Eu era jovem, viviam em uma pequena cidade do Paraná, Palmas. Era a década de 80, na qual a internet chegaria ao Brasil, apenas ano de 1988. Mas, a internet não chegou chegando; chegou aos poucos, como as águas dos rios que começam lentamente a partir dos córregos e aos poucos se avolumam em grandes correntes.
Dito isso, lembro que o ano de 1985 foi declarado Ano Internacional da Juventude. Nada mal para mim que estava com 19 anos. Porém, nunca entendi qual o benefício de ser Ano Internacional da Juventude. E daí? Isso não adiantava em nada para quem é pobre e com dificuldades de acesso aos estudos nas precariedades de uma cidade, Palmas – Pr., chamada de “capital da cultura”, por ter a única faculdade num raio que abrangia o sudoeste todo e parte do oeste de Santa Catarina. Naquele tempo, os livros eram quase só a única opção para quem queria conhecer algo que fosse além das fronteiras interioranas.
Também era moda, naquele tempo, jornalistas e assemelhados irem à Cuba, entrevistar Fidel Castro e, na volta, editarem livros com os resultados do que viram e ouviram. Desse modo procederam Joelmir Beting, que escreveu “Os juros subversivos”; Frei Betto, autor do livro “Fidel e a religião”, e Fernando Morais, autor de “A Ilha”.
A tônica era quase sempre a mesma: Fidel sabe das coisas, é um contraponto importante aos Estados Unidos, e podemos aprender muito com ele. Em sendo assim, Joelmir Beting aprendeu com Fidel Castro que a América Latina já havia pago sua dívida externa várias vezes, e que, de certo modo, nós somos credores dos países ricos e não seus devedores.
Frei Betto, que conhecemos das campanhas do PT e em favor do Presidente Lula, defendia em “Fidel e a Religião” que havia liberdade religiosa na ilha. E o escritor Fernando Morais, em “A Ilha”, faz elogios à Cuba (e, consequentemente aos seus dirigentes), com ares poéticos, dizendo, por exemplo, que quando chegou no aeroporto daquele país ouviu uma música de Roberto Carlos que tocava no sistema de som, o que era indício sugerido de abertura cultural e outras informações ‘muito valiosas’.
Eu ia bem, nessas leituras, que cito aqui de memória, já que os livros ficaram no Paraná, tal qual minha juventude que por lá se consumiu. Ia bem, até que um dia tomei de empréstimo o livro “Contra toda a esperança”, do poeta cubano Armando Valladares. Quem quiser conferir: http://www.hlage.com.br/E-Books-Livros-PPS/ContraTodaEsperanca_ArmandoValladares.pdf.
Armando Valladares conta sua vida em Cuba, perseguido pelo regime de Fidel Castro. Segundo ele, as celas onde estavam os presos políticos tinham grades no teto, por meio das quais eram jogados baldes de coco e xixi, além de outras torturas típicas de ditaduras aplicadas contra quem pensa diferente dos que estão no poder.
Os apaixonados pelo regime cubano, como alguns professores meus, começaram a dizer que Valladares era agente norte americano infiltrado, ou que era mentira o que dizia, enfim, procuravam ataca o poeta chamando-o de mentiroso. Mas os ferimentos na perna, as cicatrizes, e as celas estão lá, como ele havia dito.
A partir dessa leitura comecei a desconfiar que havia algo de errado no que diziam nos livros. Seus autores, na mesma medida que afirmam que Cuba é maravilhosa, preferem continuar vivendo no “inferno” Brasil. Por que será? Bem, isso que escrevo, aqui, parece ataque pessoal, e então vou mudar de assunto, pois não melhoramos nada se atacamos pessoas e não ideias.
Em sendo assim, minhas ideias foram cada vez mais firmadas na convicção de que a Democracia, e apenas a Democracia, vale a pena. De que não há possibilidade de ditaduras serem boas. O poeta Valladares pergunta em seu livro: como imaginar que alguém fique tanto tempo no poder sem perseguir opositores e cometer abusos?
De fato, o Brasil só está mudando, e para melhor, com a Democracia. Ou você acha que haveria algum político ou empresário corruptos presos se vivêssemos num regime ditatorial? Talvez estivéssemos sendo censurados e sequer internet livre teríamos. Quanto de liberdade Fidel Castro Castrou? Viva a Internet e a possibilidade de se avolumarem informações como de um grande rio chamado Liberdade de opinião.
Se alguém disser que Fidel Castro foi um mal necessário, pois o governante por ele deposto, Fulgêncio Batista, era ainda pior, lembro que um erro não justiça outro. Lembro, também, que o mal nunca é necessário, o Bem é necessário.