
Dominaremos as pessoas e nos manteremos no poder, se compreendermos que o Estado deverá atender as nossas necessidades.
O Estado que nasceu no sete de setembro não adotou qualquer medida ou política e democrática.
Escolas, saúde, segurança e demais benefícios estatais para o povo não existiam, entraram nas pautas dos governos brasileiros somente em meados do século XX, e mais precisamente na constituição de 1988 que ficou conhecida como constituição cidadã.
As políticas de estado eram voltadas, unicamente, para a elite dando sequência a uma realidade cultural praticada desde o descobrimento do Brasil.
Retornando à sala de aula e à inquietação de minha dedicada e interessada aluna, podemos enxergar alguns avanços em nossa história, como podemos perceber o terrível abismo construído pelos deformados caminhos trilhados por nossos mandatários ao longo de nossa triste história.