[dropcap]A[/dropcap]ssim como a morte que é velha, mas é sempre uma novidade, o problema do aborto volta à tona nas discussões da semana. Velha discussão, pessoas esbravejando daqui e de lá, sobre os direitos do feto, do futuro ser, da liberdade da mulher e outras, muitas outras questões que envolvem problema palpitante e confuso.
Nos casos de anencefalia, o Supremo (o da justiça humana não o Supremo/Deus) votou a favor de a mulher poder interromper a gravidez. Por que manter uma gestão que trará uma vida inútil e breve? Por que interromper uma vida humana? Difícil não é mesmo meu prezado leitor? E quando se ouve falar das gestações originadas de um estupro. A Mãe da criança tem dentro de si um novo ser, mas o abomina por tabela, isto é, como sente nojo de quem a forçou a ter relações sexuais, sente o mesmo pelo filho que está para nascer. O Bebê não tem culpa nenhuma do pai que tem, mas convencer a mãe é difícil, pois isso é uma questão que não é racional, mas passional e passionalmente milhões já foram mortos em guerras e contendas tolas; quanto mais em abortos realizados em muitas partes do mundo.
Outro problema sério diz respeito ao estatuto do feto. Em que momento ele passa a ser pessoa humana? Desde a gestação? Desde quantos meses de gestação? Ora, o óvulo e o esperma quando se encontram, sendo humanos, deve se esperar que nasçam seres humanos. Em ato é óvulo fecundado, ou feto, mas em potência, ou seja, num futuro breve, ser humano nascido. E se é ser humano, é pessoa, e sendo pessoa protegido inclusive pela Declaração Universal dos Direitos do Homem. Ou os Direitos Humanos só são invocados para proteger os já nascidos, mesmo que tenham cometido crimes? E os que aguardam para nascer, não tem direito à defesa? Claro que tem, só que nossa sociedade tem um passado masculino, isso mesmo, os homens do sexo masculino quase sempre tudo decidiram, inclusive em relação à legislação. Como fica então o corpo da mulher, pois é ele que carrega as novas vidas? As mulheres não têm direito a mandar em seus próprios corpos? Podem, mas perguntam alguns se o feto é um corpo da mulher ou já é de outra pessoa. De sorte que voltamos às discussões iniciais sobre direitos humanos dos que estão para nascer.
O indesejado poderia ser abortado e até fazer um bem, sendo entregue para pesquisas ou para células tronco que aliviariam o tormento de pessoas doentes. Os que defendem isso devem pensar também que as crianças que temos hoje seriam fígados, rins, etc. O quê? Foi concebido e tornou-se um fígado? Que trágica mudança de rumo.
É muito fácil para nós, os bens nutridos, vivos e aptos para o acasalamento discutirmos os destinos daqueles que nem sequer foram concebidos, ou se estão em alguns ventres maternos aguardando para nascer, tenham seu trajeto para a vida interrompido pela decisão de alguém, quem sabe da própria progenitora. Ah, as mulheres, pobres vítimas de sua própria natureza. A dor de ter um filho indesejado, a dor de ter um filho que não sobreviverá e a dor de abortar, seguramente ninguém do nosso sexo sentirá algo semelhante. Difícil para a mãe que aborta, sem dúvida. Imagina então para aquele que vai perder a vida.
É um problema tal esse do aborto que não há solução cabal para ele. Alguém poderia invocar Deus na conversa, dizendo, que segundo as leis de Deus a regra é tal e qual. Mas isso é complicar ainda mais a questão, pois Deus é um só, claro, mas as ideias que os homens têm Dele são muito variáveis. Ok está na Bíblia, mas tente convencer os muçulmanos, budistas, xintoístas, e outros de que Deus pensa exatamente como está ali. Para nós cristãos sim, mas mesmo entre nós a Bíblia e suas leis são tomadas de modo um tanto quanto particular, se não fosse assim, não haveria tantas religiões cristãs. Então em um problema como o direito de abortar o máximo que se pode dizer é “segundo minha concepção de Deus, a partir da religião que pratico…” Mas isso pode parecer absurdo e não quero encrenca com fanáticos.
Confesso que não tenho ‘a resposta’. Escrevo isso só para lembrar que é assunto complexo, como tudo que é estritamente humano, difícil, mas é assim mesmo.