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Artigo: o escritor e sua gente

A busca de luz para a compreensão das coisas sempre foi motivo para que o homem agisse. O instrumento que ilumina é a palavra e a palavra escrita ilumina mais.

O trabalho do escritor que se propõe a expor suas ideias para a opinião pública é sempre solitário. Diante da máquina de escrever como antigamente ou do computador como hoje, é ele raciocinando acerca de algum assunto.

A primeira impressão que se tem quando da leitura de um artigo, romance, conto, ou livro de ciências, é que o autor quer nos ensinar algo como um professor na matéria, ou mostrar algo com sua arte literária. Mas, do lado de quem escreve, a feitura do texto serve deveras para ajudar o próprio autor a organizar suas ideias.

De certo modo, iluminados pela palavra escrita, autor e leitor são convidados a colocar ordem no caos. Não é por acaso que os gregos ao se referirem ao mundo chamam-no de cosmo. Cosmo significa, antes de qualquer coisa, ordem. Então, o mundo era o caos até que a palavra trouxe alguma luz.

Como tudo que sai das mãos do homem é imperfeito, apesar de a palavra escrita trazer luz, não o faz em plenitude. Ao mesmo tempo em que clareia um ponto específico, ao foca-lo, desvia a luz de outros pontos. Como uma lanterna que ajuda a pessoa a seguir o caminho, iluminando-o, sem, contudo, clarear as grandes margens da estrada. Além disso, por imperícia talvez, a palavra escrita, ao invés de dirimir problemas, pode também criar celeumas. Nesse caso, são notórios os artigos de maledicência que só fazem atacar pessoas em sua individualidade, e muito pouco contribuem para pensar problemas. Felizmente tais escritos tendem a cair em desuso, desde que as pessoas comecem a enjoar de ler podridão, embora não faltem em todas as épocas leitores com espírito de abutre.
Sobre a busca de esclarecimento a literatura tem algo a dizer. Tomada em seu sentido amplo, artigos, crônicas, romances, textos de filosofia e sociologia, publicados em veículos de comunicação de massa, como os jornais, são luzes que de algum modo clareiam o caminho no qual estão os brasileiros.

A pessoa solitária que se coloca a refletir sobre alguns aspectos de seu País, partilha com os contemporâneos suas opiniões. Quando estas são fundamentadas e quando o autor tem o vivo interesse de contribuir com a Nação onde nasceu, o risco de algo produtivo acontecer é grande. Entendo por algo produtivo aquilo que ajuda a melhorar as coisas. As coisas melhoram na medida em que, iluminadas pela reflexão, tendem essas mesmas coisas a serem vistas de modo mais claro e, consequentemente, propiciando que as ações das pessoas acerca do assunto abordado se tornem menos passíveis de erro.
Quando se trata de política, economia e futebol (para citar apenas alguns exemplos correntes), o desvio de foco sobre o que interessa causa estragos consideráveis ao povo do País. Informações banais tomadas como último furo de notícias imprescindível prende a atenção para o vazio. Enquanto as pessoas ficam olhando “para o mundo da lua” do que não importa, coisas terríveis contra ela podem estar sendo urdidas às sombras.

Nos bastidores do poder econômico e político, há decisões. Longe dos olhos do público são decididas medidas a respeito desse mesmo público. Evidentemente não é possível fazer contratos, tomar medidas e decisões sobre o palco. Empresários e políticos dependem de privacidade também para discutir e elucubrar planos de governo e investimentos privados. Contudo, se há sombras, ao pensar sobre seu País, o escritor, tendo apenas o papel e a caneta como armas, ao convidar os concidadãos para pensar juntos sobre determinado assunto, emitindo sua opinião, contribuiu e muito para com seu povo. Não há mal que, por necessidade, decisões sejam tomadas longe da vista da maioria, mas há mal em essa mesma maioria não se atentar para as ações realizadas a partir dos planos realizados longe dos olhos curiosos da população.

Ivanor-ArtigosÉ bem fácil enganar, quando se tem a disposição a luz da TV exibindo coisas que prendem o olhar das pessoas para o banal e frívolo. Enquanto se olha para um lado, não é possível ver o outro. Enquanto a atenção fixa-se em programas de bobagens, não volta as vistas para os textos. Nesse caso a literatura emudece. Sem leitura e texto, as luzes se apagam e no mundo das sombras proliferam outras coisas que não o melhor para o País. Cabe a quem escreve refletir sobre isso como uma forma de denúncia contra o mal e, consequentemente, em favor do que é útil para seu povo.





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