Desde que o ser humano inventou a escrita a memória ficou mais aliviada, o cérebro já não precisa mais memorizar tanta coisa, pois pode se socorrer com o papel, esse velho amigo da civilização. Inicialmente a escrita era privilégio de alguns. Apenas iniciados nos templos da mesopotâmia a dominavam, e também aqueles que deveriam fazer os registros da produção sumeriana.
Com o capitalismo e sua inacreditável profusão de máquinas e tecnologia a escola pode ser finalmente expandida, desde aquele longínquo século 17. Aos poucos as nações se constituíam na Europa e era preciso incutir no meio do povo a ideia de País. A escola seria muito útil nessa tarefa. Mais do que isso, precisavam convencer pessoas que por tradição secular se viam como pertencentes ao feudo de seu senhor e que agora deveriam se chamar de franceses por exemplo. Em 1780, quando da organização dos Estados nacionais como nós o entendemos, era ainda um período de comunicações precárias, sem rádio e TV, com pessoas cultuando seus reis como se esses representassem Deus em seu território. Era importante difundir a língua única, os heróis nacionais, os costumes e as tradições de País, muito mais do que da gleba comum das imensas terras dos barões, condes, nobre enfim. A escola tinha um papel a desempenhar.
A escola cumpria bem seu papel enaltecendo os valores pátrios. Mas para isso as pessoas deveriam aprender a ler e escrever. Somado a esse interesse nacional havia a necessidade de preparação de especialistas em cobrança de impostos, em contabilidade, em diplomacia e tratados. Claro, que era forçoso para ingleses, franceses, alemães e outros povos, que houvesse também professores.
Com o desenvolvimento cada vez maior da escrita, houve a profusão de textos. Sobre a escrita, vou tocar num aspecto mais sujo: o plágio. Escrever não é natural, ao menos como se aprende a respirar e comer. É preciso treino, paciência e leitura. Faz muito tempo que tento aprender a escrever, não é fácil e nunca foi. O grande humanista Michel Montaigne escreve em texto de meados do século XVI (o Brasil mal havia sido descoberto) um primoroso ensaio, no qual denuncia autores que tinham o mau gosto de copiar textos dos outros e assinar dizendo que eram deles. Segundo Montaigne, certo cara de pau chamado Crisipo teve a petulância de copiar a obra “Medéia” escrita por Eurípides e dizer que era sua. Cito isso só para dizer que o problema é antigo e, claro, os que costumam assaltar textos aqui e acolá caem no descrédito. Crisipo é lembrado pela audácia, mas não figura no panteão dos grandes escritores, nem poderia.
Agora olhando para aspectos da realidade rondoniense o que encontramos? A maravilhosa internet a serviço dos copiadores de plantão. Não são todos, claro, mas é uma minoria barulhenta. Os ‘pata dura’, que têm dificuldade para segurar a caneta ou dedilhar ideias próprias no teclado, procuram estudar e treinar. Tornam-se escritores razoáveis e alguns até agradáveis de ler. Valeu o esforço do estudo. Mas entre esses não faltam os que por alguma razão resolvem trabalhar muito mais copiando daqui e dali textos para apresentar ao mundo. Um fiasco. Professores cansados de devolver trabalhos copiados, recopiados, copiados agora com mais astúcia, isto é tirando trechos pequenos de grandes parágrafos, acabam ficando ainda mais cansados. Eu mesmo cheguei a perguntar a um aluno, há dois, anos se ele sabia escrever em grego “nem a pau” me respondeu. Fora a grosseria com que respondeu ao professor, acabou provando que sequer havia lido o texto que entregou como avaliação.
A minoria que usa da malandragem, percebendo que no primeiro trabalho, o professor ou professora pegou o plágio copiado da internet, acaba migrando para os livros. Mais difícil perceber se é cópia nesses casos, exceto pelo fato de a linguagem copiada ser de especialista, com palavras rebuscadas e sem erros de português. Feito notável para alunos iniciantes.
Boa parte dos alunos se esforça por aprender, terão sucesso nos estudos. Quanto à turma dos copiadores deveria ser transferida para Idade Média, quando copiar era necessário já que não havia imprensa, desde que citem os verdadeiros autores dos textos, claro.