Por Ivanor Luiz Guarnieri
[dropcap]A[/dropcap] Literatura fornece quadros teóricos aos que são atentos aos escritos. Aparentemente, os livros de literatura servem para divertir. Isso é válido, mas insuficiente.
Nesse momento, você que me lê e eu que escrevo nos comunicamos por meio da organização de 26 letras, dispostas em textos impressos ou em telas de computador. Podemos saber o que pensavam os homens de milhares de anos atrás, por meio da leitura. Novamente as 26 letras de nosso alfabeto como intermediárias entre nós e eles.
De que serve conhecer ideias de homens de um passado longínquo? Procuremos responder essa questão.
Segundo a mitologia egípcia, teria sido o deus Toth quem ensinou aos egípcios o uso da escrita. Deus arquivista que era ensinou aos homens o uso dos hieróglifos. Desde então os homens tiveram algumas facilidades em saber o que acontecia em lugares e tempos distantes, pois a memória humana, até então única em guardar informações sobre a história, foi gradativamente substituída pelos textos.
Os textos permitem levar história e conhecimentos em toda parte. Na dúvida sobre alguma informação, basta voltar a eles. Tem sido assim ao longo dos séculos.
Além de tentar reproduzir em palavras escritas aquilo que acontece, os seres humanos julgaram importante expor suas ideias sobre diferentes assuntos. Nasce disso, entre outras coisas, a Filosofia. A Filosofia Grega começa indagando-se acerca da natureza, ou seja, da física (Physis em grego significa natureza). Com Sócrates (469-399 a.C) e os sofistas, as perguntas e respostas, os argumentos e exposições voltaram-se para a pergunta maior: que é o homem?
Além do conhecimento de coisas e das indagações sobre o humano, os escritos carregam desde sempre histórias inventadas. Fábulas, romances, tragédias, e uma infinidade de textos cujos enredos e narrativas se originam da mente criativa e inteligente de alguns, chamados de escritores.
A pergunta sobre a utilidade de conhecer o que pensavam e escreviam os homens do passado pode ser respondida pelo argumento de que, graças à escrita, o que eles afirmaram e fizeram foi lido ao longo dos séculos e serviu de base para construir teorias que estão presentes em nosso dia a dia.
Quem quer compreender o mundo atual, precisa ler o que é antigo. Mas o antigo que está atualizado no tempo presente. O mais óbvio exemplo disso é a Bíblia, antiquíssima, mas atualizada nas missas e cultos das igrejas cristãs. Mas como a Bíblia sempre foi objeto de interpretação, não estranhe o digno leitor se em algumas missas encontrar explicações que são fundamento da fé, tiradas essas explicações do trabalho atento e sublime de alguns homens do passado. De interpretações divergentes surgem contendas e novas igrejas, cada uma julgando que os fundamentos que defende são os verdadeiros e que quem defende o contrário está errado.
Tudo isso, Bíblia, interpretações, argumentos e ideias são passíveis de comunicação, entre nós, graças às 26 letras do alfabeto.
A profusão de escritos de toda ordem, como os escritos autointitulados de “literários”, existem graças à escrita. Para ter acesso aos textos basta baixar da internet (www.dominiopublico.gov.br) ou adquirir os livros. Isso é bem fácil. Mais difícil é desligar a TV é ir conversar com os homens do passado por meio de seus textos. Conversar sim, pois embora os livros pareçam só falar, quando se lê a mente do leitor faz dialogar o que está lendo com aquilo que ele próprio já conhece. Com isso, aguça seu espírito crítico, confirma ou nega o que sabe, e, principalmente, amplia sua visão de mundo.
Justamente o Mundo atual, construído ao longo de muitos e muitos anos de escrita e leitura requer de nós todos a leitura de textos de Formação. Qual deles? Ora, segundo Luis Fernando Verissimo, idade é aquele momento da vida no qual a pessoa olha para os livros de sua biblioteca e se pergunta: “qual deles não vou ler?” Então, como o tempo é escasso, convém selecionar os já consagrados para leitura (Dante, Drummond, Homero, Platão … nossa, a lista é grande), consagrados pois formaram nosso mundo.
Como lê-los? Aí talvez valha a afirmação de Leopoldo Waizbort ao comentar uma obra de Erich Auerbach: “O essencial está em toda parte”.
Voltando ao primeiro parágrafo deste artigo, como se disse, fiquemos atentos aos escritos em todas as suas partes, pois que a Literatura diverte, mas também instrui.