Réu aguarda o julgamento preso. Ari era conhecido por trabalhar registrando e denunciando extrações ilegais de madeira.
Cerca de quatro anos após a morte de Ari-Uru-Eu-Wau-Wau, o réu acusado do homicídio será levado ao Tribunal do Júri em Rondônia. Ari era professor e muito conhecido por denunciar extrações ilegais de madeira dentro do seu território, a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau.
O julgamento está previsto para ocorrer no dia 15 de abril, a partir das 8h da manhã, na comarca de Jaru (RO). O réu, João Carlos da Silva, aguarda o julgamento preso.
O caso de Ari repercutiu entre a população e começou a ser tratado em âmbito federal quando as investigações apontaram indícios de que o crime tinha ligação com o trabalho de Ari em denunciar o desmatamento e a venda ilegal de madeira em seu território.
Porém, em agosto de 2022 a Polícia Federal concluiu as investigações e apontou que a morte do ativista “não tem ligação com crimes ambientais”. Segundo a PF, Ari foi morto porque o suspeito estaria incomodado com a presença de Ari na região.
“O que concluímos é que o autor do crime, pelo simples fato de não gostar do Ari, decidiu matar o indígena”, afirmou, à época, o delegado Jorge Florêncio de Oliveira.
Desta forma, o Ministério Público Federal (MPF) fez um pedido de declínio que foi acatado pela Justiça Federal, se baseando no relatório final da PF sobre a morte. Em agosto o caso voltou para a Justiça Estadual.
Quem é o réu?
João Carlos da Silva é dono de um bar que Ari frequentava. Segundo a investigação da PF, os dois teriam se desentendido e o suspeito chegou a dizer a algumas pessoas que iria matar Ari caso ele passasse pelo bar, pois o achava chato.
Ainda conforme a Polícia Federal, o réu tem um comportamento violento e já possuía um histórico criminal de homicídio, tentativa de homicídio e violência doméstica. O suspeito foi preso no dia 13 de julho de 2022 (dois anos após o crime) e permanece detido.
Homicídio de Ari
Ari foi morto durante a noite de 17 de abril de 2020 em um distrito de Jaru (RO) e o corpo foi encontrado na manhã seguinte, com sinais de lesão contundente na região do pescoço, que ocasionou uma hemorragia aguda.
A PF informou que o corpo de Ari não tinha sinais de autodefesa. Com base nessa constatação, uma das hipóteses é que o suspeito dopou o líder indígena e o agrediu até a morte, depois moveu o corpo para outro local.
O suspeito foi preso no dia 13 de julho deste ano e permanece detido. Ele não quis prestar depoimento e só deve falar em Juízo.
Legado e esperança de Justiça
O nome do professor Ari continua a ecoar dentro e fora de Rondônia. Ele foi lembrado na abertura oficial da Conferência da Cúpula do Clima (COP26) na Escócia, durante discurso da ativista indígena Txai Suruí.
Ari também se tornou inspiração de resistência e arte. Em janeiro de 2023, uma pintura de 600 m², exposta no centro da cidade de São Paulo, homenageou Ari Uru-Eu-Wau-Wau. Terra e cinzas de queimada da Amazônia foram matérias-primas para fabricação das tintas utilizadas pelo artista, Mundano.
A morte de Ari também é retratada no documentário ‘O Território’ (vencedor do Emmy 2023) que narra a luta do povo indígena Uru-Eu-Wau-Wau para defender sua terra em Rondônia.
Quatro anos após o crime, ativistas, amigos e familiares cobram por justiça no caso de Ari. Ele deixou esposa e filhos.
Por g1 RO