Projeto busca firmar convênios e ampliar seu alcance tornando-se uma referência na luta contra a exclusão, a violência e a desesperança.
Em um mundo cada vez mais digitalizado, em que o toque se tornou clique e o esforço foi substituído pela conveniência das telas, as crianças enfrentam novos desafios no seu desenvolvimento físico, emocional e social. Foi nesse cenário que nasceu o projeto Bushidô Primeiros Passos, uma iniciativa inovadora que aposta nas artes marciais como meio de formação integral da criança, com base na metodologia Legado First Steps.
Voltado para crianças de 3 a 5 anos, o projeto não busca formar pequenos lutadores, mas sim apresentar o universo do Jiu-Jitsu de forma lúdica, com atividades que promovem o equilíbrio, a coordenação motora, a inteligência emocional e a resiliência. A ideia é desenvolver habilidades fundamentais ainda na primeira infância, resgatando o valor do esforço, da superação e do convívio social saudável.
“O mundo ficou mais fácil, mas também mais raso. As crianças têm cada vez menos contato com situações que exigem superação. Nós queremos justamente ir na contramão disso, oferecendo desafios construtivos por meio do brincar com propósito”, explica um dos coordenadores do projeto.
As brincadeiras e jogos utilizados são todos inspirados nos princípios do Jiu-Jitsu, adaptados para a linguagem infantil. Com isso, as crianças vão sendo naturalmente familiarizadas com os valores das artes marciais — como o respeito, a disciplina, a solidariedade e a autoconfiança — desde os primeiros anos de vida.
Jiu-Jitsu e prevenção social: o combate que começa fora dos tatames
O Projeto Bushidô, braço social da iniciativa, amplia ainda mais esse trabalho, alcançando também crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Com base em dados alarmantes sobre o avanço do uso de drogas, especialmente o crack, e da violência urbana em cidades como Vilhena (RO), o projeto se coloca como alternativa concreta à ociosidade e ao aliciamento por parte do crime organizado.
Nos últimos anos, o número de jovens envolvidos em atos infracionais tem crescido, quase sempre relacionados ao tráfico ou ao uso de entorpecentes. E por trás dessas estatísticas, há histórias de abandono, desestruturação familiar, falta de referências e de perspectivas. É nesse vácuo que o Bushidô atua, ocupando o tempo livre de jovens com atividades que os empoderam física, emocional e socialmente.
“O Jiu-Jitsu ensina a cair e a levantar. Ensina a perder com dignidade e a ganhar com humildade. Ensina que o mais forte ajuda o mais fraco. Essa vivência muda a cabeça de um jovem”, afirma um dos professores da equipe.
Além do fortalecimento emocional, o projeto oferece também uma porta para o futuro: há alunos formados pelo Bushidô que hoje trabalham como instrutores ou até mesmo construíram carreiras no exterior. O esporte torna-se, assim, ferramenta de inserção social e também de geração de renda.
O papel dos projetos sociais na reconstrução do tecido social
Enquanto o Estado se mostra sobrecarregado e, muitas vezes, ineficaz em políticas de prevenção, os projetos sociais como o Bushidô revelam-se como poderosos aliados. Unindo o setor público, a iniciativa privada e o engajamento da comunidade, eles promovem mudanças reais na vida de crianças e adolescentes, com menor custo e maior capilaridade.
Estudos mostram que apenas a escola formal não é suficiente para formar cidadãos conscientes e preparados para os desafios contemporâneos. O tempo ocioso fora da sala de aula precisa ser preenchido com atividades que formem caráter, promovam saúde física e mental e desenvolvam o senso de pertencimento.
É nesse contexto que o Bushidô Primeiros Passos e o Projeto Bushidô se destacam. Mais do que um projeto esportivo, trata-se de uma verdadeira plataforma de transformação social, emocional e até profissional.
Com o apoio da comunidade e parcerias estratégicas, o projeto busca firmar convênios e ampliar seu alcance por meio da Resolução nº 15/2024/CMDCA, tornando-se uma referência na luta contra a exclusão, a violência e a desesperança.
Porque, como ensina o próprio Bushidô, o caminho do guerreiro não é vencer o outro — é vencer a si mesmo.
Por Rondônia em Pauta