[dropcap]S[/dropcap]e você teve coragem de começar a ler este artigo, certamente está incluído no grupo dos que não temem as letras.
Parto da afirmação acima para abordar um dos mais importantes assuntos humanos: a capacidade de progredir aperfeiçoando-se. Todos ser humano é racional e tem dentro de si a perfectibilidade. A perfectibilidade é a capacidade de desenvolver-se, inclusive e, principalmente, de modo racional.
Nada contribuiu mais para o desenvolvimento humano do que as letras. Quando alguém fala é possível aprender coisas importantes. Mas quando alguém lê aprende muito melhor, pois está diante de algo refletido e escrito a partir de algum planejamento. Sem dúvida que existe todo tipo de escritas e, inclusive aquelas mentirosas. Mas até mesmo essas podem ser interessantes para levar a pessoa a discordar delas, a partir do confronto com textos melhores.
O hábito de ler é importante, todos sabem disso. Em geral, contudo, quando isso é afirmado, vêm em seguida as queixas de sempre: “brasileiro não lê”, “a TV atrapalha a leitura”, “ler cansa”, entre outras coisas.
Primeiramente é preciso reconhecer que TV e leitura são coisas distintas, e que a TV não deve necessariamente atrapalhar a leitura. Dependendo do que é assistido pode ser motivo para incitar a leitura. Uma informação importante que precisa de complemento pode e deve ser buscada tão logo a TV seja desligada. Por exemplo, quando a Presidente Dilma afirma que os governos federal, municipais e estaduais gastaram 1 trilhão e 700 bilhões em saúde e educação, é motivo para buscar saber qual o orçamento do Ministério da Educação. Bem, no ano passado o orçamento do MEC foi de 91 bilhões de reais. Então é estranho que, mesmo somando com os recursos dos estados e municípios chegue ao montante de 1 trilhão e 700 bilhões. É estranho, mas não impossível e a pesquisa que o leitor queira fazer poderá confirmar ou não esses números.
A esta altura o leitor poderá pensar que estou sendo muito otimista, e que deveria sugerir simplesmente desligar a TV. Essa é uma solução interessante, mas radical demais para o mundo de hoje. Ao invés disso, quem sabe apostar na melhor qualidade de programas que estão no ar, como dos canais TV Escola, TV Senado, Cultura e outros do gênero. Alguém poderá dizer então: “Ah, mas quem assiste TV Escola? É muito chato”. É realmente chato para aqueles que estão viciados em Faustão e assemelhados. Mas, na medida em que assistir “Deu a louca na história”, muito mais engraçado do que qualquer programa humorístico, ou “Matemática em toda parte”, entre vários outros exibidos pela TV Escola, começará a achar que chato é perder tempo com programetes vazios de conteúdo que abundam em alguns canais.
Apostemos na perfectibilidade do ser humano, pois tendo essa capacidade para aprimorar-se e aprender, tão logo comece a ver coisa que lhe ajudam a formar melhor as ideias, fatalmente começará a gostar de aprender. É necessário quebrar o círculo vicioso segundo o qual não se aprender por que tem dificuldades e tem dificuldade por que não se dispõe a aprender. Um mínimo de esforço para sair do atoleiro da falta de vontade de estudar, no qual a maioria se encontra, dará ritmo de estudo e fará a pessoa iniciar o movimento que conduzirá a vida dela para o aprendizado permanente. Aprendizado que fará pelo puro prazer em conhecer mais.
Para que tal objetivo seja alcançado precisamos construir muitas coisas novas. Entre elas a própria relação que temos com os livros. Não basta dizer que os livros são úteis, bons e necessários. É indispensável mostrar aos nossos alunos que acreditamos nisso e temos pelos livros atenção e gosto. Mostra-se o gosto pelos livros estando com eles, pois, como ensina Aristóteles, gostamos de estar próximo daquilo que gostamos.
Sem dúvida existe livro porcaria, cuja existência só serve para mostrar como seu autor foi esperto em nos arrancar alguns reais. Livros que aparentam sabedoria, mas é engano. Esse tipo de livro não conta aqui. Conta os livros que ajudam a refletir sobre o mundo e também sobre nossa condição dentro do mundo.
Quando um autor se põe a escrever e publicar, fatalmente tem algo a nos dizer. Segundo nosso interesse, estaríamos dispostos a lê-lo?
A capacidade de reflexão das pessoas formata o tipo de povo do País. Não desligar a TV, mas ao menos baixar o volume, e diminuir as horas de vida que ela nos rouba. Fazer isso para que os livros possam nos dizer coisas das quais nem suspeitamos que existam, mas que uma vez conhecidos farão parte nós desenvolvendo a perfectibilidade humana. A Literatura (de diferentes áreas do conhecimento) tem muito mais a ver com nossas vidas do que possa suspeitar nossa razão desatenta.