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Qualidade da educação: um conceito desconcertante

Imaginemos uma conversa ocorrida entre dois jovens universitário, na cantina, quando do intervalo das aulas.

Pedro: Você viu, Juca, a falta de qualidade da educação brasileira? Pelos dados que a professora mostrou na aula pode se dizer que estamos muito atrás de muitos outros países.

Juca: Estivemos na mesma aula, mas eu vi coisas diferentes, talvez.

Pedro: Por quê? Me conta, que você viu de errado?

Juca: De errado, nada. Mas veja a expressão que foi usada o tempo todo, e que você repetiu aqui: qualidade da educação.

Pedro: Ué?! Qual o problema de falar “qualidade da educação”?

Juca: Não sei, Pedro, mas soa estranho. Qualidade da educação é um conceito ou não é um conceito?

Pedro: É um conceito.

Juca: E todo conceito é feito de outros conceitos. Ou seja, o conceito de “Qualidade da educação” é feito do conceito “qualidade”, mais o conceito “educação”, certo?

Pedro: Certo.

Juca: A educação pode ser dividida em duas: educação escolar e educação de modo geral. Concorda comigo?

Pedro: Sim, a educação escolar é a arte do Pedagogo, e implica a relação entre alguém que ensina e alguém que aprende ciência ou arte, ou filosofia. É a educação dada em ambiente formal de aprendizagem, como na escola. Mas, e a educação geral?

Juca: Bem, podemos admitir que esta é a educação que se aprende desde o nascimento, no convívio informal com os membros da família, com os amigos. É uma espécie de educação pela qual se aprende as normas de convívio e as boas maneiras.

Pedro: Mas que tem isso com o conceito de “qualidade da educação”?

Juca: Vamos refletir juntos, Pedro, e tentar descobrir.

Primeiro, é preciso considerar que o conceito de qualidade é atribuído à muitas coisas. A qualidade é atribuída, pelo menos, a dois tipos: as coisas físicas e as coisas não físicas, mas, essas não físicas são, porém, visíveis pelas ações dos homens.

Pedro: Das coisas físicas compreendo, pois que o sapato pode ser de boa ou má qualidade; um carro, também pode ser de boa ou má qualidade. Mas, quanto às coisas não físicas, porém visíveis pelas ações dos homens, como saber quais são?

Juca: É justamente aí nosso problema de investigação. Como saber que um carro é de boa qualidade?

Pedro: Ora, a partir de sua finalidade, que é transportar coisas, podemos dizer que o carro é de boa qualidade quando funciona bem, levando pessoas com comodidade de um lugar a outro, sem percalços, de modo confortável, econômico e assim por diante. O sapato, também, é de boa qualidade se cumpre sua finalidade, que é servir aos pés, com conforto e resistência e todos os demais atributos que se espera de um sapato. Mas, você ainda não disse como deve ser a qualidade boa da educação?

Juca: Ora, a educação consiste em preparar pessoas para a vida em sociedade e para o trabalho, não é assim?

Pedro: Creio que é como dizes.

Juca: Então, os fins da educação são muitos, já que os trabalhos para os quais as pessoas se preparam, também são muitos?

Pedro: Certo.

Juca: Na comparação com outros países, foi dito que o Brasil não tem educação de qualidade. Foi isso?

Pedro: Foi. Mas como saber se, de fato, não tem qualidade?

Juca: Seria necessário comparar não só a educação, mas a cultura de nosso povo, com o de outros países, pois a educação implica o comportamento em sociedade. Logo, os costumes de outros países seriam melhores do que os nossos, já que, como foi dito em aula, a nossa educação

é pior que a deles. Se a nossa educação é pior do que a deles, significa que a parte da educação que trata de aperfeiçoar as pessoas para o convívio em sociedade é falha e, por isso, nós, no Brasil, nos comportamos mal em relação aos nossos semelhantes, e que nos outros países supostamente melhores as pessoas se comportam magnificamente melhor.

Pedro: Não creio nisso. E, além desse aspecto da educação informal, seria preciso medir também da outra parte da educação, aquela que prepara para a ciência e para o trabalho. E isso tudo parece bem difícil de saber com plena certeza para dizer que a educação de qualidade é um conceito válido.

Ivanor-ArtigosJuca: Talvez seja um conceito válido, mas quando alguém fala em “qualidade” pensa em uma coisa; outra pessoa, ouvindo a mesma palavra “qualidade”, pensa outra coisa, e assim acontece com todos, embora cada um julgue que se trata de um mesmo conceito. Mas, como os conceitos são construídos com outros conceitos falar em qualidade da educação é algo desconcertante. Todo país tem educação de qualidade, mas cada um à sua própria maneira. Como comparar então? É possível saber, Pedro, mas dá trabalho e exige pesquisa.

E acabou o intervalo.





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