Quem olha para o passado da política brasileira encontra uma variedade de discursos que prometem mudanças. O verbo “farei” é um dos mais destacados na boca de políticos que trovejam em palanques nos momentos em que buscam votos.
[dropcap]A[/dropcap]tualmente as pessoas têm tido um fiapo de esperança nas conquistas trazidas pela justiça na caça ao mal feito da política. É uma briga interessante, mas os contendores começam a mostrar suas armas e parece que o abafamento ou a explosão são as duas possibilidades que se apresentam. A pergunta é: haverá continuidade das investigações a ponto de explodir o sistema de corrupção, que desfila todos os dias na imprensa; ou haverá um “deixa pra lá”, tão comum entre nós brasileiros?
A situação atual dos brasileiros se assemelha ao de um doente que está internado: situação de desconforto. Ele sabe que precisa de tratamento, mas quer passar logo por ele e se ver livre novamente para voltar para casa. De igual modo, a profusão de notícias a todo momento, embora importantes e necessárias, começa a anestesiar a sensibilidade média do brasileiro. Na média, parece não surtir efeito as informações a respeito de mais alguns milhões surrupiados desta ou daquela estatal, em proveito deste ou daquele partido político.
Por outro lado, a sensação de medo cresceu muito. Medo, não tanto quanto no período militar (1964-1985), mas, em alguns casos, até maior. A confiança na democracia diminuiu um pouquinho ao saber pela imprensa que um dos poderes, o Legislativo, é ocupado por políticos que se tornaram réus em ações judiciais. Que o outro poder, o Executivo, está por demais comprometido com problemas semelhantes e que alguns (felizmente poucos, ao que parece) do poder Judiciário parecem dar mostras de estarem mais preocupados consigo mesmos do que com a Justiça, como se viu no episódio atual da suposta (eu disse, SUPOSTA) intimidação a jornalistas do Gazeta do Povo, no Paraná (http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/imprensa-nacional-repercute-acoes-de-juizes-contra-a-gazeta-do-povo-1ac30dakor7td4vfdszivj0oo)
O medo aumenta quando a opinião das pessoas é censurada pelo fato de ser contrária ao que pensam alguns mandatários de qualquer dos três poderes. Censurada e solicitadas explicações. Medo que aumenta com escutas de todo tipo, gravadas e divulgadas aqui e acolá. Ambiente no qual é gerada uma sensação de espionagem pulverizada, pois são gravações que vão do bate-papo ao telefonema. Medo pela postura de alguns que em entrevistas condenam ações policiais, mas fecham os olhos para a criminalidade atroz. Enfim, chega a dar calafrio quando pensamos na pergunta de Norberto Bobbio, algo assim: quem controla os controladores?
A palavra oposta ao medo é Confiança. A confiança não está de todo perdida, mas seguramente abalada. A imprensa sendo prensada para não divulgar notícias, com jornalistas tendo que se explicar; os poderes da República, em parte tomados por interesses privados; funcionários zelos misturados com outros mais preocupados com o próprio umbigo e a aparente falta de vergonha de algumas autoridades de alto poder, põem a confiança bem próxima do desalento e do desencanto.
Imaginar que tudo se acabe e tenhamos um País melhor depois disso tudo, é imaginar, nada mais. Louve-se o trabalho da Justiça, sim, mas não nos esqueçamos que ela é parte do Estado Brasileiro e tem que lutar com grupos poderosos demais para serem facilmente movidos de onde estão, há séculos. A luta é diária.
Tomando de empréstimo a afirmativa de Karl Marx, para quem “o Estado moderno nada mais é do que um comitê para gerir os negócios comuns da classe burguesa”, compreendemos as razões porque aparecem, agora, algumas empresas e seus respectivos empresários envolvidos em ações ilícitas. Grandes políticos e importantes partidos associados com empresas privadas são mostrados todo dia com envolvimento em ações de desvio de recursos, entre outros problemas. Evidentemente que os eleitos para governar o Estado brasileiro não vão contrariar os interesses de pessoas que os ajudaram a se eleger. E aí está um dos motivos porque partidos e políticos de diferentes matizes e que mesmo sendo adversários entre si, aparecem com os mesmos problemas.
A questão básica em tempos de eleição é conseguir recursos para as campanhas. Quem tem dinheiro são os grandes empresários, eis uma das fontes. Ora, no geral, as empresas não dão dinheiro a fundo perdido, pois do dinheiro que aplicam esperam retorno. Então, se faz necessária a reforma política que mude isso. Mas a reforma só pode ser feita por políticos eleitos para os cargos do legislativo. Como alguns deles estão comprometidos com o sistema atual, não parecem animados a realizar verdadeiras reformas. Donde se concluir que há muita reforma nos discursos desses políticos, mas pouca ou nenhuma mudança na configuração legal que permita de fato mudar. Quando mudam, é para ficar como está.