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Ducha de cuspe

[dropcap]M[/dropcap]inha mania boba de contar piadinha sem graça em hora errada (e tem hora certa para isso seu moço?), recebeu uma boa lição. Um português, casado com brasileira, ao ouvir a bobagem que eu havia dito, alfinetou: “vocês brasileiros gostam de mediocrizar as pessoas”. Na hora fiquei entre o estranhamento e o aborrecido, achando que ele é quem tinha sido antipático.

Passados alguns anos agradeço a lição. Não sei se nos outros países também é assim, mas se for não importa. Olhando para dentro de nós brasileiros, vejo que a fala do português tem sentido.

Programas de indecências abundam. Em alguns deles há jurados que sufocam, são grosseiros e parecem pensar que o telespectador é sádico. Pela intensidade da tortura com que alguns são tratados na TV brasileira, dá para imaginar o que pensam os diretores de TV acerca de nós. Acham que boa parte do público adora e sente prazer em ver outras pessoas, nossos patrícios, passando vergonha, humilhação e sendo xingados na telinha.

Abro a internet e encontro no MSN a chamada: “Jurada argentina toca o horror no Master Chef” (http://www.msn.com/pt-br/entretenimento/noticias/de-masterchefe-brasil-conhe%C3%A7a-paola-carosella-a-jurada-mais-fofa-da-tv/ar-BBkKDCs?li=AAaDxqs).

Final da tarde, abro de novo a internet e a mesma chamada está lá. Abri. Trata-se do conhecido programa da TV Bandeirantes, que eu mesmo já havia assistido logo que estreou no canal há algum tempo. Já achava estranho e pensava que os franceses são muito mal-educados, pois a postura do chefe, com sotaque típico de francês, era de muita grosseria. Pensei: “se um chefe de cozinha, que trabalha em restaurante chique, é assim, imagine os outros franceses?!”. Claro que não! Os franceses são só os franceses.

Agora a senhora argentina (que eu jurava que era italiana), também entrou na onda do quanto mais humilhar melhora audiência. Do contrário, não seria assim um programa com tal qualidade, pois, para não perder audiência, eles moderariam as críticas. O ponto central é só esse: AUDIÊNCIA, outros pontos gravitam em torno deste.

Se tem alguém que humilha no programa é porque tem alguém que se deixa humilhar. Isso se faz em troca de dinheiro, principalmente. No caso desse programa, a impressão que dá e que os chefes de cozinha são mesquinhos, enjoados, mal-educados. Digo isso, pois, se na frente das câmeras eles fazem isso, imagine no dia a dia.

Na verdade, é bem ao contrário. Alimento é algo especial e pratos requintados e feitos onde tem “chefes de cozinha” são duplamente especiais. Não dá para imaginar cozinhas requintadas sendo dirigidas por gente grosseira, cuspindo palavras impróprias. Suspeito que a falta de educação azeda o molho.
Semelhantes a esse programa, e certamente ainda piores, o leitor deve já ter ouvido falar que há muitos. Incrível que tais entretenimentos vinguem e sejam assistidos por tanta gente.

Mas observa-se também a saturação de parte do público com essa mediocrizações do humano. Prova disso são os comentários que internautas colocam depois das reportagens. Claro que tem muitos sem a mínima postura, escrevendo para ofender os demais. Mas a maioria, ao menos a respeito da tal reportagem sobre o Master Chef, se diz indignada com a postura dos jurados. Então o efeito da matéria pode ter sido contrário ao pretendido, ou nem tanto.

Supondo (e aqui é o campo das hipóteses) que alguns espaços na internet sejam comprados pelas emissoras com o propósito de dar maior visibilidade aos programas; então o objetivo foi alcançado. Tanto que este artigo tomou meu tempo e o seu. Pode ter sido útil também para perceber como as pessoas estão vendo o programa, se o aprovam na forma como está. Também útil para saber sobre possíveis mudanças, caso os internautas apontem no programa aquilo que os desagrada. É claro que se isso foi feito, isto é, colocado na internet tal matéria, com esses objetivos, é porque tem algum problema percebido pela emissora.

Nós, os inocentes, ou apenas tontos (falo de mim), lemos a matéria sem saber o que a motivou. Outros mais corajosos, comentam-na ao final da página. E os interessados profissionais da TV brasileira medem os humores do público.

Tenho uma sugestão: toda vez que houver reportagens como esta, vamos nos colocar contra a baixaria na TV. Isso mesmo, dizer que discordamos da falta de educação, das humilhações, da tortura em forma de espetáculo. Enfim, sermos contra tudo aquilo que, no dizer do português, serve para mediocrizar a pessoa humana. Pois, cada vez que a TV mostra obscenidades, é como se estivesse cuspindo no chão da sala.

Ivanor-ArtigosEu já resolvi o problema, desligando a TV. Aliás aqui onde estou estudando nem aparelho televisor tenho. Mas como professor, penso que os telespectadores brasileiros, e muitos aceitam quase tudo, poderiam ser mais bem serviços pelas chefes de cozinha de nossa TV. A exemplo de pratos requintados e bem aprestados, também os programas poderiam ser mais bem elaborados, quem sabe (sonho meu) até educativos. Mostradas em rede nacional, a cortesia e a boa educação no trato com as pessoas seriam um tempero e tanto.




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